De olho na vaga de Cunha
É senso comum na Câmara que Eduardo Cunha não tem grande sobrevida no cargo de presidente da Câmara. Esta é a avaliação feita até mesmo pelos deputados mais ligados a ele. Os documentos mais recentes, mostrando cópia de seu passaporte, com foto e assinatura, e, agora, a delação premiada de Fernando Baiano, contando como se conheceram e começaram a "trabalhar" juntos, reforçam esta convicção. Mas pouca gente quer ir para a linha de frente nos ataques a Cunha porque sabe que, mesmo combalido como está, e afastado do cargo, ainda poderá ser um bom cabo eleitoral para a escolha de seu sucessor.
Esta é a razão pela qual os políticos preferem não se expor nas avaliações sobre o destino do presidente da Câmara. Ele próprio está mais recolhido, embora conversando com alguns colegas, mas sem abrir qual deve ser a estratégia que vai adotar daqui em diante. Parece claro para alguns deputados que ele não apoiará uma eventual candidatura de Leonardo Picciani - que dele se afastou para se tornar interlocutor do governo na reforma ministerial.
A esta altura, não há um nome natural e tampouco de consenso para a presidência da Câmara. Será um período turbulento na política e, por isso, seria preciso alguém com experiência. Alguém da base, mas não tão aliado ao governo. "Precisamos de um Aldo", disse um deputado que viveu o período da transição de Severino Cavalcanti para Aldo Rebelo, hoje ministro da Defesa. Aldo era da base governista, transitava pela oposição, da confiança do governo, mas não submisso.
Para deputados mais experientes, é preciso começar a análise de nomes pelos atuais líderes dos partidos aliados. Não desponta nenhum nome. É por isso que ninguém quer brigar de véspera com Eduardo Cunha. Ele pode ser um bom cabo eleitoral ou alguém com capacidade de barrar um nome, ainda que fora do cargo.
Até aqui, Cunha vinha sendo cortejado pelo governo e pela oposição. Por razões opostas, os dois lados queriam conquistar Cunha. Mas a avalanche de denúncias contra ele, no entanto, mudou o cenário e piorou bem a situação dele. A oposição recomenda seu afastamento da presidência da Câmara, mas deputados do PSDB e DEM não assinam o pedido de investigação contra ele. Já o PT, por meio de seu presidente, Rui Falcão, começou a afirmar neste sábado, por meio das redes sociais, que o PT não faz acordo com Eduardo Cunha. E metade da bancada subscreveu o pedido de investigação de Cunha no Conselho de Ética.
O afastamento de Cunha pode ser definido no que se chama de "solução Renan" - a renúncia ao cargo de presidente da Casa para manter o mandato; ou mesmo determinado pelo Supremo Tribunal Federal, a pedido da Procuradoria Geral da República. Esta hipótese está sendo considerada diante do volume de documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça para a Procuradoria Geral da República. Pelos cálculos de investigadores, isso pode acontecer em algumas semanas. Ou seja, ainda este ano.
Cristiana Lôbo
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