O duelo entre Renan e Temer
O presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), e o vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer, protagonizaram, nesta quarta-feira (16), uma troca pública de farpas que expôs, mais uma vez, o profundo racha no maior partido da aliança governista.
Temer, como se sabe, vem se distanciando do governo Dilma e apoiando o impeachment, enquanto Renan tem atuado para que o Senado seja uma espécie de porto seguro para a petista. Para o governo, "é uma guerra aberta" que leva ainda mais preocupação ao Palácio do Planalto.
O motivo público do duelo entre os dois caciques peemedebistas foi a decisão do PMDB de obrigar que novas filiações ao partido sejam submetidas ao crivo da direção partidária. Há uma disputa entre os dois grupos, o oposicionista e o governista, pela liderança do PMDB na Câmara.
Os governistas tentam atrair mais deputados para o partido e, assim, fazer maioria para manter Leonardo Picciani na liderança. Já os oposicionistas elegeram Leonardo Quintão e querem mantê-lo no comando da bancada. O grupo de Temer, oposicionista, acusa Renan de trabalhar para levar deputados para o PMDB a fim ajudar o governo a manter Picciani na liderança.
Perguntado sobre o assunto, Renan disse que Michel Temer tem responsabilidade pela crise no partido e criticou a decisão de filtrar novas filiações ao partido.
"Um partido democrático, que não tem dono, que se caracteriza por isso, fazer reunião para proibir a entrada de deputado, isso é um retrocesso que deve estar fazendo o Dr. Ulysses tremer na cova", disse Renan em entrevista.
Em nota que não é assinada por Michel Temer, a executiva do PMDB responde: "o PMDB não tem dono. Nem coronéis" e observa que a decisão foi tomada por 15 votos contra dois na Executiva do partido. E também cita Ulysses Guimarães:
"Qualquer jovem peemedebista sabe que seu desaparecimento se deu em um acidente em Angra dos Reis, em 1992. Seu corpo repousa no fundo do mar e devemos manter o respeito à sua história e sua memória, sem evocar seu nome em discussões que em nada enobrecem seu exemplo de retidão, honestidade e decência para todo o PMDB."
Renan Calheiros também critica a postura do PMDB na aliança governista e recorda que, quando foi chamado para participar da coordenação política do governo, o que aconteceu neste ano, "o partido se preocupou mais com o RH", disse numa referência à disputa por cargos que envolveu o partido, até que Temer deixou a coordenação política e, mais recentemente, o ministro Eliseu Padilha, a ele ligado, deixou o governo. Em conversas com aliados, Renan não tem poupado críticas à atuação de Temer no comando do PMDB.
Renan e Temer nunca foram os melhores amigos, mas sempre conviveram dentro do partido. Recentemente, Renan tem se aproximado do governo e já declarou que o impeachment não é o melhor caminho para o país. Já Temer está envolvido com o impeachment e tem se afastado do governo.
O duelo entre os dois é mais um motivo de preocupação para o governo. Ao longo de 2015, mesmo com a crise forte, o governo pôde contar com o PMDB quase todo unido; a divisão gera mais instabilidade e, sobretudo, menos votos para o governo em plenário, sobretudo na Câmara.
Cristiana Lôbo
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