Sarney vai concentrar forças para manter poder no Maranhão, diz Flávio Dino
O Globo, com edição
Sem os últimos bastiões de poder, o Senado e o governo do estado, o candidato da oposição que lidera intenções de voto no Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), prevê que o senador José Sarney (PMDB-AP) vai abandonar o Amapá e concentrar todo seu poder para eleger o senador Edison Lobão Filho (PMDB) como sucessor da filha Roseana Sarney, para manter o poderio econômico das três famílias que hoje dominam setores que vão da construção civil a comunicação no estado: Sarney, Lobão e Murad. Em outra ponta ele estaria preparando o neto, Adriano Sarney – filho do deputado Zequinha Sarney – para suceder Edinho Lobão em 2018. O neto é candidato a deputado estadual.
- No Maranhão só tem oportunidade de prosperar empresas associadas ao poder político, seguindo a lógica do compadrio, empresas da família ou ligadas as famílias, terceirizadas no governo. As famílias Sarney, Lobão e Murad fizeram um condomínio de poder e controlam a riqueza no Maranhão. Há um paradoxo: Sarney sai de cena no Amapá e, a curto prazo, a disputa no Maranhão vai se radicalizar muito. Ele vai se dedicar a eleger o Edinho para tentar manter o poder no Maranhão. Já estou sentindo isso: Estão partindo para a baixaria e a violência, dizendo que sou gay, ateu e contra a propriedade e família – avalia Flávio Dino.
Um exemplo de como a disputa vai se acirrar, segundo Dino, foi uma manobra feita pela governadora Roseana Sarney, na última semana, para mudar a destinação de R$ 4,5 bilhões de verbas do BNDES/FAT para obras de desenvolvimento no estado, para distribuição a municípios através de um fundo criado a toque de caixa pela Assembleia Legislativa. Essa manobra, segundo ele, permitiria burlar a lei eleitoral que proíbe celebração de convênios depois de 30 de junho. Mas não impede que haja repasse através de fundos estaduais e municipais.
Parecer do ex-procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pedindo a cassação de Roseana, foi baseado justamente em denúncia de uso maciço de celebração de convênios e transferência de recursos aos municípios no mês de junho que antecedeu a eleição de 2010 e nos três dias que antecederam a convenção do partido no Maranhão. Por parecer do ministro Dias Toffolli , que julgou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) incompetente para julgar o caso, o processo foi remetido ao Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, e nunca foi julgado.
- A governadora Roseana está usando a mesma arma de 2010, só que agora com recursos do BNDES e do FAT, que serão jogados no lixo. No parecer de Gurgel há provas de que os prefeitos, em 2010, sacaram recursos na boca do caixa, sem execução das obras. Agora, em seis dias ela mandou o projeto criando a Fundação para repasses dos recursos , a Assembleia aprovou e já virou lei. Além de deixar o caixa zerado, o objetivo é repassar dinheiro para campanha dos aliados. Não sou contra repassar recursos para os municípios, mas como isso pode ser feito se o dono do recurso é o BNDES e o contrato não está sendo respeitado? – acusa Flávio Dino, que entrará com uma representação administrativa e uma ação popular no TRF do Maranhão contra a mudança de destinação dos recursos.
Dino acha que no Maranhão pós-Sarney haverá mais chances de alternância política, já que grande parte do poder da família vem da esfera federal. Além da saída dele e de Roseana do cenário, o grupo perde ainda a vaga do senador Epitácio Cafeteira (PDT-MA), que encerra seu mandato. Irmão de Jorge Murad – marido de Roseana, Ricardo Murad também perderá o posto de poderoso Secretário de Saúde, cargo que ocupa desde 2009.
- O poder regional desse grupo sempre foi atrelado a esfera federal. De JK a Dilma, Sarney apoiou todo mundo. Só não indicou ministros no governo Collor. Com ele e Roseana fora, o jogo político no Maranhão ganha outros contornos. Ao perder o poder político, perde também uma parcela do poder econômico, vão perder grande parte dos negócios – diz Flávio Dino.
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