quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Memória. Assassinato do Juiz Pérsio Martins da Silveira - Tutóia

 

FRAGMENTOS DA HISTÓRIA DE TUTÓIA: ASSASSINATO DO JUIZ PÉRSIO MARTINS DA SILVEIRA



Nas eleições de 3 de outubro de 1955, Felipe de Almeida Ramos, uma das maiores fortunas do povoado Rio Novo (atualmente Paulino Neves), tendo como vice outro grande comerciante Celso dos Santos Véras, lançou-se candidato a prefeito de Tutoia, contando com o apoio de grandes oradores, como Almir Galvão de Caldas, sobrinho afim de Lucas Cardoso Véras e agente local do Iapetc - Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Empregados em Transportes e Cargas.


O prefeito Lucas Cardoso Véras, outro grande comerciante, apoiou a candidatura de Antônio José Neves Rodrigues, que tinha como vice o Antônio José de Oliveira - Antônio Severo.


O maestro Bastinho - Sebastião de Almeida Martins compôs vários jingles para a campanha, entre eles “Na Batata”, o mais tocado.


Os dois lados se insultavam de maneira dura pelos alto-falantes e panfletos. A situação chegou a tal ponto que o vereador José de Matos Silva trocou socos e pontapés com Almir Galvão de Caldas, próximo à Igreja Matriz, no centro.


A apuração dos votos foi realizada com a proteção de um destacamento federal do corpo de fuzileiros navais de Belém.


Felipe de Almeida Ramos e Celso dos Santos Véras foram eleitos. Tomaram posse a 31 de janeiro de 1956, respectivamente nos cargos de prefeito e de vice prefeito.


A festa da posse do prefeito Felipe de Almeida Ramos, segundo o professor Gallas Pimentel, foi na residência dos seus pais adotivos Moysés Pedreira Pimentel e Zila Galas, pois era o local de realização de grandes bailes e, também, porque ela tinha laços de parentesco com o novo governante de Tutóia. Moacir Lima ajudou o casal a preparar a casa especialmente para este fim.


Os derrotados culparam o escrivão e o juiz da comarca Dr. Pérsio Martins da Silveira por parcialidade. Antônio José Neves Rodrigues nunca deixou de dizer que o juiz anulou urnas de redutos importantes que lhe eram favoráveis, porque, segundo ele, este era primo, protegido e indicado por Lister Segundo da Silveira Caldas, deputado federal e do grupo de Nemésio Gomes Neves, que apoiava os vencedores, juntamente com o senador Vitorino Freire, político pernambucano que fez moradia e poderio, por anos, no Maranhão.


O juiz Pérsio Martin da Silveira não se restringia aos autos. Era politiqueiro. E gostava de tomar umas e abusar. Havia rixa entre ele e Antônio Severo, inclusive, com ameaças de morte por parte do juiz. Ambos esquentados.  Um dia, no casamento do filho deste, o magistrado compareceu montado a cavalo, querendo beber. Antônio Severo recusou-lhe a dar-lhe bebida, pois ele já estava bastante embriagado. Revoltado, este sacou do revólver e o alvejou de raspão. Antônio Severo o perseguiu. Junto à rampa do cais, o Dr. Pérsio Martins da Silveira acenou para uma canoa que passava ao largo em direção à pesca, a fim de que fosse atravessado para um navio americano, ancorado ali defronte. Como obteve recusa, sacou a arma e atirou várias vezes em direção aos canoeiros, não os atingindo. Eram os filhos do Antônio Severo. 


O esperado aconteceu. Mataram o juiz. Tarde de 2 de novembro de 1956, o Dr. Pérsio Martins da Silveira foi assassinado com três golpes de faca, sendo um deles na garganta. Os matadores fugiram. Foram capturados e presos, com remoção para São Luís e retorno a Tutóia. Conseguiram fugir da cela para Belém, na calada da noite, a bordo de uma embarcação.


A cidade comenta que quem matou o juiz Pérsio Martins da Silveira foi o próprio Antônio Severo, porém a culpa foi jogada no filho menor, justamente por ser menor, e ter os benefícios da lei.


Outras pessoas foram envolvidas na morte do juiz Pérsio Martins da Silveira. Muitos desejam-lhe a morte. Chegaram a prender Almir Galvão de Caldas, líder político de Tutoia. E ameaçavam de prisão o também líder político Lucas Cardoso Véras. Ingressaram com Habeas Corpus. Exitosamente. Vejamos:

O jornal “O Combate”, de 7 de novembro de 1956, 1ª página, noticiou:

“Habeas corpus concedido - Por unanimidade, em favor dos srs. Lucas Cardoso Véras e Almir Galvão de Caldas, de Tutóia - Desmentido - Reunido à manhã de hoje, o Tribunal de Justiça concedeu, por unanimidade, habeas corpus em favor dos srs. Lucas Cardoso Véras e Almir Galvão Caldas.

A medida, em favor do primeiro, foi preventiva, uma vez que encontrava ameaçado de prisão, e, ao segundo, foi para lhe por em liberdade, sabendo-se, como se sabe, que se encontrava arbitrariamente preso, incomunicável, na cidade de Tutóia, como implicado na morte do juiz Pérsio da Silveira.

Desmentido - Os jornais oficiais afirmaram que teria seguido para Tutóia o capitão da PME Eurípides Bezerra para apurar a responsabilidade do crime. Tal, porém, não aconteceu. O capitão Eurípedes não foi a Tutóia. Tudo não passando de deslavada mentira governista. Em seu lugar, mandaram um atrabiliário sargento, ligado, por quaisquer motivos, ao sr. Lister Caldas, parente da vítima, que ali praticou toda sorte de arbitrariedades”.


Em política, não se brinca. Na maioria das vezes, os crimes ficam insolucionáveis. Como este. Salvo melhor juízo.


Arte de Albert Piauhy.

Texto: kenard Kruel 

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