Um dos sociólogos mais polêmicos do Brasil, Chico de Oliveira está mais cético do que nunca. Em entrevista à Revista Congresso em Foco, ele diz que partidos estão superados e que a atual crise não produzirá qualquer transformação na política brasileira
Aos 82 anos, o sociólogo Chico de Oliveira conserva a veia crítica afiada. Da direita à esquerda, o professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) de formação marxista não poupa ninguém. Fundador do PT e do Psol, Chico vê com total desalento os partidos políticos e o futuro do país. Para ele, todas as legendas estão superadas e a crise política, ao contrário do que muitos supõem, não produzirá qualquer mudança no Brasil, apenas ilusão.
“Não haverá nenhuma consequência do ponto de vista da modificação da estrutura do Estado brasileiro. Como a eleição presidencial e para o Congresso vai demorar mais tempo, tudo isto será diluído”, disse à Revista Congresso em Foco. “É mais fumaça do que tiro. O ruim desse processo todo é que vai incutindo a ilusão que, desse jeito, as reformas necessárias ao Estado brasileiro podem ser feitas. Este barulho todo não é bom e deseduca o povo”, acrescentou.
Propostas discutidas para reformar a estrutura política do país, como o parlamentarismo e a convocação de uma assembleia legislativa, são ineficazes, na avaliação do professor aposentado. O caminho, segundo Chico, está na maior participação do cidadão na política.
Doutor honoris causa pelas universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Paraíba (UFPB), Chico de Oliveira começou sua atuação em órgãos públicos no Banco do Nordeste, no final da década de 1950. Seguiu para a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), onde permaneceu até o golpe militar de 1964. Ligado ao economista Celso Furtado, passou dois meses preso depois que os militares tomaram o poder. Deixou Recife, sua cidade natal, e se transferiu para o Rio de Janeiro para tentar escapar das perseguições do novo regime. Em 1970, foi para o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
Chico de Oliveira é um homem despojado, mas sempre afiado sobre a história brasileira e um cáustico observador da atualidade. Mesmo com uma doença renal que o obriga a fazer diálise algumas vezes por semana, não perde o hábito de tomar café na padaria mais perto de sua casa, em São Paulo. Nas conversas, palestras, artigos e livros sempre dá a impressão de que não deve nada a ninguém e pode dizer o que bem entende sobre a política, os partidos e os políticos.
Revista Congresso em Foco – O país está imerso em uma crise econômica e política. Os presidentes da República e da Câmara foram afastados, cerca de 150 parlamentares são acusados de crimes no STF e há suspeitas até sobre o Judiciário. Qual a consequência desta crise toda para a sociedade?
Chico de Oliveira – É muito grave, mas não vai dar em nada. Não haverá nenhuma consequência do ponto de vista da modificação da estrutura do Estado brasileiro. Como a eleição presidencial e para o Congresso vai demorar mais tempo, tudo isto será diluído. A última crise política profunda que tivemos foi em 1964 e deu no golpe militar. A crise de hoje não tem as mesmas proporções. Até porque parte da história brasileira foi feita pelos militares, e como eles estão fora agora, significa que as forças civis devem entrar em acordo.
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