sexta-feira, 20 de maio de 2022

Quem foi Francisco das Chagas Almeida Soares - Almeida Galhardo

 1948, O ACIDENTE AÉREO QUE ABALOU SÃO LUÍS

As últimas horas do poeta Almeida Galhardo
por EUGES LIMA (historiador, professor e membro efetivo do IHGM)

6 de agosto de 1948... Almeida Galhardo estava no seu quarto, pensativo, na república onde morava, no centro de São Luís, compondo mais um de seus sonetos. Seu plano, era em breve, assim que conseguisse recursos financeiros suficientes ou apoio, publicar seu primeiro livro de poemas, alguns já bem conhecidos, como Cruz de Ouro e Gaiovotas, publicados anteriormente em jornais da cidade. Quando de repente, chega uma carta vinda da sua cidade natal - a longínqua e paradisíaca Tutóia - informando que sua mãe, Dona Joaquina, não passava nada bem e teria ido com urgência para a cidade de Parnaíba, no Piauí, em busca de auxilio médico.
Nos anos de 1940, rodovias no Maranhão eram coisas raras e principalmente na região do Baixo Parnaíba, praticamente não existiam, o transporte corrente era o marítimo... Barcos, navios... A maneira mais viável e rápida de ir visitar sua mãe enferma, era pelo ar, Galhardo, então, já naquele momento aviador do estado do Maranhão, pede emprestado ao deputado estadual Januário Figueiredo, seu avião monomotor “Aeronca” P.P. – R.Z.P. Camocim.
8 de agosto... A aeronave não era nova e precisava de revisão, por isso, Galhardo, convida seu amigo e colega de Aeroclube, Betinho Chaves (Alberto Augusto Fontoura Chaves) para juntos revisarem o avião.
16 horas... Após o trabalho de revisão pelos pilotos, já durante à tarde, eles resolvem testá-lo e escolhem sobrevoar o então povoado da Forquilha (hoje, Bairro da Forquilha), então, área rural de São Luís, pois lá residiam algumas garotas conhecidas dos pilotos.
No momento que o avião “Aeronca” P.P. – R.Z.P. Camocim, pilotado por Almeida Galhardo e tendo como copiloto Betinho, sobrevoava o povoado da Forquilha, os pilotos são surpreendidos com uma pane no motor, desestabilizando completamente a aeronave. Mesmo com todas as tentativas da tripulação em recuperar o controle do aparelho, todos os esforços foram inúteis, caindo assim, vertiginosamente a aeronave em parafuso, direto no solo, em meio a uma roça da região. A carcaça do avião ficou completamente danificada.
Após o desastre, o poeta Almeida Galhardo, não resistiu e faleceu na hora com o impacto do avião no solo, no entanto, seu colega Betinho, ainda foi retirado dos destroços com vida, porém, não resistiu aos ferimentos e morreu ao dar entrada no pronto socorro.
Quando a noticia do acidente trágico dos dois jovens pilotos se espalhou pela cidade, São Luís foi tomada por uma grande comoção, provocada pela tragédia em si, mas também pela juventude das vitimas. Almeida Galhardo tinha apenas 26 anos, era jornalista, cronista esportivo - entusiasta do futebol maranhense -, poeta em ascensão e piloto de avião. Fazia apenas um ano que tinha recebido o seu brevê. Já era bem conhecido no meio jornalístico e cultural da cidade, era membro do CCGC (Centro Cultural Gonçalves Dias), uma das mais importantes agremiações literárias da juventude ludovicense desse período.
A comoção foi geral, houve manifestações de pesar de vários poderes, legislativo estadual, municipal e executivo, sendo designados representantes para acompanhar o funeral. As famílias das vitimas receberam condolências formais das autoridades políticas. O velório dos dois amigos se deu na residência de Betinho, na Rua de Santana, n.º 478, próxima a uma fábrica de velas. De lá, saíram em cortejo fúnebre em direção ao Cemitério do Gavião, na Madre Deus, onde estão sepultados. Várias autoridades acompanharam o cortejo, inclusive, o então governador do estado, Sebastião Archer, além de um grande número de amigos e populares. Este ano, no dia dois de dezembro, será comemorado o centenário do poeta Almeida Galhardo, no dizer de Lago Burnett, “o poeta das gaivotas”.
Os personagens
Francisco das Chagas Almeida Soares – Conhecido pelo pseudônimo de Almeida Galhardo, nasceu no dia 02 de dezembro de 1922, em Tutoia, Maranhão, era filho de Pedro Soares e Dona Joaquina de Almeida Soares. Residia em São Luís desde os 14 anos, quando veio estudar no Seminário Santo Antônio. Em 1943, deixou o seminário e seguiu carreiro como jornalista, cronista esportivo, poeta (centrista), ligado ao CCGD e mais recentemente como aviador. Era solteiro, não deixou filhos.
Alberto Augusto Fontoura Chaves – Chamado pelos mais íntimos de Betinho foi da mesma turma de Almeida Galhardo no curso de piloto no Aeroclube do Maranhão, era funcionário do Banco do Maranhão e piloto de avião.
Pedro Luiz Soares – Pai de Almeida Galhardo, funcionário público, residia em Tutóia Maranhão e era muito religioso, frequentador assíduo da igreja e sempre auxiliava os padres da cidade.
Joaquina de Almeida Soares – Mãe de Almeida Galhardo, dona de casa e muito religiosa.
Januário Figueiredo – Deputado estadual e proprietário do monomotor “Aeronca” P.P. – R.Z.P – Comocim.
Um dos mais famosos poemas de Almeida Galhardo
GAIVOTAS
Gaivotas do azul, veleiros do infinito...
Que possuis o adeus nas asas de alabastros,
Da saudade de vós sois os luminosos rastros,
Perdidos na amplidão que extasiado fito...
Calmas, singrais os céus entre espumas dos astros...
Velas pandas do amor pampeiros do meu grito...
Poesias trazeis como em divinos astros.
Nos remígios de luz mais fortes que o granito.
E vós rasgais os céus, sem rota e sem destino...
Beduíno vós sois do belo auri divino,
Enchendo a imensidão de versos e de ritos.
Saúdo-vos daqui da tenda dos meus sonhos
Sentido-me feliz a vos fitar, risonho
Gaivotas do azul, veleiros do infinito.




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