domingo, 10 de maio de 2020

Situação da educação no mundo a partir da PANDEMIA-COVID-19


Que impactos podemos esperar da pandemia na Educação?



Felipe Camarão, Secretário de Educação

A renomada Fundação espanhola para Inovação, COTEC, enviou, nos últimos dias, a autoridades do setor educacional um documento técnico com uma análise sóbria, julgo, a respeito da situação da educação no mundo, a partir da pandemia.
O “Covid-19 y Educación: problemas, respuestas y escenarios” aponta impactos estruturantes no conceito de escola, currículo e aprendizagem e elenca recursos que deverão se tornar indissociáveis dos ambientes educativos pós-pandemia.
Encheu-me de orgulho perceber que as soluções e propostas relacionadas no documento da Cotec são semelhantes as que estão sendo discutidas e planejadas pela equipe da Secretaria de Estado da Educação do Maranhão, orientadas pelo governador Flávio Dino.
Cabe frisar que a Rede Pública Estadual do Maranhão contabiliza, desde a suspensão das atividades escolares, até o dia 29 deste mês, um total de 50 dias de paralisação; destes, temos 43 dias de atividades pedagógicas não presenciais nos diversos centros de ensino da rede. Ressalte-se, aqui, o empenho das equipes escolares, professores e gestão, reinventando-se para mitigar o impacto da pandemia na aprendizagem, sobretudo dos alunos em condições mais vulneráveis, sem acesso à tecnologia e conectividade em seus lares.
Especialistas em educação de todo o mundo seguem estudando as prováveis implicações decorrentes do largo tempo de fechamento das escolas e da aprendizagem remota dos estudantes.
Permitam-me destacar algumas dessas premissas elucidadas até o momento.
A primeira se refere às desigualdades sociais e econômicas de cada família, com muitos pais que perderam seus empregos e rendas, com impacto direto na qualidade e equidade dessa aprendizagem.
Outra questão é que, mesmo com todos os instrumentos e ferramentas educativas em ambientes virtuais disponíveis, neste momento, nem todos terão acesso e aqueles que possuem dispositivos (seja o celular ou um computador) não têm a garantia de, rotineiramente, fazer uso desse aparato, ainda mais em um período de confinamento, em que todos os membros da família, por circunstâncias diversas, podem ter necessidade de utilizá-los.
Também cabe ressaltar nesse ponto que “é necessário assumir que um modelo de educação online, especialmente em determinadas etapas educativas, não conseguirá substituir, de forma eficaz, o presencial”, aponta o documento da Cotec.
No que diz respeito aos desafios impostos pelos cenários que já se desenham, há um deles que é a espinha dorsal da educação escolar, o currículo.
Seguramente, as redes de ensino deverão reavaliar e fazer ajustes em seus currículos, com base nas emergentes necessidades de competências dos nossos alunos, neste momento de crise.
Aqui “se trata de realizar as adaptações necessárias para evitar a sobrecarga que caracteriza o currículo atual, eliminando a pressão desnecessária tanto sobre o professor, como sobre o alunado e suas famílias”, realça o documento.
E isso só é possível com um esforço conjunto de todos nós, gestores educacionais, comunidades, professores e família.
No Maranhão, o ponto de partida do nosso trabalho será, notadamente, a avaliação diagnóstica, instrumento que já foi definido pela Secretaria de Estado da Educação como prioridade máxima, após o retorno às aulas, contemplando toda a rede, o que nos permitirá, com base nas dificuldades de cada estudante das diferentes etapas e níveis de ensino, a tomada de decisões assertivas e nossos próximos passos.
É certo que escola e professores irão apropriar-se de toda a tecnologia e seus instrumentos pedagógicos não presenciais, utilizados neste período de quarentena. Isso também servirá para o fortalecimento das competências dos estudantes e deverá contar no processo de avaliação desse aluno.
Sobre esse aspecto, temos trabalhado com instituições parceiras, no sentido de garantir que o material empregado de forma remota chegue a todas as casas dos estudantes que não tiveram acesso, por residirem em povoados distantes, entre outros motivos, de forma que haja equidade no conteúdo pedagógico até aqui.
Diante de todos os cenários que se desenham, mesmo os mais desafiadores já implicam ressignificação dos nossos ambientes educativos. Está claro que as mudanças no calendário serão apenas uma extensão do trabalho escolar, porque o mais importante será a política integrativa, humana, sobrepondo-se à avaliação e métodos formais, sem abrir mão de dispositivos tecnológicos, buscando trabalhar, inclusive, um plano pedagógico que contemple ações educativas sanitárias e preventivas, tais como as que estamos vivendo, estimuladas a partir da escola e levadas para casa.
O difícil período que estamos vivenciando nos adverte a respeito de questões fundamentais para a educação, como: o acesso e uso das tecnologias, as desigualdades sociais (latentes na ausência da escola), os desafios impostos ao currículo e à prática educativa escolar. Por outro lado, possibilita-nos oportunidades extraordinárias para a quebra de paradigmas e formação de cidadãos melhores e capazes de modificar sua realidade social.
Por Felipe Camarão
Professor
Secretário de Estado da Educação
Membro da Academia Ludovicense de Letras e Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

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