segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Celso Lungaretti. Não adianta recorrer à ONU, Lula

Para Celso Lungaretti, ex-presidente encena farsa ao se dizer vítima de perseguição judicial, “o que só faria sentido sob uma ditadura e se ele fosse contestador da ordem vigente, mas hoje o Lula não passa de um político convencional”
Celso Lungaretti *
Diziam os antigos que, se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia. E uma zombeteira canção do Chico Buarque trata de desconstruir essas pérolas do senso comum.
Mesmo assim, darei um conselho ao Lula, na esperança de contribuir para que ele tenha uma velhice tranquila: não adianta utilizar instrumentos de revolucionários quando não se é revolucionário.
Em 1980, quando estava confortavelmente preso no Dops de SP, com direito a bater bola com outros sindicalistas e a assistir jogo do Corinthians na TV, caiu na besteira de iniciar uma greve de fome e a encerrou logo depois, com o rabo entre as pernas. Deu esta justificativa:
“Sempre fui contra greve de fome, judiar do meu próprio corpo não é comigo, mas o pessoal decidiu”.
Agora, está se queixando à ONU de perseguição judicial, o que só faria sentido sob uma ditadura e apenas no caso de ser um contestador da ordem vigente e estar sendo acusado desubversão, como acontecia nos anos de chumbo.
Todos sabemos que as três hipóteses são inverídicas, embora a tentativa de evitar que volte ao poder deva ser a motivação subjacente de tanto empenho em provarem que Lula cometeu os mesmos delitos dos políticos convencionais.
Mas, infelizmente para o Lula, hoje ele também não passa de um político convencional e, se tirar do baú a camiseta que utilizava nas portas de fábricas e vesti-la de novo, só evidenciará o quanto ela destoa do seu look atual, começando pela barba cuidadosamente modelada em cabelereiros chiques.
Não dá para ir à ONU e se dizer injustiçado por pretenderem puni-lo em função de práticas nas quais tantos outros incorrem impunemente. O único erro é não haver punição nos demais casos, e isto independe da ONU.
Então, ele deveria mirar-se no exemplo do Paulo Maluf, por quem tem tanto apreço e consideração, a ponto de haver posado numa alegre promiscuidade com o dito sujo (ops, quer dizer, cujo) em fotos que horrorizaram a militância petista.
Enquanto Maluf insistia em disputar eleições para o Executivo, a polícia sempre rondava e até o prendia. Quando se resignou a ser deputado federal, deixaram-no em paz.
Não tenho nenhuma ilusão sobre a inflexibilidade do combate à corrupção sob o capitalismo – ainda mais no Brasil! Seria capaz de apostar que, anunciando sua definitiva desistência de voltar à Presidência da República, Lula conseguiria manter-se fora das grades.
Na verdade, creio que isso acontecerá de qualquer maneira. Estão com a faca e o queijo na mão, prontinhos para abortarem o voo presidencial pelas vias legais.
E, com toda sinceridade, detestaria ver o Lula preso aos 70 anos, assim como detesto ver o Zé Dirceu preso aos 69. Pertencem a outra etapa da história brasileira e é hora de saírem de cena, desobstruindo os trilhos para que as novas gerações tentem fazer o que o Zé Dirceu fracassou em fazer e o Lula nunca quis fazer: dar um fim à exploração do homem pelo homem.
Parafraseando “Fado tropical”, outra bela canção do Chico Buarque de outrora, no fundo, eu sou um sentimental. Vejo o Lula, a Dilma e o Zé como personagens hoje perniciosos para a revolução brasileira e ficaria muito contente com o definitivo ostracismo político dos três.
Mas, nunca desejarei suas desgraças pessoais. Se dependesse de mim, passariam o resto de suas existências no aconchego do lar, curtindo a família e extraindo a máxima felicidade possível dos anos que lhes restam.
Muito antes de me tornar também um idoso, já considerava a prescrição dos crimes e delitos como um preceito fundamental da civilização. Até no caso extremo do torturador-mor Brilhante Ustra, eu defendi que o Estado o condenasse inequivocamente pelos crimes que cometeu, deixando bem claro o quão hediondos haviam sido, a fim de que isso servisse de exemplo para os pósteros e precedente a nortear decisões futuras; e, em seguida, que lhe permitisse, em função da idade e do fato de não apresentar mais periculosidade, esperar a morte em casa.
Pena de encarceramento não deve servir como uma vingança da sociedade. Jamais!

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