A dois dias de deixar o poder, o presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento nas redes sociais nesta sexta-feira. Ao longo da transmissão, ele se defendeu de críticas, chorou, falou pela primeira vez do governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e condenou atos terroristas em Brasília. Apoiadores de Bolsonaro foram alvos de uma operação da Polícia Federal após incendiarem veículos e tentarem explodir uma bomba nos arredores do aeroporto de Brasília.
— Nada justifica, aqui em Brasília, essa tentativa de um ato terrorista, aqui na região do aeroporto de Brasília. Nada justifica. Um elemento, que foi pego, graças a Deus, com ideias que não coadunam com qualquer cidadão — disse Bolsonaro.
Após a derrota nas urnas, Bolsonaro ficou a maior parte do tempo recluso no Palácio do Alvorada e evitou fazer declarações públicas. Sob pressão, ele fez um pronunciamento pedindo para que manifestantes, contrariados com o resultado do segundo turno das eleições, desbloqueassem as rodovias.
Nesta sexta, ele afirmou que “foi difícil ficar dois meses calado”. O presidente deverá viajar nesta sexta-feira para os Estados Unidos, onde deverá ficar ao menos mês, e não passará a faixa para Lula. Entretanto, ele não mencionou a viagem na transmissão desta sexta.
Durante a transmissão, o presidente afirmou que queria fazer uma prestação de contas e comentar sobre o “momento político atual”. Pela primeira vez, falou sobre o governo Lula, dizendo que pessoas que apoiaram o petista se arrependeram.
— O que eu vejo desse governo que está previsto para assumir domingo? É um governo que começa capenga. Já com muitas reações. A gente vê gente que votou para o lado de lá e se arrependeu, dado o que está acontecendo — afirmou Bolsonaro.
“Não tem tudo ou nada. Inteligência. Vamos mostrar que somos diferentes.” Ainda sobre o Lula 3, disse que “nada está perdido” e que o “Brasil não vai se acabar nesse 1º de janeiro”. “O Brasil não sucumbirá, acreditem em vocês”, afirmou o presidente. “Perde-se batalha, mas não perderemos a guerra.”
O presidente disse, no entanto, que não é o momento de “jogar a toalha”.
— O quadro que nós temos à frente agora, a partir de 1º de janeiro, não é bom. Não é por isso que a gente vai jogar a toalha, deixar de fazer oposição, deixar de criticar.
Deixar de conversar com os seus vizinhos, agora com muito mais propriedade, com muito mais conhecimento.
Busca por ‘saída’ contra posse
Em resposta a apoiadores que defendiam uma ação sua para impedir a posse de Lula, Bolsonaro afirmou que buscou uma “saída”, “dentro das leis”, mas ressaltou que “certas medidas” precisam de apoio.
— Está prevista a posse agora dia 1º de janeiro. Eu busquei, dentro das quatro linhas, dentro das leis, respeito à Constituição, saída para isso daí. Se tinha uma alternativa para isso. Se a gente podia questionar uma coisa ou não questionar alguma coisa. Tudo dentro das quatro linhas — afirmou, acrescentando: — Ninguém quer uma aventura. Agora, muitas vezes, dentro das quatro linhas, você tem que ter apoios. Alguns acham que é “pega a (caneta) Bic, assine, faça isso, faça aquilo” e está tudo resolvido.
Na live, Bolsonaro lançou dúvidas, sem provas, sobre o resultado eleitoral e relembrou que o seu partido, o PL, moveu uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O processo, no entanto, foi arquivado por falta de provas após decisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente da Corte, que aplicou à legenda uma multa de R$ 22,9 milhões.
Desde o início do mandato, Bolsonaro fez críticas às urnas eletrônicas, falando sem qualquer prova sobre a possibilidade de fraude. Entretanto, apesar das diversas acusações, em nenhum momento o presidente e seus aliados conseguiram provar vulnerabilidades que poderiam afetar os votos.
O pleito foi acompanhado por diversas organizações da sociedade civil e, pela primeira vez, também pelas Forças Armadas. Nenhum deles conseguiu encontrar qualquer indício de fraude. Um relatório feito pelo Exército com base em uma apuração em uma amostra das urnas também não apontou divergência entre os resultados divulgados e o contado nas urnas.
O Tribunal de Contas da União (TCU) também não encontrou nenhuma divergência na análise feita nos boletins de urna do primeiro e do segundo turno das eleições deste ano. Os auditores do tribunal compararam as informações dos boletins de urna com os dados divulgados pelo TSE. Segundo o tribunal, cerca de 5,8 milhões de informações foram comparadas e nenhuma divergência foi encontrada.
O Tribunal Superior Eleitoral investiga o presidente por ataque às urnas. No último dia 14, o corregedor-geral do TSE, Benedito Gonçalves, pediu para instaurar um apuração sobre a posição de Bolsonaro em relação às urnas.
O presidente disse que não quis se envolver nos atos antidemocráticos em frente aos quartéis, aos quais chamou de pacíficos. Os atos, porém, pedem um golpe militar e escalam em casos de violência pelo país. Eles têm sido atiçados por Bolsonaro desde a sua derrota para Lula no segundo turno das eleições.
Segundo Bolsonaro, esses atos foram espontâneos e não serão perdidos com o tempo. As pessoas que estão ali e pedem golpe militar, segundo o presidente, estão em busca da liberdade e da democracia.
“Nada justifica aqui em Brasília essa tentativa de ato terrorista no aeroporto de Brasília. Nada justifica. Um elemento que foi pego, graças a Deus, com ideias que não coadunam com nenhum cidadão. Agora massifica em cima do cara como bolsonarista do tempo todo. É a maneira da imprensa tratar”, disse.
Na live, o presidente admitiu que negociou cargos com deputados e senadores para consolidar maioria no Congresso, mas disse que isso só ocorreu no segundo escalão e que definiu seus ministros por critérios técnicos.
Ele afirmou que “é um momento de reflexão” e que “não é momento de procurar responsáveis pelo que está acontecendo.
“Não é caso de ficar atacando pessoas, instituições. Quando a situação está difícil, tem que buscar apoio, ajuda, trazer gente para nosso lado, prepará-las para momentos difíceis”, afirmou.
Bolsonaro também criticou Lula, falou para as pessoas compararem os ministros de seu governo “com os indicados pelo opositor” e que procurou uma solução para evitar a posse do petista.
“Eu busquei dentro das quatro linhas, dentro das leis, respeitando a Constituição saída para isso aí. Se tinha alternativa para isso, se podia questionar ou não alguma coisa, tudo dentro das quatro linhas”, disse.
“Como foi difícil ficar dois meses calado trabalhando para buscar alternativas. Qualquer coisa que falasse seria um escândalo na imprensa. Eu quieto sou atacado. Mas vamos lá.”