domingo, 2 de janeiro de 2022

Movimento na escolha do próximo presidente da CBF

 

O comportamento de Fernando Sarney na disputa pela presidência da CBF

UOL – Em 2022, as cartas serão colocadas à mesa de forma mais clara no jogo do poder na CBF. O ano novo traz a iminência de novas eleições na entidade — provavelmente duas —, que darão os rumos do comando do futebol brasileiro pelo menos até abril de 2027.

O foco imediato passa a ficar sobre os vice-presidentes, especialmente os que de imediato ganharam os poderes de decisão, como Ednaldo Rodrigues, presidente em exercício, Gustavo Feijó, que ficou muito mais próximo ao departamento de seleções, e Fernando Sarney, que mantém os cargos de representação internacional na Fifa e na Conmebol. Castellar Neto, Francisco Novelletto, Antonio Aquino Lopes, Marcus Vicente e o Coronel Nunes completam o quadro de VPs.

O movimento se dá pela necessidade de reorganização após o afastamento de Rogério Caboclo via Comissão de Ética do Futebol Brasileiro. Na primeira punição, por assédio moral e sexual contra uma funcionária, já confirmada pela assembleia geral composta pelas federações, veio a sanção até março de 2023. Com a segunda condenação, em processo movido na mesma esfera pelo diretor de tecnologia da informação da entidade, Fernando França, Caboclo levou mais 20 meses de punição. A soma delas extrapola o mandato, que se encerra em abril de 2023.

Estatutariamente, assim que a assembleia geral referendar a segunda sanção, configura-se a vacância completa na presidência da CBF. Por isso, o cenário aponta para essa nova eleição com o intuito de completar o mandato.

A marcação da assembleia geral depende de Ednaldo Rodrigues. O presidente em exercício até poderia ter agendado a reunião para dezembro, mas optou por postergá-la para janeiro – segundo ele mesmo explicou ao término do Brasileirão. Politicamente, é impensável um desfecho diferente da primeira assembleia, quando as federações votaram de forma unânime pela aceitação da decisão da Comissão de Ética. A questão é a passagem de bastão.

O vice mais velho, que hoje é o Coronel Nunes, passaria a ter que convocar o pleito dentro de um prazo de 30 dias para completar o mandato tampão. Dessa disputa só poderiam participar os oito vices. O colégio eleitoral, além das 27 federações, é composto pelos 20 clubes da Série A e os outros 20 da Série B.

O calendário da CBF, à luz do estatuto, permite eleição a partir de abril. Em ano de Copa do Mundo, como é o caso de 2022, a estratégia é sempre fazer o pleito antes do Mundial, para evitar que derrotas tenham consequências políticas. Essa eleição para o mandato completo de quatro anos não necessariamente se restringe aos vices. Mas o candidato precisa obter apoio por escrito de pelo menos cinco clubes e oito federações.

Apesar do poder das federações, cujos votos têm peso três, o posicionamento dos clubes ainda é uma incógnita — mesmo considerando a mobilização recente em prol da união e da formação de uma liga para organizar o Brasileirão e ter mais poder na CBF.

Como está o tabuleiro
Ednaldo Rodrigues ganhou força desde que passou a se sentar na cadeira, em 25 de agosto. Ele chegou lá para substituir o Coronel Nunes, em uma jogada que, na ocasião, serviu para “pacificar” o clima e ajudou a manter presidentes de federação ao lado de quem queria Caboclo fora do cargo — a pena ainda não tinha sido ampliada pela Comissão de Ética e estava em 15 meses.

De início, Ednaldo não despontava como um dos que poderiam angariar votos suficientes para vencer uma eleição na CBF. Mas o quadro mudou. Inclusive, há quem veja que o baiano gostou de ter a caneta na mão (há quem cite a falta de pressa de marcar a assembleia geral) e vai se esforçar para ficar mais tempo.

Gustavo Feijó é outro que quer ser o presidente da CBF. O dirigente alagoano passou a atuar mais próximo de Juninho Paulista na diretoria de seleções e acompanhou a delegação em todos os jogos das Eliminatórias. Para quem atua no setor, caiu a impressão de que ele teria um comportamento turrão. Viu-se um Feijó, intencionalmente, maleável.

Quanto a Fernando Sarney, a percepção de alguns presidentes de federação é que ele está ainda em cima do muro. Sarney prefere evitar qualquer embate eleitoral, o que não interfere na forma com a qual se porta nas instâncias internacionais: o cultivo da aliança com Alejandro Domínguez, da Conmebol, e a tentativa de não perder o canal com Gianni Infantino, na Fifa, embora haja discordância, por exemplo, em relação à ideia de realizar a Copa do Mundo de dois em dois anos.

A questão que fica para 2022 é como conjugar os interesses dos Ednaldo, Feijó, Sarney e quem mais vier, já que todos se dizem aliados no momento. Em contextos diferentes, Castellar e Novelletto também fizeram movimentos para testar a força política na CBF. No caso do gaúcho, o filme foi um pouco queimado porque ele chegou a flertar com a assinatura de um documento feito por Rogério Caboclo que o indicava para ser o presidente em exercício. Quando os demais VPs souberam, veio a pressão e Novelletto recuou. Quem viria a assinar o papel no mês seguinte foi o Coronel Nunes, em uma medida que se provou sem efeito.

Nos bastidores, as conversas vão no sentido de encontrar cenários de convergência. Um tenta convencer o outro de que é o melhor nome. Não há quem arrisque quais, de fato, serão os candidatos e se haverá disputa voto a voto.

Há um elemento importante, capaz de nortear para quem vai o apoio das federações: Marco Polo Del Nero. Mesmo lutando contra uma leucemia e suspenso de todas atividades relacionadas ao futebol até 2037, ele ainda dá as cartas. Mesmo sem a caneta na mão, sua opinião é muito ouvida por diversos cartolas. Na eleição passada, Caboclo só conseguiu o apoio para se eleger porque ganhou a bênção de Del Nero. Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista, ensaiou uma candidatura, mas não conseguiu viabilizá-la.

No cenário atual, Ednaldo, de 67 anos e que presidiu a Federação Bahiana de 2001 a 2018, tenta se desvencilhar da conexão com Del Nero. Feijó, que fará 53 anos em maio, tenta passar uma imagem de renovação, embora tenha sido presidente da Federação Alagoana de 2007 a 2015, deixando o filho como sucessor. A lógica da renovação também se aplica aos degraus que Castellar já conseguiu subir desde 2014, quando foi eleito aos 31 anos presidente da Federação Mineira. Já Sarney fará 66 anos em janeiro e é vice da CBF há mais tempo, desde 2004, na era Ricardo Teixeira.

O vencedor para o mandato tampão abrirá uma boa vantagem para tentar emplacar a candidatura pensando nos quatro anos seguintes.

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