segunda-feira, 6 de junho de 2016

Em delação, Cerveró aponta 'falácia' de Dilma sobre compra de Pasadena


Dilma culpou ex-diretor por compra de refinaria lesiva à Petrobras. Em nota, assessoria afirmou que ela 'jamais' teve amizade com Cerveró.

O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró declarou em depoimento por delação premiada que é uma "falácia" a afirmação da presidente afastada Dilma Rousseff em 2014 de que só aprovou a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, em 2006, porque não sabia de regras do contrato lesivas à estatal.
"Um tema sensível é a questão da Dilma ter dito no ano passado [2014] que ela só aprovou [a compra da refinaria] porque não sabia isso, aquilo... Isso é uma falácia!", disse o ex-diretor aos investigadores. Na época da compra, ele chefiava a área internacional da Petrobras.
Em nota divulgada nesta segunda (6), a assessoria de Dilma reafirmou que ela não tinha conhecimento das regras, citando trechos de ata do Conselho de Administração da Petrobrasatestando que a Diretoria Executiva não havia prestado as informações necessárias sobre as condições da compra (leia íntegra ao final desta reportagem).
“A suposta relação  de amizade – que nunca existiu – não é justificativa para encobrir um desvio de conduta como foi a omissão das informações que resultaram num prejuízo à empresa. Este teatro montado por esta pessoa que não tem credibilidade e é suspeito de crimes, não intimida a senhora Presidenta Dilma Rousseff. Ela tem a consciência tranquila e reitera que as provas que demonstram as calúnias de Nestor Cerveró são contundentes”, diz a nota.
Em 2014, Dilma culpou Cerveró pela compra da refinaria, localizada nos Estados Unidos, por ter omitido cláusulas do contrato ao Conselho Administrativo da Petrobras, chefiado por Dilma em 2006, quando o negócio foi fechado.
Ainda em 2014, o Tribunal de Contas da União (TCU) calculou um prejuízo de US$ 792,3 milhões no caso.
Aos investigadores, Cerveró falou que Dilma estava preocupada com a eleição presidencial quando apresentou sua versão sobre a compra.
"Se a Dilma gostasse tanto assim de mim, ela não tinha me sacaneado – desculpe a expressão – há um ano, quase dois anos atrás, quando fugiu à responsabilidade dizendo que tinha aprovado Pasadena porque eu não tinha dado as informações completas. Ela me jogou no fogo, ignorou a condição de amizade que eu acreditava que existia – trabalhei junto com ela 15 anos – e preferiu, pra livrar, estava em época de eleição, tinha que arrumar um Cristo. Então, disse 'ah, eu fui enganada'. Mentira. [...]Dilma sabia de tudo o tempo todo", afirmou.
A Petrobras comprou 50% da refinaria por US$ 360 milhões. Posteriormente, a estatal foi obrigada a comprar 100% da unidade, antes compartilhada com uma empresa belga, a Astra Oil. Ao final, o negócio custou à Petrobras US$ 1,18 bilhão.
Cerveró disse ainda que não existe a "menor possibilidade" de isentar o Conselho de Administração pela responsabilidade na compra. "A Dilma participou o tempo todo", afirmou.
"Esses assuntos de refinaria eu discutia pessoalmente com a Dilma. Ela tinha informação. Ao longo do processo de aprovação [da compra] foi dito que estávamos comprando uma refinaria, que ia ser feito uma 'revamp', que foi aprovada, foi aprovada inclusive empresa para fazer a 'revamp' e ela sabia disso. Tudo isso ela sabia", afirmou, em referência a uma reforma feita posteriormente em Pasadena, cuja contratação também é alvo de investigação.
No depoimento, Cerveró chegou a se emocionar ao relembrar que o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, falecido em 2015, foi o único a lhe prestar solidariedade, quando responsabilizado por Dilma pelo prejuízo em Pasadena.
"Sujeito fantástico. Sujeito excelente. Não porque morreu. Não. Convivi com ele. Foi o único que teve a dignidade de ligar quando a Dilma falou besteira. Falou: 'Esquece a Dilma, você conhece ela, não se preocupa com isso não'. Bom, ele [Dutra] também não gostava dela, ninguém gosta da Dilma, porra. Acho que nem a filha dela gosta muito dela, porra”, afirmou Cerveró.

"A Dilma diz que não me conhece e isso é uma mentira. Eu conheço a Dilma há 16 anos pessoalmente. Eu conheço a Dilma e chamava ela de Dilma. A Dilma era secretária de Energia do Rio Grande do Sul. Eu conheci a Dilma antes do Delcídio [do Amaral]. Eu conheço o Delcídio depois de ter conhecido a Dilma. Eu vivia em Porto Alegre discutindo com a Dilma a questão da térmica de Porto Alegre", afirmou.
Amizade

Em outra parte, Cerveró também fala da relação que mantinha com a presidente afastada. Ela chamou de mentira declaração da petista de que não o conhecia.

O ex-diretor também disse que, quando Dilma era ministra de Minas e Energia, no governo Lula, viajou sozinho com ela "seis ou sete vezes" para países como Bolívia, Venezuela e Argentina.
Dilma contesta
A assessoria da presidente afastada Dilma Rousseff divulgou nota na qual afirma que "jamais" manteve relação de amizade com Cerveró e afirmou que o depoimento do ex-diretor da Petrobras é um "teatro montado por esta pessoa que não tem credibilidade". Leia a íntegra:

NOTA À IMPRENSA
A respeito da reportagem “Dilma me sacaneou, diz Cerveró, em vídeo, sobre caso Pasadena”, publicada pela Folha On Line, a Assessoria de Imprensa da Presidenta Dilma Rousseff esclarece:
A Presidenta Dilma Rousseff jamais manteve relação de amizade com o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, embora o conheceu devido ao cargo que ocupava.
A Presidenta Dilma Rousseff reitera que jamais teve conhecimento sobre as atividades ilícitas praticadas por Nestor Cerveró na Petrobras e, portanto, jamais compactuou com tais condutas.
A Presidenta Dilma Rousseff relembra, ainda, que foi a Diretoria Executiva da Petrobras quem comunicou ao Conselho de Administração não ter Nestor Cerveró  entregue as  informações necessárias sobre as condições da compra, em 2006,  de 50% das ações da Refinaria de Pasadena.
Como pode ser visto na Ata da Reunião de 03 de março de 2008, referente à dita autorização de compra pelo Conselho:
“(...) em 2006, quando da submissão ao Conselho de Administração da compra da participação na Refinaria de Pasadena, não constou do Resumo Executivo apresentado a informação sobre a ‘Cláusula de Marlim’, de garantia de rentabilidade da refinaria em favor da ASTRA, condição que foi oferecida na negociação como contrapartida para que fosse aceito pela Astra que a refinaria, após o ‘revamp’, passasse a processar setenta por cento de seu óleo processado por óleo fornecido pela Petrobras. O teor da ‘Cláusula Marlim’ não foi objeto de aprovação pelo Conselho de Administração quando da sua análise com vistas à aprovação da compra de participação na Refinaria de Pasadena.” (Ata da Reunião 1.304)
Nesta mesma reunião, a Diretoria Executiva informa ao Conselho de Administração da Petrobras que apuraria os impactos dessa omissão e eventuais responsabilidades, nos seguintes termos:
“(...) por outro lado, considerando essa ausência de pronunciamento do Conselho sobre o tema (compra dos 50% das ações remanescentes), a Diretoria Executiva comunicou sua intenção de identificar se os termos de tal cláusula entraram efetivamente em vigor, se foram aplicados em algum momento e também avaliar os eventuais impactos, prejuízos e responsabilidades dela decorrentes.” (Ata da reunião 1.304)
Como fica evidente, o Conselho de Administração da Petrobras jamais teve conhecimento sobre as referidas cláusulas e não autorizou a aquisição voluntária da participação dos 50% restantes das ações da Refinaria de Pasadena. A suposta relação  de amizade – que nunca existiu – não é justificativa para encobrir um desvio de conduta como foi a omissão das informações que resultaram num prejuízo à empresa.
Este teatro montado por esta pessoa que não tem credibilidade e é suspeito de crimes, não intimida a senhora Presidenta Dilma Rousseff. Ela tem a consciência tranquila e reitera que as provas que demonstram as calúnias de Nestor Cerveró são contundentes.
ASSESSORIA DE IMPRENSA
PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF

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