Sobre sonhos e injustiças
Por Carlos Lula
Todos nós temos sonhos. Sonhar move os nossos passos em direção a uma realidade que desejamos para nossas vidas. Àqueles que pouco acreditam, os sonhos podem ser inalcançáveis. Já aos audaciosos e corajosos, as circunstâncias podem até dificultar, mas não impedem a luta pela concretização de um sonho (ou de se chegar perto dele). Você tem um sonho. Eu tenho um sonho. Charles Darwin (1809 – 1882), autor da teoria da evolução das espécies, tinha um sonho.
Naturalista inglês e notável cientista do Séc. XIX, Darwin nasceu em família abastada. Era filho do médico Robert Darwin e de Susannah Darwin. Seu pai era um renomado médico, assim como seu avô. Também seu irmão seguiu os caminhos da medicina. Darwin, como vocês bem o sabem, é conhecido por ser o autor da teoria da evolução das espécies, através da seleção natural.
Falo do cientista inglês por ter me deparado com ele por esses dias numa passagem do excelente livro “Um cavalheiro em Moscou”, de Amor Towles (2018). A obra traz um didático exemplo da teoria da seleção natural. Em síntese, a teoria afirma que ao longo de dezenas de milhares de anos, as espécies evoluem para maximizar sua chance de sobrevivência. Se as garras de um leão ficavam mais afiadas, que as zebras se tornassem mais rápidas. Mas a seleção natural nem sempre precisa de tanto tempo para acontecer.
Por vezes, ela pode ser observada em décadas. Se o ambiente é relativamente estático, o ritmo de evolução tende a desacelerar. Por outro lado, se o ambiente muda muito rapidamente, as forças da natureza irrompem de tal maneira que a necessidade de adaptação é desencadeada. Foi isso o que pôde ser observado em Manchester, no século XIX na Inglaterra, quando a cidade se tornou sede da revolução industrial.
Antes da industrialização, por volta de 1850, predominava naquela cidade uma população de mariposas brancas com algumas manchas negras. Essa coloração sempre permitiu uma camuflagem quase perfeita à espécie, que pousavam na casca cinza clara das árvores da região. As mariposas, da família Biston betularia, de asas pretas também existiam, mas eram atacadas mais facilmente pelos pássaros das árvores, porque havia maior dificuldade de se esconder.
Quando Manchester passou a ter um grande parque fabril, a fuligem das chaminés passou a se fixar nas cascas das árvores, mudando sua coloração. As asas levemente pintadas, que haviam servido como proteção para as mariposas, agora passavam a alertar seus predadores sobre sua posição. Aquelas com asas pretas, tornaram-se praticamente invisíveis. Em 1950, praticamente 90% das mariposas da região de Manchester possuíam asas negras.
O ritmo da evolução, contudo, se lento ou veloz, não deve nos assustar. À natureza, pouco importa se as asas da mariposa são brancas ou pretas, ela apenas espera que a mariposa de asas salpicadas sobreviva. E é por isso que a evolução acontece ao longo de gerações e não de eras: para garantir que as mariposas e os homens tenham chance de se adaptarem.
Assim também acontece com a vida: quando ela aparenta ao homem tornar impossível perseguir seus sonhos, resta-nos maquinarmos um meio de persegui-los, independentemente de qualquer coisa. A força inquebrantável do que se sonha é bem mais forte do que as dificuldades que a vida põe em nosso caminho.
E como disse no começo, Darwin, tinha um sonho. Desde pequeno, ele colecionava objetos como minerais, insetos e ovos de pássaros. Por influência da família, tentou estudar medicina na Universidade Edimburgo, mas não se interessou pela carreira. Diante desse quadro, o pai sugeriu que ele se dedicasse à Igreja Anglicana, acalentando a ideia de que seria agradável ser um pároco do interior. Também não seguiu adiante. Seu pai chegou mesmo a temer que ele não fosse capaz de nada além de caçar ratos e besouros e, fatalmente, “manchar” o bom nome da família.
Darwin seguiu em frente. O resultado, todos conhecemos. Por conta de sua importância para a ciência, Darwin foi enterrado na Abadia de Westminster, em Londres, ao lado de reis, rainhas e outras figuras ilustres da história britânica (no endereço www.darwinproject.ac.uk, encontram-se disponíveis todas as correspondências de Darwin durante a vida).
Na prática, Darwin nos mostrou que os sonhos também são capazes de se adaptarem às circunstâncias da vida. Às dificuldades e às oportunidades. Durante toda a semana, sofri ataques de toda espécie, que nem mesmo a irresponsável luta política no Maranhão é capaz de explicar. Desistam. Não serão ladrões do dinheiro público a impedir a construção de um Maranhão mais justo, mais igual, mais solidário. A força dessa ideia é o que move o sonho não de um, mas de milhares de maranhenses. É a força inquebrantável de um sonho.
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