Depois da vitória governador eleito dá entrevista
SÃO LUÍS (MA) – O governador eleito do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), avalia que sua vitória sobre o candidato apoiado pela família Sarney significa um sinal de mudança importante para o país e prometeu como meta principal de seu governo elevar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado – atualmente é de 0,639 e só é melhor que o de Alagoas. Atacado na propaganda eleitoral como um candidato que iria implantar o comunismo no Maranhão, Flávio Dino divertiu-se com as acusações e afirmou que, ao contrário do que diziam seus opositores, vai apostar no capitalismo para alavancar o desenvolvimento do estado. Sobre o apoio no segundo turno das eleições presidenciais, disse que a tendência é se manter neutro, uma vez que, embora reconheça que Aécio Neves (PSDB) tenha se engajado em sua campanha, ao contrário do PT, pondera que, em nível nacional, seu partido está com Dilma Rousseff (PT). Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida ao GLOBO.
FLÁVIO DINO: Para o Brasil é muito bom que o coronelismo mais longevo da vida republicana tenha sido derrotado. Acho que é um sinal de mudanças importantes para o país. Para o Maranhão, significa romper amarras que entravavam o desenvolvimento do Estado, uma vez que temos uma contradição: um estado potencialmente rico, com péssimos índices sociais. Como não há explicações econômicas ou sobrenaturais para isso, as explicações são políticas, que é o patrimonialismo, ou seja, a submissão dos recursos públicos à lógica da acumulação privada.
O GLOBO: O que o senhor pretende mudar no governo?
FLÁVIO DINO: Primeiro lugar, as questões relativas à probidade, honestidade, transparência, boa aplicação do recurso público, separar a esfera pública da privada. Quem quiser fazer negócios deve fazer no mercado, não dentro do governo. A segunda mudança diz respeito ao foco: nosso foco é melhorar o IDH do Maranhão. Reconhecer as dificuldades sociais é o primeiro passo para superá-las. A terceira questão é de atitude: um governo que seja acessível à sociedade, diferente da lógica estamental que eles sempre adotaram.
O GLOBO: De que forma o senhor pretende melhorar o IDH?
FLÁVIO DINO: Uma conjugação de três vertentes: parcerias com o governo federal; recursos próprios, que estarão disponíveis à medida que você diminui gastos suntuosos, a corrupção e esse padrão parasitário, e, em terceiro lugar, o desenvolvimento da atividade econômica do Maranhão. Isso vai se dar a partir das cadeias produtivas existentes. Vamos estimular os investidores privados, para que acreditem que existem regras do jogo e que ninguém no governo vai querer ser sócio deles. Esse é o caminho mais rápido para melhorar o IDH, que é melhorar a renda. Tenho uma obsessão que é, desde o primeiro dia, mostrar resultados.
O GLOBO: Na campanha, seu adversário quis vinculá-lo ao comunismo, afirmando que seria um caos se um comunista assumisse o poder no estado. O que vai ser o estado comunista?
FLÁVIO DINO: É um estado que, em primeiro lugar, tem capitalismo. Acho que eles tinham mais medo do capitalismo do que do comunismo. Eles são empresários do dinheiro público. Não são empreendedores. Na hora que você instala o capitalismo, você expõe as empresas deles a uma situação de mercado. Por exemplo: a construtora do Edinho Lobão construiu um prédio residencial e os apartamentos não venderam. O que ele fez: estatizou o prejuízo. Alugou o prédio para o governo do estado. Isso não é capitalismo. Vamos ter uma relação boa com o setor privado. Agora, é um governo que tem um governante com posição ideológica. Sou uma pessoa de esquerda que acredita na busca da igualdade como valor humanista e religioso.
O GLOBO: O PCdoB sempre foi fiel aliado do PT, mas na sua campanha o PT não o apoiou. Como o senhor avalia essa questão e qual será seu posicionamento em relação aos dois candidatos?
FLÁVIO DINO: Eu lutei muito para ter o apoio do PT. Mas o PT escolheu seu caminho, segundo suas conveniências, que respeito. Fiz uma aliança muito forte com o PSB, que teve o senador na minha chapa, e com o PSDB, com meu vice. Eu não posso, no segundo turno, ignorar tudo isso. Por outro lado, tenho de colocar na balança que eu compus o governo da Dilma e o meu partido apoia Dilma. A síntese mais provável neste momento, que ainda estou discutindo, é cada partido fazer campanha para seu candidato, e eu mantenho a posição que mantive no primeiro turno, de equidistância em razão desse histórico, sem declarar apoio a ninguém.
O GLOBO: Jackson Lago (PDT) também derrotou a família Sarney, em 2006, e enfrentou uma oposição avassaladora. A Assembleia Legislativa eleita garante ao senhor apenas 25% dos votos. O senhor não teme passar pela mesma coisa?
FLÁVIO DINO: Temos um pouco mais de apoio porque há gente que estava na outra coligação e passou a me apoiar. Não temos maioria, mas vamos ter. Há uma diferença substantiva entre a minha administração e a do Jackson Lago: quando ele assumiu, o Sarney era presidente do Senado, e Roseana, senadora. Eles usaram intencionalmente isso para sabotar o governo. Eu não terei esse azar. A estrutura de mídia deles provavelmente vai fazer uma oposição dura, mas isso é da vida. Que eles façam uma boa oposição.
O GLOBO: O senhor pretende fazer um pente fino nos contratos ou reduzir o número de secretarias, por exemplo?
FLÁVIO DINO: Em relação à máquina, há muitos nomeados que não trabalham e não vamos manter isso. Com isso, vamos eliminar alguns cargos que são dispensáveis. Não vamos fazer uma auditoria geral, para paralisar todos os contratos. A minha premissa é que os contratos estão corretos. O que vamos fazer é que, quando olhar um contrato cujo objeto não está sendo realizado ou está superfaturado, aí, sim, auditar aquele contrato. Não vamos fazer condescendência criminal nem seremos sócios de irregularidades do passado, por um dever jurídico.
O GLOBO: Voltando no governo Jackson, no curto tempo em que ele ficou no governo acabou repetindo erros que criticava, como nomear parentes para a administração. O senhor vai nomear parentes?
FLÁVIO DINO: Não vou nomear nenhum parente meu. A gente sempre trabalhou muito, de verdade. Meus irmãos todos têm seu trabalho, meu pai e minha mãe estão aposentados, e meus filhos são crianças ainda. Mas não estou julgando o governo de Jackson. Não vou nomear parente e nenhum parente meu terá negócios com o governo. Via Raimundo Garrone.
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