segunda-feira, 27 de março de 2023

Baú Memória e acirradas disputas politica em Tutóia.

  

ANTÔNIO JOSÉ NEVES RODRIGUES, O ANJO - Antônio José Neves Rodrigues nasceu em Tutóia, a 10 de julho de 1925. Filho de Delmar Rodrigues e de Adalgisa Neves Rodrigues. Ele, parnaibano, filho de Delbão Francisco Rodrigues e de Horonina Rodrigues, ambos donos de salinas em Tutóia.

 Ela, tutoiense, filha de Paulino Gomes Neves, considerado o fundador de Tutóia Nova, e de Maria José de Gallas Almeida Neves.

Antônio José Neves Rodrigues era irmão do padre Jocy Neves Rodrigues (falecido), de Maria de Lourdes Neves Rodrigues e de Terezinha de Jesus Rodrigues Pereira (falecida).

O primário estudou em Tutóia. Seguiu para São Luís. Estudou três anos no Seminário Santo Antônio, depois no Colégio Marista e Colégio São Luís, do professor Luís Rêgo. Foi trabalhar na loja Ford, do Grupo Moraes. Conheceu a jovem oeirense Maria Siqueira, com quem casou e teve o filho Delmar Neves Rodrigues.

Retornou a Tutóia. Candidatou-se nas eleições de 3 de outubro de 1955, pela UDN, tendo como vice Antônio José de Oliveira - Antônio Severo.

O adversário era Felipe de Almeida Ramos, poderoso comerciante do Rio Novo (hoje Paulino Neves), que tinha como vice Celso dos Santos Véras, os vencedores, com a cumplicidade do juiz da comarca Pérsio Martins da Silveira, primo, protegido e indicado por Lister Segundo da Silveira Caldas, deputado federal e do grupo de Nemésio Gomes Neves, que os apoiava, juntamente com o senador Vitorino Freire. 

Antônio José Neves Rodrigues nunca deixou de dizer que o juiz anulou urnas de redutos que lhe eram favoráveis.

Felipe de Almeida Ramos e Celso dos Santos Véras assumiram a 31 de janeiro de 1956.

Nas eleições de 3 de outubro de 1960, Antônio José Neves Rodrigues, tendo como vice José de Almeida Véras, concorreu com Celso dos Santos Véras, que teve como vice José de Matos Silva. Estes perderam nos votos, mas ganharam no tapetão.

No dia da votação, contratados por um deputado estadual, pistoleiros chegaram a Barro Duro. Por volta das 11 horas, quatro jipes, com eleitores do povoado Jardim, receberam rajadas de metralhadoras e de outras armas de grosso calibre a cerca de dois quilômetros da sessão. Atingida na cabeça, morreu Maria Zuleide, 18 nos de idade, que votaria pela primeira vez. Um dos assassinos manteve ato sexual com o cadáver. 

Ação foi protocolada junto ao juiz da comarca de Chapadinha, que respondia, temporariamente, pela comarca de Tutóia.

O caso foi levado ao TRE, que confirmou a decisão do juiz da Comarca de Chapadinha, conforme podemos ler pela nota publicada no jornal Correio Braziliense, de 13 de novembro de 1960, página 3, a respeito do que ocorreu naquele pleito:

“Diplomação anulada - São Luís (Meridional) - Foi declarada sem efeito a diplomação do prefeito e vice prefeito de Tutóia, srs. Antônio José Neves Rodrigues e José de Almeida Véras. Provocou a decisão do TRE um recurso do PSD. Foi anulada a votação da 5a secção daquele município. Mas não haverá suplementares, estando, em consequência, assegurada a eleição e diplomação dos outros candidatos, srs. Celso dos Santos Véras e José de Matos Silva”.

Neste meio tempo, um boato deixou todo mundo de orelha em pé. O mesmo bando que havia emboscado os eleitores e assassinado Maria Zuleide havia sido contratado para matar Antônio José Neves Rodrigues, que viajou imediatamente para Teresina, sob a lona da carroceria de um caminhão, carregado de sacas de babaçu. De Teresina, seguiu para o interior de São Paulo, onde residiu mais de dez anos. Ali trabalhou como empresário de artistas, um deles Luís Bordon, o Rei da Harpa Paraguaia, considerado um dos maiores solistas em toda a história deste instrumento. Até que, 12 anos depois, já com a poeria assentada, ele retornou a Tutóia.

Celso dos Santos Véras e o vice José Matos da Silva, tomaram posse a 31 de janeiro de 1961, porém, após quatro meses, o titular licenciou-se e não manifestou interesse em reassumir o cargo. José Matos da Silva concluiu o mandato, encerrado em 10 janeiro de 1966.

Nas eleições de 15 de novembro de 1972, Antônio José Neves Rodrigues candidatou-se pela terceira vez à Prefeitura de Tutóia, tendo como vice José Mariano, liderança do povoado Porto de Areia. Ambos pela Arena II.

Apesar de tanto tempo afastado, ainda mantinha viva a imagem junto aos correligionários, que prometeram empenho na campanha. 

Iria enfrentar Manoel de Jesus Silva, o Manoel Braulino, também veterano em eleições, tendo como vice Felipe de Almeida Ramos, ambos pela Arena I.

A disputa foi acirrada, com vitória de Antônio José Neves Rodrigues, que obteve 2.210 votos, contra 2.149 votos dados ao adversário Manoel Braulino.

Antônio José Neves Rodrigues assumiu a 31 de janeiro de 1973.

A primeira preocupação foi organizar a velha e desarrumada máquina administrativa. Inaugurou o sistema de abastecimento d’água potável pela Caema e o de iluminação elétrica permanente pela Cemar, concluiu a primeira etapa do Hospital Lucas Véras, deixando-o em condições de funcionamento, dispensando o velho prédio alugado, onde operava precariamente, e pavimentou, com pedra, a Rua da Barra (Avenida Magalhães de Almeida). Maior destaque da administração foi o apoio que deu ao folclore, destinando recursos para a formação de um arraial, onde foram concentradas todas as manifestações populares, como o bumba meu boi, a dança do caroço, entre outras. Ele explica que a iniciativa foi originada das andanças pelo país, vendo que cada cidade tinha sua festa tradicional, fazendo a felicidade do povo.

Em 1974, o prefeito de São Luís Haroldo Tavares lançou o Projeto Mirante, objetivando conciliar o futuro com as tradições da cidade. Para atrair a atenção das pessoas, lançou diversos concursos folclóricos e populares. A turma do Pasquim, jornal de humor da época, editado no Rio de Janeiro, foi convidada para o júri. Entre eles e outros convidados, estavam Sérgio Cabral, Ziraldo, Fortuna (cartunista maranhense), Olga Savary, Pelão, Cacá, Nara, Sônia Neder e Mary Ventura.

O prefeito de Tutóia Antônio José Neves Rodrigues (31 de janeiro de 1973 a 31 de janeiro de 1977) levou a dança do caroço para se apresentar em São Luís, sob o comando de dona Elza. Concorrendo com mais 15 manifestações folclóricas, a dança do caroço foi classificada em primeiro lugar. De imediato dona Elza passou a receber convites para se apresentar no sul do país. Teve apresentação em São Paulo, para seguimento estudantil, e no programa Brasil Legal, da Rede Globo, o que atraiu o olhar de artistas como Regina Duarte, que visitou Tutóia Velha só para vê-la dançar, ficando encantada com a riqueza do vestuário, a leveza e a espiritualidade da grande dançarina.

Vejamos duas crônicas publicadas no jornal O Pasquim, pelo Sério Cabral e Ziraldo, falando da dança do Caroço:

Diário Turístico de Sérgio Cabral, O Pasquim, edição de 23 a 30 de setembro de 1974, página 3: “As pessoas que pensam que folclore é chato, devem ir ao Maranhão. Cada manifestação que aparecia era um espetáculo mais bonito e mais animado do que tudo que a gente vê, por exemplo, na televisão. O grande sucesso da noite ficou por conta do grupo que apresentou a dança do caroço. Nem o pessoal de São Luís conhecia aquilo. Os caras são de uma cidade chamda Tutóia, lá no norte do Maranhão, que não tem qualquer comunicação com o resto do Estado. Para chegarem a São Luís, foram de barco até Parnaíba, no norte do Piauí, onde pegaram a estrada para Teresina e, de lá, viajaram de ônibus para São Luís. Segundos depois de iniciarem o seu número de dança, todo o público e o júri estavam em delírio, aplaudindo e berrando feito desesperados.  Tem coreografia, tem erotismo, tem o diabo. Viva a dança do caroço!”

Conheces o Maranhão (III), Ziraldo, O Pasquim, edição de 23 a 30 de setembro de 1974, página 26: “E a dança do caroço? A impressão mais marcante de nossa viagem, mesmo com os sobradões de azulejo de São Luís e o impacto de Alcântara, foi a dança do caroço. Nem os maranhenses - parados num folclore - conhecia ela. O Sérgio Cabral fala dela no seu Diário. Mas, eu quero falar mais. O grupo foi trazido de Tutóia Velha, distrito do município de Tutóia, pelo prefeito Luís Antônio (na verdade: Antônio José Neves Rodrigues). Tutóia só tem acesso por mar ou por táxi aéreo. Por terra, é uma lenha - o Sérgio conta. 

O irmão do prefeito, que é padre (Jocy Neves), percebeu algumas informações sobre a dança, entre uma comunidade de lavradores - plantadores de mandioca - de Tutóia Velha.

Pausa para uma informação etnológica (será que é etnológica mesmo?): essa gente - se sabe - é descendente direta de índios teremembés. Guardam essa evidência na pureza dos seus traços fisionômicos, na cor da sua pele, na lisura e presteza dos cabelos, na cadência dos gestos. E mais: sempre à beira do mar. E, como todo índio brasileiro, jamais pescou em água salgada. Do mar, só guardam o medo e o mistério.

Pois o padre percebeu tambores muito velhos guardados em um outro casebre, ouviu cantos e descobriu a Edna (na verdade dona Elza) - uma cabocla de 33 anos, mãe de um rapaz de vinte - que era filha e neta de louvadeiras (louvadeira era a mulher que puxava o canto e dirigia a coreografia). E Edna se lembrou de todas as canções do seu tempo de menina. E alguns velhos - o Pedro e a Maria: “minha vó foi pegada a dente de cachorro no meio do mato” - se lembraram dos tambores e da batida. E restauraram a dança. E ela já estava no sangue. E todo mundo reaprendeu.

A dança é descritiva. Seu tema central é sempre a conquista amorosa. A coreografia é determinada pela letra da canção. Eles começam chamando a mulher - Mariquinha - depois a contar suas aventuras, viagens lindas pelo mar, onde nunca se aventuram, e, no final, inventam de derrubar uma caixa de marimbondo, que é uma das desculpas mais esfarrapadas para as mulheres levantarem as saias até a cabeça, coçar “as baixeiras”, como me informou uma delas, e todos se esfregarem uns nos outros. Não se pode dizer que a coreografia é rica. Há requebros de cadeira, olhares cupidos, gestos insinuantes, e rodeios e rodopios, num passinho miúdo, numa cadência bem primária. As letras são maravilhosos exemplos de arte popular, perfeitas.

Será que eu descreví bem? Tou com medo de ter ficado muito sério. A verdade é que eu me encantei com o caroço. Acho que valia a pena fazer um filme com eles. Jamais trazê-los aqui, para uma demonstração, como se pensou na hora da empolgação. Deixa eles lá. Eles são felizes, quando estão dançando!” 

O prefeito Antônio José Neves Rodrigues iniciou a construção de um colégio, concluído na primeira administração do prefeito Merval de Oliveira Melo, que o homenageou dando, ao educandário, o nome de Grupo Escolar Antônio José Neves Rodrigues. 

A inauguração estava marcada para o 17 de maio de 1977. Infelizmente não houve inauguração. O dia ficou marcado por tragédias, brigas e muitas confusões. Só se ouvia e via pessoas aterrorizadas, muitos choros e tristeza. 

 Considerado o melhor e mais bonito Colégio da região com quatro salas de aula, quatro banheiros, secretaria, deposito e sala dos professores, com uma grande área para recreação e jogos. Depois foram construídas mais sete salas de aulas.

As aulas só foram iniciadas dia 2 de junho de 1977. O Colégio teve 13 diretores, 4 homens e 6 mulheres. Alguns com repetência.

O primeiro diretor foi Constantino Ferreira da Cruz. A segunda pessoa a dirigir o Colégio foi Ana Diniz, que veio de Tutóia. Ana que mais tarde, por motivo político, foi substituída pela amiga de trabalho Terezinha de Jesus Paiva Santos, também de Tutóia. A quarta foi Ana Lopes, que veio de São Luís, parente do prefeito Merval Melo. Novamente Constantino Ferreira da Cruz. Depois, Joaquina Oliveira. Vicente Pereira filho foi o oitavo diretor, Jorgiane Santos, o nono, Socorro Corrêa, a decima, Jorgiane Santos, o décimo primeiro, mas somente na parte noturno de 5ª a 8ª série. Jorgiane Santos retornou novamente como diretor geral, Sendo o decimo segundo.

As primeiras professoras foram Eulília, Socorro Belar, Felicidade (Dadé), Zenilda, Maria das Dores e Hilda, que mais tarde, por motivo de doença, foi substituída pela filha Faraildes (Fafá).

As primeiras zeladoras foram Maria Mercês e Zoneida (Lourinha).

As primeira merendeira; Lurdes Ramos.

Primeiro vigia foi Batista Celina

Na parte de abastecimento de água foi Hecílio e Chixico.

Funcionou por alguns anos na Escola o Ginásio Unidade Integrada Brigadeiro Eduardo Gomes, liderado por Helito Vieira e os professores Vicente Pereira filho, Irapuã Cruz, Baê Cruz, Ana Luiza, Raimundo Xavier e Joaquina Oliveira.

De 1977 a 2004, o Colégio teve 169 funcionários. Em 2004, 698 alunos, 30 professores, seis zeladoras, dois Agentes Administrativos um vigia e dois Diretores.

Em 2004, o Colégio comemorou 27 anos de existência nos proporcionando educação e alegria. 

Em 2009, na Administração do prefeito Diringa, foi nomeado gestor da Escola Marco da Hora, que conseguiu, com a secretária da Educação Daisy Baquil, fazer uma grande reforma e ampliação do mesmo, que estava numa situação precária; foi construído um Laboratório de informática, um depósito novo, cinco novos banheiros, cantina, foi colocada cerâmica em todo o prédio, com uma área onde são feitas as reuniões com pais e metres e todos os eventos do educandário. Para melhor segurança a todos, a área foi toda murada. Os professores passaram a atuar na própria área de ensino. Os alunos tiveram outro olhar, tratados como cidadãos críticos, participantes e atuantes na sociedade. Gestor, professores, funcionários e comunidade comemoram no dia das Mães os 34 anos da fundação do colégio, organizado e de qualidade.

Antônio José Neves Rodrigues casou-se, em segundas núpcias, com Darli, com quem teve os filhos José Carlos, José Henrique, José Antônio, Cristina e Maria Aparecida.

Casou-se, em terceiras núpcias, com Maria, com quem teve o filho José Roberto.

Faleceu em Tutóia, na tarde de sexta-feira de 3 de junho de 2016, aos 92 anos, de causas naturais.

Fotos

Antônio José Neves Rodrigues.

Delmar Rodrigues e Adalgisa Neves Rodrigues - Sinhazinha, pais de Antônio José Neves Rodrigues.

Antônio José Neves Rodrigues, vereadora Almerita Frota (ex-esposa de Zilmar Melo Araújo), Merval Melo (ao microfone) e Josecílio Araújo Silva (Zé Ourives).

Manoel de Jesus Silva (Manoel Zuzu), Antônio José Neves Rodrigues (ao microfone), Merval Melo, sentado, e o vereador Tote

Antônio José Neves Rodrigues com José Henrique e José Antônio, filhos com a segunda esposa Darli.







.Informações; Kenard Kruel



Nenhum comentário:

Postar um comentário