sexta-feira, 16 de julho de 2021

DEPUTADO DO MARANHÃO ARTICULA PARA BARRAR PROJETO DE VOTO IMPRESSO

 

Hildo Rocha articula para barrar projeto de voto impresso na Câmara

Malu Gaspar

Na tarde de quinta-feira, 20 integrantes da comissão especial do voto impresso se insubordinaram contra o comando bolsonarista e aprovaram uma inusitada auto-convocação do colegiado. A comissão tem 34 membros.

O plano é submeter à comissão nesta sexta-feira o projeto do deputado Filipe Barros (PSL-PR), que implementa o voto impresso, e derrotá-lo ainda antes do início do recesso, neste sábado.

Em seguida, querem nomear novo relator, desta vez contrário ao voto impresso em 2022, para produzir um novo documento e enterrar de vez o assunto. Isso porque, sem o aval da comissão, o projeto do voto impresso não pode ser levado ao plenário da Câmara.

“Não digo que é ruim, sou até a favor, mas não dá tempo para o ano que vem”, afirma deputado Hildo Rocha (MDB-MA). Nas palavras de um dos deputados que participaram da articulação, a ideia é “encerrar a discussão do voto impresso e seguir em frente”.

A auto-convocação foi pilotada por Rocha e teve a adesão de membros de 12 partidos. Juntou MDB, PT, PSDB, PDT, Solidariedade, PC do B, PV, Republicanos, PSOL, DEM, PSD e até o Patriota, ao qual Bolsonaro cogita – ou cogitava– se filiar para tentar a reeleição em 2022.

Esse mesmo grupo vinha tentando votar o projeto de desde o final de junho, quando líderes de onze partidos que se declararam contrários à impressão do voto no processo de apuração dos resultados das eleições.

Em seguida, esses líderes trocaram deputados que compunham a comissão por parlamentares comprometidos em votar contra o projeto defendido por Jair Bolsonaro.

Ao perceber que estavam em minoria, o presidente da comissão, Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), e o relator Barros, passaram a adiar a votação, e os líderes do bloco anti-voto impresso então começaram a cogitar a auto-convocação.

Mas como normalmente cabe ao presidente da comissão marcar as sessões e determinar a pauta, primeiro decidiram tentar um acordo. Não queriam que parecesse uma provocação ao presidente Jair Bolsonaro, que tem no voto impresso sua principal bandeira no Congresso. Não funcionou.

Ao longo do processo, Barros acenou com a possibilidade de acordo na confecção de seu relatório, mas todas as pontes acabaram cortadas quando ele apresentou um parecer que, segundo os deputados, “acaba com o voto eletrônico”, ao determinar que a apuração leve em conta apenas os registros impressos, cabendo à contagem eletrônica apenas em casos de falhas ou em locais ainda não atendidos pela mudança.

Na semana passada, o presidente da República chegou a dizer que “sem voto impresso não terá eleição em 2022”. Em seguida deu outra versão à frase, dizendo que só a impressão na apuração garantirá a lisura necessária para considerar o pleito uma verdadeira eleição.

Tais declarações, aliadas à informação de que oficiais de alta patente compartilham da posição de Bolsonaro, levaram os líderes a concluir que, se esperassem para decidir a questão depois do recesso, poderiam ser atropelados por alguma ofensiva de ameaças e manifestações bolsonaristas. “Vai ter eleição sim, e com urna eletrônica”, diziam ontem os deputados do grupo anti-voto impresso nos corredores do Congresso.

Resultado: quase ao mesmo tempo em que o plenário aprovava a lei orçamentária que permite triplicar a verba do fundo eleitoral em 2022, o grupo protocolou a convocação da sessão para a tarde desta sexta-feira. Segundo eles, com 18 deputados presentes já será possível derrubar o relatório de Filipe Barros.

Atropelados, os bolsonaristas ainda tentam conseguir uma saída de última hora para evitar a derrota. Eles vão tentar melar a reunião retirando deputados da sala e impedindo que haja quórum para a votação, o que empurraria a discussão para agosto.

Quando a sessão começar, às 15h desta sexta-feira, quase todo o Congresso estará às moscas. Mas nem por isso vai dar para dizer que está tudo tranquilo no Parlamento.

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