sexta-feira, 27 de maio de 2016

Machado diz que contribuiu para Temer; presidente em exercício nega



G1
Novos trechos de conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, a que a TV Globo teve acesso, mostram que ele ajudou aliados políticos. Um deles foi o ex-presidente José Sarney, mas os diálogos não permitem dizer que tipo de ajuda foi essa.
Outro aliado, segundo os investigadores, foi Gabriel Chalita, que, na gravação, Machado chama apenas de “menino”, e diz que ajudou na campanha dele à Prefeitura de São Paulo pelo PMDB, em 2012, a pedido de Michel Temer. Os diálogos não revelam de que forma.
Na conversa, Machado parece sondar o ex-presidente José Sarney se o então vice-presidente Michel Temer pode participar de uma articulação para evitar que sua investigação caia nas mãos de Sérgio Moro.
Machado pergunta: Você acha que a gente consegue emplacar o Michel sem uma articulação do jeito que esta...
Sarney: Não. Sem articulação, não. Vou ver o que acontecendo, vou no Michel hoje...
Como que para estimular a conversa, Machado revela que contribuiu com Temer, ajudando na campanha do “menino”, que para os investigadores é Gabriel Chalita, que concorreu à Prefeitura de São Paulo pelo PMDB, em 2012, sem o conhecimento de Renan Calheiros.
Machado diz: O Michel, presidente... Lhe dizer... Eu contribuí pro Michel.
Sarney fala: Hum.
Machado diz: Eu contribuí pro Michel. Não quero nem que o senhor comente com o Renan. Eu contribuí pro Michel pra candidatura do menino... Falei com ele até num lugar inapropriado, que foi na base aérea.

Sarney aparenta preocupação com a revelação e quer saber se uma ajuda que ele próprio recebeu de Machado é do conhecimento de mais alguém.

Sarney pergunta: Mas alguém sabe que você me ajudou?
Machado responde: Não, sabe não. Ninguém sabe, presidente.

Não fica claro que ajuda foi essa. A conversa segue sem interrupção, com ambos discutindo uma tentativa de aproximação com ministros do Supremo.

O ex-presidente Sarney fala novamente do ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça, Cesar Asfor Rocha, como uma pessoa ligada ao relator da Lava Jato no Supremo, Teori Zavascki. Sarney afirma que Asfor Rocha "fez muito favor" a Teori. No meio do diálogo, Machado reafirma que "ninguém sabe" que ele ajudou Sarney.

Sarney diz: O Renan, eu falo com, eu mesmo falo com ele, mas eu prefiro falar assim com o César Rocha. Prefiro falar com o César.

Machado fala: Ninguém sabe que eu lhe ajudei...
Sarney afirma: Porque o César Rocha, o César, o César Rocha, que é o nosso cúmplice junto com o...
Machado pergunta: Com o Teori?
Sarney responde: Com o Teori. Ele é muito, muito, mas muito amicíssimo lá do tribunal. O César fez muito favor pra ele.
Machado pergunta: O Teori era do tribunal do César?
Sarney responde: Era. O Teori era do tribunal do César.
Machado diz: Sabia não.
Em outra conversa, desta vez com Romero Jucá, ex-ministro do Planejamento, Sérgio Machado defende um acordo para barrar a Lava Jato que proteja também alguns nomes do PT e a família de Lula. E chega ao absurdo de fazer referência ao suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas.
Machado diz que a solução passava pela permanência de Dilma Rousseff, mas sem poderes.
Jucá faz referência a uma constituinte para podar poderes do Ministério Público.

Machado diz: Meu amigo, eu acho que o melhor seria (...), porque ela continuava presidente, Michel assumia com liberdade de mudar tudo...

Jucá completa: Negociava um ou outro cara aqui que ela quisesse proteger. 
Machado concorda: Isso, proteger no governo. Essa conversa... Só tem a solução do Getúlio, rapaz: proteger a família do Lula, fazendo um acordo com o Supremo. Não é possível que esses m**** não façam um acordo desse. Sem o Supremo não adianta. Ou corta as asas da Justiça e do Ministério Público ou f***. E quando essa coisa baixar, (...) cortar as asas do Ministério Público (...) Hum?
Jucá: Aí na constituinte.
Em outra conversa, Machado foi até a casa de Sarney. Eles falaram sobre a presidente afastada Dilma Rousseff, o marqueteiro do PT, João Santana, que havia sido preso na Lava Jato, e o ministro da Justiça.
Mas eles não falam o nome do ministro. E não se sabe exatamente o dia da conversa, apenas o período - entre fevereiro e março de 2016 -, quando três pessoas ocuparam o cargo: José Eduardo Cardozo, Wellington Silva e Eugênio Aragão.
Machado diz: A Dilma não tem condições. Você vê, presidente, nesse caso do marqueteiro, ela não teve um gesto de solidariedade com o cara. Ela não tem solidariedade com ninguém não, presidente.
Sarney completa: E, nesse caso, ao que eu sei, é o único que ela está envolvida diretamente. E ela foi quem falou com o pessoal da Odebrecht para dar, acompanhar e responsabilizar pelo Santana.
Machado fala: Isso é muito sério. Presidente, você pegou o marqueteiro dos três pro presidente do Brasil. Deixa que o ministro da Justiça, que é um banana, só diz besteira. Nunca vi um governo tão fraco, tão frágil e tão omisso. É que tavam dizendo essa semana: a presidente é b*** mole. A gente não tem um fato positivo.
Sarney conclui: E todo mundo, todo mundo acovardado.
Machado confirma: Acovardado.

Já em outra conversa com Renan, Machado fala com o presidente do Senado sobre o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reconduzido ao cargo em setembro de 2015 por mais dois anos. Na gravação, Renan afirma que tentou evitar a recondução de Rodrigo Janot no cargo, mas disse que estava só.

Machado diz: Agora uma coisa eu tenho certeza: sobre você não tem nada ainda.

Renan completa: Nesse mistério todo a gente nem sabe, porque eles vivem nessa obsessão.
Machado fala: Hoje eu acho que vocês não poderiam ter reconduzido aquele b***, não. Aquele cara ali...
Renan pergunta: Quem?
Machado explica: Ter reconduzido o Janot. Tinha que ter comprado uma briga ali.
Renan afirma: Eu tentei... Mas eu estava só.

A defesa do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado disse que ele não pode se manifestar por conta do sigilo da delação premiada.

O ex-presidente do Superior Tribunal De Justiça Cesar Asfor Rocha negou que tenha sido procurado por qualquer pessoa para tratar dos assuntos citados nos diálogos. Negou também que tenha conversado sobre o assunto com ministros do Supremo Tribunal Federal e disse que as ilações são injuriosas e extraídas de forma precipitada da simples menção ao seu nome por terceiros.
Sobre as gravações do ex-presidente da Transpetro, a presidente afastada Dilma Rousseff voltou a dizer que todos os pagamentos feitos ao publicitário João Santana foram regulares e declarados à Justiça Eleitoral, que estranha que pessoas que não participaram da coordenação da campanha ou da tesouraria possam ter informações sobre pagamentos e arrecadações, o que segundo ela mostra que a origem dessas informações não tem nenhuma credibilidade.
Dilma disse ainda que a tentativa de envolver seu nome em situações de que nunca participou são escusas e direcionadas, e que demonstram interesses inconfessáveis
A assessoria do Supremo Tribunal Federal também repetiu que faz parte da natureza do Poder Judiciário ser aberto e democrático, e que os ministros são obrigados por dever de ofício a ouvir diversos atores da sociedade diariamente, e que tal prática não interfere na imparcialidade das decisões.
O ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e a construtora Odebrecht não quiseram se manifestar.
O presidente em exercício, Michel Temer, negou que tenha pedido doação a Sérgio Machado para a campanha de Gabriel Chalita. Ele disse também que não foi candidato nas eleições municipais de 2012, e não recebeu nenhuma contribuição. Michel Temer disse ainda que nunca se encontrou em lugar inapropriado com Sérgio Machado.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB, negou as acusações, e disse que ele próprio agilizou a recondução do procurador ao cargo assim que o nome foi indicado pela presidente.
O ex-presidente José Sarney, do PMDB, disse que tinha relação de amizade com Sérgio Machado e que, por isso, vendo que ele estava em momento de desespero, se prontificou a ajudá-lo e a sugerir nomes que poderiam participar da defesa dele.
Sarney negou, no entanto que tenha falado com o então ministro do STJ Asfor Rocha sobre o assunto. Pediu desculpas a Asfor Rocha pelo que considera um “descuido motivado pelo desejo de ajudar”.
O senador Romero Jucá, do PMDB, a assessoria do partido, e o secretário de Educação, Gabriel Chalita, não retornaram as ligações do JN..

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