- A ocupação, que começou com cerca de 30 pessoas, já contava com mais de mil manifestantes nesta tarde; à noite, pouco mais de cem se refugiaram da chuva na passarela do metrô, onde já tinham dormido no sábado
- Pezão e Paes afirmaram que despesa com desocupação terá de ser paga pela empresa de telefonia
RIO - Grupos de invasores removidos na sexta-feira do terreno da Oi, no Engenho Novo, não chegaram a um acordo com a prefeitura do Rio, neste domingo, e o acampamento não para de crescer em frente à sede do município, na Cidade Nova. A ocupação, que começou com cerca de 30 pessoas na madrugada de sexta-feira, já contava com mais de mil manifestantes nesta tarde. De hora em hora, ônibus e vans traziam mais famílias que desembarcavam na Avenida Presidente Vargas. À noite, pouco mais de cem se refugiaram da chuva na passarela do metrô, onde já tinham dormido no sábado. Pela manhã, o governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Eduardo Paes afirmaram que a despesa com a desocupação do imóvel da Oi terá de ser paga pela empresa de telefonia. Os valores ainda estão sendo calculados.
— Não podemos mentir. Não temos imóvel do Minha Casa para entregar amanhã. Vamos priorizar quem precisa mais. Não vamos deixar ninguém se aproveitar dessa situação. Precisamos separar o joio do trigo. O que houve sexta-feira (a reintegração de posse) foi um inferno. Estamos propondo e já disponibilizamos os ônibus para levarmos essas pessoas, junto com nossos assistentes sociais, para São Cristóvão.Representantes dos invasores rejeitaram a proposta do secretário de Desenvolvimento Social e vice-prefeito, Adilson Pires, para que fossem levados em ônibus do município até a sede da Guarda Municipal, em São Cristóvão. Lá, o município checaria a autenticidade do cadastro social das pessoas para identificar quem necessita de moradia. Eles também não aceitaram a proposta de ir para abrigos. O vice-prefeito explicou que não há, de imediato, casas do programa Minha Casa, Minha Vida para todos:
Sem arredar o pé
Moisés Eliezer Batista, um dos representantes da comissão dos invasores, disse que os acampados não vão sair da prefeitura. Segundo ele, os manifestantes só aceitam uma solução definitiva:
— Não arredaremos o pé daqui. Não vamos aceitar a proposta. Queremos uma solução imediata. E que não seja abrigo. Aqui não tem nenhum bandido. São pessoas que precisam de casa.
Guilherme Simões, um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e que diz ser apoiador da ocupação, achou a proposta da prefeitura ruim:
— O cadastro é necessário, mas trata-se de um pré-cadastro. O problema é que nós podemos sair daqui e depois não poderemos voltar.
A diarista Fernanda Ferreira dos Santos, de 36 anos, que estava com o filho Cauã, de 1 ano e 3 meses, contou que viu na invasão do terreno da Oi “a oportunidade de conseguir uma moradia”:
— Morava de aluguel em uma quitinete em Manguinhos, por R$ 350. Houve reajuste e não tenho mais condições de pagar.
No acampamento dos invasores, a situação é insalubre. Não há banheiros, nem água. Famílias com crianças, adolescentes e até recém-nascidos dormem sobre sacos plásticos na calçada e se alimentam de doações. Eles receberam mantimentos, água e fraldas descartáveis de pessoas, que se apresentaram como voluntários.
Monique Rocha, outra invasora, diz que o grupo teve que buscar abrigo na passarela do metrô quando começou a chover e à noite, porque as crianças estavam com frio. Segundo ela, há cerca de 40 crianças na ocupação. A concessionária Metrô Rio informou que permitiu a entrada das pessoas na passarela, que fica fechada nos fins de semana, mas que eles terão que deixar o lugar na segunda-feira, às 5h, quando a estação será reaberta.
A notícia de que havia grande número de crianças na ocupação chegou à Justiça. No sábado, a juíza Luciana de Oliveira, do Plantão Judiciário, concedeu um habeas corpus coletivo para que os menores pudessem permanecer com os pais. A liminar foi deferida após pedido da Defensoria Pública.
Advogados voluntários, que prestam auxílio aos acampados, informaram que o pedido foi feito à Justiça, com o apoio do Conselho Tutelar, após denúncia de que haveria uma ação de acolhimento dos menores. Embora a Guarda Municipal conste como ré na decisão, a prefeitura negou qualquer operação para remover as crianças.
Polícia apura ação criminosa em invasões
Durante cerimônia, na manhã deste domingo, de lançamento das obras em sedes de UPPs, o governador Pezão afirmou que a polícia investiga a ação de criminosos por trás das ocupações. Ele ressaltou que as famílias de invasores não vão passar à frente de outras que estavam cadastradas há mais tempo nos programas de aluguel social e do Minha Casa, Minha Vida.
— Estamos levantando também quem estava por trás daquela ocupação. A gente sabe que poucos moradores até agora se cadastraram. Vamos ter notícias deste cruzamento de cadastros que a gente tem feito. Temos hoje 4.500 pessoas em aluguel social no Rio de Janeiro. Quem se cadastra, quem segue o que determinamos nestes sete anos, vamos atender, mas não na pressão — disse Pezão.
Em relação às pessoas que querem retirar seus pertences que ficaram dentro do prédio, o governador disse que vai ajudá-las:
— Alguns pertences as pessoas mesmo retiraram, os de outras levamos para o depósito público. O governo ajudou muito, deixou todo mundo retirar o que tinha lá. Depois teve uma exploração, que a gente vê em alguns locais onde o tráfico de drogas se aproveita dos moradores e faz aquela balbúrdia. Quem quiser se cadastrar, tanto nós, quanto a prefeitura colocamos (à disposição) postos de atendimento; queremos cruzar estes cadastros.
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