Quem paga a conta da nova tarifa de Trump?

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pode desencadear efeitos devastadores em setores-chave da economia do país e acender alertas sobre a estabilidade macroeconômica no curto e médio prazo.
A medida, anunciada nesta quarta-feira (9), atinge diretamente as exportações de petróleo, aço, carne bovina e café — todos entre os principais itens da pauta comercial entre Brasil e EUA. Também devem ser afetadas as vendas de suco de laranja e aeronaves, dois segmentos com forte presença no mercado norte-americano.
Além do baque direto sobre as empresas exportadoras, o impacto já se refletiu nos indicadores econômicos. O dólar disparou logo após o anúncio, evidenciando o nervosismo do mercado financeiro. Para o economista Robson Gonçalves, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o cenário é preocupante: “Se o dólar permanecer alto, a inflação no Brasil persiste e o Banco Central mantém os juros elevados — hoje em 15%, o maior nível em quase duas décadas. Isso desacelera o crescimento e pode empurrar a economia para uma recessão.”
Com o real desvalorizado, produtos importados ficam mais caros, o que pressiona ainda mais os índices inflacionários. A resposta clássica do Banco Central, o aumento da taxa de juros, desestimula o consumo e os investimentos, agravando o desaquecimento da atividade econômica.
Embora os reflexos mais diretos atinjam os produtores brasileiros, o efeito da nova tarifa também pode ser sentido nos Estados Unidos. O café, por exemplo, é um dos itens mais sensíveis. O Brasil é o maior fornecedor da bebida para os EUA — que, por sua vez, lideram o consumo mundial — com cerca de 8 milhões de sacas exportadas anualmente. O aumento do custo de importação pode pressionar os preços internos no mercado americano e gerar incômodo entre consumidores e setores da indústria alimentícia.
Com a imposição da tarifa, o governo brasileiro ainda não se pronunciou oficialmente sobre eventuais retaliações ou medidas diplomáticas. Nos bastidores, no entanto, há expectativa de que o Itamaraty e o Ministério da Fazenda atuem para conter o impacto e buscar uma via de negociação com Washington.