sábado, 15 de setembro de 2018

Mulheres marcham em Brasília contra onda de feminicídios no DF


De acordo com levantamento, são 22 mortes de mulheres este ano

“Vamos lembrar de Talita Silva Martins. Ela foi assassinada em casa pelo namorado. Teve o corpo amassado e incendiado na Samambaia. Talita, presente!”. O relato era uma referência à mulher assassinada pelo companheiro em 14 de maio na região administrativa de Samambaia, região administrativa do Distrito Federal, que fica a 30 quilômetros do centro de Brasília.
A fala foi feita na região central da cidade, em uma caminhada em que dezenas de mulheres protestaram contra 22 casos de feminicídio registrados somente neste ano na capital do país. O ato também teve como objetivo cobrar respostas contra o assassinato da ex-vereadora do PSOL do Rio de Janeiro Marielle Franco, alvejada por diversos tiros em um bairro carioca em março de 2018.
A manifestação foi organizada pelo movimento Plataforma Feminista, criado por diversas organizações e ativistas para pautar o combate à desigualdade de gênero nas eleições deste ano. As militantes se concentraram na rodoviária do Plano Piloto (nome dado à região central de Brasília) e caminharam até a Praça Zumbi dos Palmares, em uma das quadras do Setor Comercial Sul. Lá, acenderam velas para lembrar das mulheres mortas e repudiar a violência de que foram vítimas.
“O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo. Isso não é normal. Chega. Chega de machismo. Direito à vida, queremos viver, sermos felizes”, disse uma das manifestantes. “Que sejamos respeitadas, que venhamos a ocupar os nossos lugares. Por nenhuma a menos. Respeito por todas nós”, afirmou outra participante do ato.
Segundo a integrante do Fórum de Mulheres do Distrito Federal e Entorno, Leonor Costa, os números são assustadores. “Houve aumento do ano passado pra cá e isso mostra a negligência do Estado com o problema da violência contra a mulher. A sociedade continua sendo violenta. Várias das 22 mulheres assassinadas já tinham registrado algum tipo de ocorrência contra o agressor e nada foi feito”.
Leonor defende uma mudança do comportamento de instituições de Estado, como as delegacias de Atendimento à Mulher e as forças de segurança em geral, o Ministério Público e os órgãos governamentais que prestam atendimento de mulheres ameaçadas, para que a proteção seja garantida às mulheres que denunciam.
Segundo Cláudia Macedo, da organização Coturno de Vênus – Associação Lésbica de Brasília, ainda há o problema de casos de feminicídios contra lésbicas, como o assassinato de Anne Mickaelly, jovem esfaqueada pelo pai da namorada em janeiro deste ano depois de um pedido de casamento. Episódios como esse, diz Macedo, não são contados e considerados com essa especificidade.
A ativista, uma das organizadoras do ato, relatou à Agência Brasil que diversas organizações feministas e de lésbicas já cobraram medidas do Poder Público. A Câmara Distrital organizou no ano passado uma audiência pública sobre o tema. O problema também está no Judiciário. Ela cita como exemplo uma das mulheres assassinadas, que teve o pedido de medida protetiva negado pela juíza responsável pelo caso.
“A gente criou um grupo de trabalho sobre feminicídio na secretaria de políticas para mulheres do GDF e nada foi feito. A gente vem, ano após ano, reivindicando, seja no Executivo seja no Legislativo, e as mortes não param porque o Estado não se responsabiliza”, disse a ativista à Agência Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário