quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

TRADIÇÃO RELIGIOSA TUTÓIA VELA - TUTÓIA

 

TUTÓIA VELHA: Festejo a Nossa Senhora da Conceição

Dia 8 de dezembro é o dia em que os católicos celebram o dia de Nossa Senhora da Conceição.


Este mesmo 8 de dezembro é feriado instituído por lei municipal e a Santa celebrada como padroeira da Paróquia de Tutoia.


Foto: Autor desconhecido. A imagem vem sendo publicada em vários perfis da rede social de tutoienses (internet).

O Cruzeiro, mesmo tendo sofrido vários reparos ao longo dos séculos, continua lá, ornamentando o largo da pracinha defronte a igreja em Tutóia Velha. 


Foto: Elivaldo Ramos, 2017. 


 

Foto: Elivaldo Ramos, 2017. 


Em Tutóia a data é festejada no povoado Tutóia Velha. Uma tradição secular que se iniciou neste município, provavelmente no ano de 1722, por ocasião da ação de padres da Companhia de Jesus e o padre João Tavares, é citado em vários escritos como tendo sido o primeiro a aldear os índios Tremembés, sobreviventes ao extermínio promovido na colônia. 


Na povoação está edificada a Igreja Nossa Senhora da Conceição com uma arquitetura que guarda características do estilo barroco e foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Maranhão. A Igreja de Nossa Senhora da Conceição está entre uma das mais antigas do Maranhão - comprovado, inclusive, com registros históricos - figurando entre as mais antigas do país. A mais antiga igreja em homenagem à Santa (1534), está situada na Vila Velha, Ilha de Itamaracá, no Recife, no estado de Pernambuco. 


Para remeter o leitor ao período exato do início dessa igreja em Tutóia, insiro aqui um recorte de um trabalho de pesquisa que vem sendo realizado pelo escritor kenard kruel: 


Eis o que nos fala o historiador Renato Marques Neves(1): “Guerreados implacavelmente e dispersos pelas matas do continente, sen­tiram-se na vontade de serem aldeados com objetivo de preservarem sua nação do ex­termínio. De maneira que, em 1722, fo­ram aldeados e catequisados pelo padre João Tavares. Foram eles próprios que pediram ao Governador e Capitão Gene­ral João da Maia da Gama(2) o padre João Tavares, conforme provisão Régia de 24.1.1723. dirigida ao governador ora citado: “...mazque chegando vós, vos vierão vezitar como custumavão, e que depraticados vos decerão sequerião Aldear, e Baptizar os seus filhos, e vos pedirão o padre João Tavares da Compa­nhia de Jezus para seu Missionário com declaração de ser a Aldea no Rio Tamara(3) que fica entre os Lançoes grandes e pequenos, e que... “... que obrastes bem em mandar Aldear esta Nação dos Taramambes no sítio que ensinuáes, e em lhe dardes por Missionário ao Padre da Companhia de Jezus. que elles pedirão pois por este meio não só se pode conseguir a utilidade que apontais, mas mais essencial que he a salvação destes índios e sou ser­vido que...”.

O aldeamento se dá mediante as condições por eles exigidas. José Vidigal, em carta a El-Rei. de 9.6.1734, informava: “aldearam-se com pacto de não ser­virem, alegando que tinham visto brancos açoitarem os índios que servem. E no en­tanto serviam e eram úteis à Coroa na vigia da Costa”.

À sua antiga aldeia, locali­zada nos lençóis, deu-se o nome de Otoya (Tutóia), a atual Tutóia Velha, a Tutóia Colonial que ainda hoje existe.

O padre João Tavares era natural do Rio de Janeiro, nascido a 24 de junho de 1679. Entrou na companhia de Jesus a 11 de junho de 1697. Professor de 4 votos. Viera ao Maranhão como mestre de Filosofia e Teologia, lecionando durante seis anos, inclusive Gramática. Em São Luís foi Vice-Reitor do Colégio do Maranhão. Pelos idos de 1722 deu início à difícil tarefa de catequisar e aldear os Tremembés. Foi o primeiro padre a viver, morar, com os Tremembés.

Em 1728 recebeu a ajuda dos padres Luiz Ferreira e Luiz Barreto, que também passaram a conviver com estes ín­dios. Por ocasião do aldeamento criou a Missão dando-lhe o nome de Nossa Se­nhora da Conceição, para logo em segui­da “Nova Missão dos Tremembés de Nossa Senhora da Conceição”, dando assim início o que futuramente seria a atual Tutóia Velha, a Tutóia Colonial, situada na área dos Lençóis, às margens do Rio Tamara, “onde faz barra principal um dos braços do Parnaíba, chamado Santa Rosa e também Canal de Tutóia”.


No povoado Tutóia Velha, que no período Colonial foi chamado de Villa Viçosa e depois de Otoya, o padre João Tavares trabalhou com os índios, fez um sítio prosperar com a criação de gado. Sítio que recebeu o nome de Mayrin. Alguns o chamavam de "Mayrin dos Índios”(6), o próprio padre Hélio Maranhão o descreveu assim em um artigo de jornal (“Jornal do Maranhão de 26 de julho de 1964, página 3.), além de o ter inserido em um verso da “Aquarela de Tutóia''. 


O padre que iniciou a edificação da igreja de Tutóia Velha foi chamado de “O APÓSTOLO DOS TREMEMBÉS” pelo padre Hélio Maranhão que chegou a Tutóia na década de 60 e passou anos cuidando dessa paróquia. 


A Igreja de Nossa Senhora da Conceição pertence à Diocese de Brejo, Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, promovida a esta condição pela Resolução Régia de 18 de junho de 1757.  


O escritor Kenard acrescenta que: 

Padre João Tavares criou, segundo o padre Hélio Maranhão, “as condições para a fundação do primeiro quadro jurídico da estrutura da igreja de Deus no Delta”. Infelizmente, ele não pôde ver o templo construído. Faleceu, aos 64 anos de idade, em São Luís, a 11 de junho de 1743.

Veio o padre Lino Antônio Pereira de Sampaio, autorizado pela freguesia de Brejo, em 1815, a reparar problemas na estrutura física, mesmo tendo paredes em estilo rústico, feitas de “pedra e cal”, com espessuras bem largas.

Depois, vieram: José Luís, João Ferreira, Luís Barreto e José Dias Seabra, que foram tutores por vários anos dos índios Tremembés, intermediando a conquista dos bens (terra e gado), os quais foram depois possuídos por eles clandestinamente.

Quando a Tutóia Colonial - a Tutóia Velha - era a sede do município de Tutóia, a maior festa do município acontecia ali. Mas, por ocasião da mudança da sede municipal, no final do século XIX, empreendida pelo Coronel Paulino Neves para a Salinas - atual sede municipal -, o festejo ficou dividido em festejo da da Tutóia Nova (Nossa Senhora de Nazaré) e festejo da Tutóia Velha (Nossa Senhora da Conceição).


Aliás, Tutóia Velha realiza também, no mês de maio, o festejo do Divino Espírito Santo, outro significativo festejo da comunidade. 


Tenho a lembrança de quando criança quando meus pais assíduos frequentadores do festejo - minha mãe era “tiradeira” de novena; meu pai um pé-de-valsa. No encerramento do festejo - em que saímos do povoado onde nasci, Bezerro, em bando, uns à cavalo ou em mulas e outros a pé cortando veredas estreitas por entre “capões de mato”(7). 


O festejo ocorre anualmente, em novenário. São nove noites, que se iniciam em 30 de novembro com o tradicional levantamento do mastro - uma tora de madeira, geralmente retirada do manguezal do igarapé do Cangatã, por homens da comunidade que embrenham na floresta litorânea e escolhem a mais alta, frondosa e linheira das árvores de mangue que é trazida em canoas, em procissão aquática, ao som de caixas de tocar o caroço (festa tradicional), quando aportam no porto da comunidade é carregada nos ombros de dezenas deles até o largo da igreja para ser plantado em frente desta. O festejo se estende até 8 de dezembro, dia da padroeira da comunidade. Cada noite do festejo é dedicada a um grupo da comunidade, como as crianças, os professores, as famílias e os pescadores, por exemplo. Nos tempos idos essa festividade era acompanhada especialmente pelos intendentes e por autoridades municipais, respeito à tradição. 


Além do festejo de Nossa Senhora a comunidade também festeja o Divino Espírito Santo que acontece no mês de maio de cada ano. O festejo tem data móvel e pode ocorrer entre final do mês de maio e início do mês de junho de cada ano. Geralmente, finda no finalzinho do mês de maio. Nesta festa são levantados dois mastros. Essa é uma festividade cultural católica importante, sendo festejada em outros municípios maranhenses. Foi trazida para o Maranhão pelos portugueses colonizadores. 


Lembro ainda, que nas laterais da igreja era comum nos festejos antigos vários animais ficavam enfileirados e amarrados a troncos de madeira que eram utilizados para esta finalidade no último dia de festa, das pessoas que vinham de várias comunidades para a celebração. Além da pregação religiosa, ocorria a tradicional festa dançante com os chamados conjuntos de som. A festa era realizada em um local chamado de barracão, a luz que iluminava eram lamparinas à querosene ou lampiões a gás. 


Caroço de Dona Elza na Festa do Divino, ano 2019. Foto:Blog Elivaldo Ramos. Caroço dirigido pelo professor Wandercleison (natural do povoado Dendê). 


Via Elivaldo Ramos 

Nenhum comentário:

Postar um comentário