segunda-feira, 13 de março de 2017

Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais


Crime


O assassinato da travesti Dandara Kataryne, de 42 anos, em Fortaleza, é a ponta de um iceberg de uma população que vem sendo dizimada pelo ódio e pelo preconceito. Monitoramento da Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil (Rede Trans Brasil) aponta que, apenas neste ano, 25 travestis e transexuais foram assassinados no país. Assim como Francisca Vasconcelos, mãe de Dandara, Erivanda Jorge Moreira, de 43, sabe o tamanho dessa dor. Em 2013, Poly, com 20 anos, partiu. “Ela saiu para a ‘esquina’ e a acharam morta. Era um homem que perseguia viado. Abusou dela e depois matou com um gargalo de garrafa”, conta Erivanda, com camisa estampada com a foto da filha, em protesto por causa de Dandara. “Ele não foi preso”, diz, ao lado de dona Francisca.
Segundo outro levantamento, do Grupo Gay da Bahia (GGB), mais antiga associação de defesa dos homossexuais e transexuais do Brasil, aponta que 2016 foi o ano com o maior número de assassinatos da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) desde o início da pesquisa, há 37 anos. Foram 347 mortes. Minas Gerais ocupa o quinto lugar nesse ranking, com 21 mortes. São Paulo lidera a lista, registrando 49 assassinatos. Mas o próprio GGB ressalta que os números são subnotificados, já que faltam estatísticas oficiais.
O relatório é feito com base em notícias e informações que chegam ao conhecimento do grupo. A população de travestis e transexuais correspondeu a 42% das mortes, num total de 144 vítimas. De acordo com a organização, as pessoas trans são as mais vitimizadas. O risco de elas serem assassinadas é 14 vezes maior em relação a gays. “Antes do assassinato de Dandara, aconteceram muitos casos tão cruéis quanto e os marginais estão soltos. Estamos cansadas de ser massacradas”, afirma a presidente da Associação de Travestis do Ceará, Tina Rodrigues, que ressalta que as trans vivem a violência e a discriminação no cotidiano.“Vamos para a escola e ninguém quer a gente lá, nem os alunos, nem os professores”, diz, na cobrança por mais oportunidades.
Depois de oito anos em tramitação, o projeto de lei da Câmara dos Deputados (PLC 122/06) que dispõe sobre o tema foi arquivado em 2014, sem conseguir aprovação. O texto define crimes resultantes de discriminação ou preconceito de gênero e orientação sexual e encontra resistência, sobretudo, entre parlamentares da bancada religiosa. “Esse preconceito faz parte das estruturas sociais, marcados pelo machismo e o patriarcado. Até agora não vimos nada, nenhuma medida estruturante que nos reconheça como sujeitos de direito”, afirma o coordenador de projetos do Grupo de Resistência Asa Branca (Grab), Dário Bezerra, um dos mais antigos grupos LGBT do Brasil.A crueldade e repercussão da morte de Dandara, gravada em vídeo que circula nas redes sociais, joga luz sobre o combate à transfobia. Em todo o país, grupos LGBT cobram do poder público a aprovação de projetos e políticas sociais que garantam os direitos dessa população marginalizada. O caso também ganhou visibilidade internacional e atraiu para a periferia de Fortaleza equipes de TV e de jornais dos Estados Unidos e da Europa. A principal das lutas entre os militantes no Brasil é a criminalização da transfobia e da homofobia.
Via Imparcial

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