De volta à pacata vida de baixo clero, o ex-presidente interino diz que ajudou a Câmara a ser mais "humana"
Os quase 500 deputados presentes no plenário da Câmara na madrugada de quinta-feira (14) ficaram surpresos quando, na empolgação pela eleição como novo presidente da Casa, o deputado Rodrigo Maia, do DEM, abraçou e levantou a mão de Waldir Maranhão, o interino que deixava o cargo. Meio sem jeito, Maranhão deu a outra mão ao primeiro secretário, Beto Mansur, do PMDB, e fizeram todos o tradicional levantar de braços comum às vitórias políticas.
Pela primeira vez, em dois meses de interinidade, Maranhão era aplaudido pelos colegas. Durante todo o período que exerceu a presidência, após o afastamento do titular, Eduardo Cunha, do PMDB, Maranhão só conseguiu comandar uma sessão – mediante acordo; em todas as outras, foi vaiado até deixar a mesa.
Tamanha ojeriza começou quando, num gesto tresloucado, Maranhão decidiu anular o impeachment da presidente Dilma Rousseff a dois dias da votação na Câmara. Não deu certo, é óbvio, e Maranhão teve de recuar. Mas o deputado que era pouco conhecido e tido como um bom piadista jamais foi perdoado. Sua curta gestão, tocada apenas do gabinete da presidência, sem exposição no plenário, foi marcada por vários recuos das próprias decisões. Livre do peso do cargo, no final da semana passada, Maranhão disse a ÉPOCA que tentou fazer “o melhor”. “Não sei se serei lembrado pela história”, disse. “Mas, ainda que eu não venha a ser lembrado, eu tenho a lembrança de que tentei fazer o melhor.”
ÉPOCA – Como ficará marcado seu período na presidência da Câmara?
Waldir Maranhão – Os dois meses em que passei aqui foram o equivalente a 20 anos. Sei que serei julgado por tudo o que fiz de certo e de errado, mas tenho certeza de que Deus me colocou aqui para mostrar humanidade para as pessoas, para ajudar o país a passar por esse momento. Um presidente da Câmara não tem de estar acima dos outros. Tem de ser igual aos outros, ouvir a todos. E isso eu fiz.
ÉPOCA – O senhor acha que teve sucesso em sua missão?
Maranhão – Vivi estes dois meses em meio com incertezas permanentes. Poucos deputados e presidentes se submeteram a tantas humilhações quanto eu. Mas tive de me resignar e recuar para tentar harmonizar a Casa.
ÉPOCA – Como o senhor acha que a história o retratará?
Maranhão – Não sei nem se serei lembrado pela história. Mas, ainda que não venha a ser lembrado, eu tenho a lembrança de que tentei fazer o melhor.
ÉPOCA – Por que o senhor recuou tantas vezes?
Maranhão – Não vejo problema em voltar atrás depois de ouvir as pessoas. Eu acho certo ouvir as pessoas.
ÉPOCA – Qual foi sua contribuição para o desfecho que se desenha para Eduardo Cunha?
Maranhão – Foi ajudar o Rodrigo Maia a se eleger. Decidi ajudar logo após a renúncia do Eduardo, depois de ver o centrão me hostilizando, me afrontando. Fui anarquizado por meu próprio partido, que me isolou e me excluiu. Hoje repousa sobre meus ombros um processo de expulsão por eu ter votado contra o impeachment.
ÉPOCA – E por que o senhor fez o que fez?
Maranhão – Tenho minhas convicções. Eu votei contra o impeachment porque é nisso que acredito. Fiz tudo de acordo com a Constituição. Votei, sim, contra o impeachment, mas a favor dos mais humildes.
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