domingo, 26 de janeiro de 2014

"As pessoas se esqueceram de como algumas doenças são ruins"



Bebê
Cerca de 1,5 milhão de crianças morrem anualmente em decorrência de doenças que poderiam ser prevenidas com vacinas (Thinkstock)
O americano Seth Berkley, 56 anos, é uma das autoridades em imunização no mundo. Médico especializado em doenças epidemiológicas e saúde pública internacional, ele é o presidente da Aliança Global para Vacinas e Imunização (Gavi Alliance), uma parceria público-privada que financia o fornecimento de vacinas a preços reduzidos para os 73 países mais pobres do mundo.

Desde que foi lançada, em 2000, a Gavi Alliance já imunizou 288 milhões de crianças, evitou mais de 5 milhões de mortes e ampliou a cobertura vacinal mundial de 73% para 83%. Até 2020, a organização pretende salvar mais de 10 milhões de vidas e prevenir mais de 200 milhões de casos de doenças.
Berkley trabalhou como epidemiologista em 25 países, incluindo o Brasil, onde estudou um surto de febre purpúrica e outras doenças tropicais, nos anos 1980. Em 1996, ele fundou a maior iniciativa mundial para o desenvolvimento da vacina contra a aids, a International Aids Vaccine Initiative (Iavi), que presidiu por quinze anos. 
É o médico quem vai coordenar a distribuição da primeira vacina brasileira para exportação, anunciada em outubro de 2013. Cerca de 30 milhões de doses anuais contra rubéola e sarampo serão produzidas por meio de uma parceria firmada entre o laboratório Bio-Manguinhos, a Fundação Oswaldo Cruz e a Fundação Bill & Melinda Gates.
Berkley vê uma diferença entre como as vacinas são recebidas nos países miseráveis onde a Gavi atua e nas nações ricas do Ocidente. Enquanto pessoas sem acesso à saúde fazem de tudo para chegar a um posto de vacinação, uma camada da população de países desenvolvidos escolhe não vacinar seus filhos.

Há um fenômeno no Ocidente de pais deixarem de vacinar seus filhos por considerar a imunização prejudicial. Por que o ceticismo em relação às vacinas está aumentando? Em nações desenvolvidas, as pessoas buscam cada vez mais consumir produtos orgânicos e encontrar alternativas naturais de vida. Como várias doenças estão erradicadas, as pessoas esqueceram quão ruins elas são e não as veem como ameaçadoras. O interessante é que, quando há surtos de moléstias que matam bebês e deixam outros seriamente doentes, como um de rubéola recentemente no País de Gales, os pais correm para vacinar seus filhos. É o contrário do que acontece na maioria dos países em que a Gavi atua. Em Estados pobres, as vacinas são muito bem aceitas. As pessoas chegam a caminhar um dia inteiro ou fazer várias viagens para chegar ao posto de vacinação, porque veem que essas doenças matam e afetam pessoas o tempo todo.
Diversos sites e blogs são engajados em divulgar males provocados por vacinas. O que o senhor diria para quem acredita nessas teorias? Nem todo mundo tem o cuidado de VEJA ou de outras fontes confiáveis para publicar notícias. Uma vez que uma notícia se espalha na internet, é difícil corrigi-la. Houve, por exemplo, um estudo que relacionou a vacina de rubéola e sarampo a casos de autismo. Dezenas de pesquisas posteriores de larga escala foram realizadas e nenhuma encontrou relação entre o autismo e as vacinas. Como consequência, a publicação foi desacreditada e o autor perdeu sua licença médica. Mas a primeira notícia continua na internet. Se você não é especialista em epidemiologia ou ciência, fica difícil entender que doenças relativamente comuns em crianças podem se manifestar no dia em que elas são imunizadas, na véspera ou no dia seguinte, porque a moléstia vai aparecer por acaso. Então a questão não é “vacinei meu filho e a doença tal apareceu”. É preciso analisar se, depois da vacinação, a incidência da doença aumentou como um todo.

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