Faleceu hoje quinta-feira (11/05) o escritor Kenard Kruel, também jornalista, editor, professor produtor cultural e bacharel em Direito. Residia em Tutoia Maranhão!
Considerado um dos maiores historiadores do Piauí
Kenard |
Via Elivaldo Ramos
Recebemos na noite desta quinta-feira(11) a trIste notícia do falecimento do nosso querido morador da “ilha kenardiana” como ele gostava de se referir ao cantinho que construiu na praia do Bairro São em Tutóia para viver seus últimos dias.
Kenard radicou-se em Tutoia e passou a pesquisar e escrever sobre nossa terra. Estava trabalhando em vários livros que pretendia publicar e compartilhava os textso preliminares com os amigos mais próximos para quem pedia informações e pedia opinião, entre os quais, estão Veronica Damasceno, Rita Merequeta e eu. Nós três éramos diariamente requisitados por ele via mensagens de whatsapp. Por algumas vezes estivemos em sua “Pousada Kruel”, que era instalada na casa em que residia no bairro. Chegamos a combinar de publicar o livro intitulado “Prefeitos de Tutoia” juntos, mas o destino não quis que se concretizasse.
Além do livro sobre os prefeitos ele estava trabalhando em outros: 1) História da Comunidade de São Francisco de Assis, Bairro São José; 2) Padre Hélio Maranhão - Pastor de Tutoia; 3) Luís Stáuta - o homem e o mar de Tutoia; 4) História da Colônia de Pescadores de Tutoia. Estes títulos me foram enviados pelo próprio via whatsapp.
Quando eu também o demandava por material de pesquisa, ele, numa dessas mensagens me disse: "O meu material de pesquisa está todo em Teresina, estava na casa da mamãe, Maria do Socorro Fagundes dos Santos, que faleceu e a casa foi demolida. Os meus arquivos foram colocados em caixa e estão na fazenda de uma amiga, Anaci. Estou me virando como posso, aqui. O ideal seria conseguirmos com a Verônica a criação do arquivo público de Tutoia”. Noutras, ele dava uma missão: "Querido amigo, é exatamente isto que quero saber. Pesquise. Precisamos conversar pessoalmente. Urgente. Aguardando na Pousada Kruel".
Ele sonhava em lançar vários livros sobre Tutoia e também que criássemos um Museu e um espaço de memória de nossa cidade. Chegamos a fazer reuniões juntos para fundar o IHGP-Instituto Histórico, Geográfico, Cultural e Genealógico de Tutoia. A ideia continuará de pé e, com certeza, honraremos sua vontade. Aliás, diga-se de passagem, Kenard me inspirou a escrever, cheguei a escrever textos sobre três prefeitos de Tutoia para ele. As professoras Verônica e Rita Merequeta também.
Recentemente ele recebeu o título de cidadão tutoiense por indicação minha ao então vereador Bernardo Oliveira que prontamente atendeu.
Kenard era um jornalista de faro para pesquisa. Gostava de se ater aos detalhes. Era demasiadamente detalhista. Várias vezes mandei mensagem pra ele pedindo que lançasse logo livro dos prefeitos, mas ele insistia em pesquisar mais e mais, buscar mais detalhes.
Nas mensagens que trocamos ele comentava da fragilidade da saúde, das cirurgias, das internações e qual a nossa triste surpresa de saber que na noite deste sábado, partiu para outro plano de uma cama de hospital na capital do Piauí, sem ao menos voltar a sua “ilha kenardiana” e despedir-se de nós.
Kenard parte mais deixa uma contribuição para Tutóia, mesmo em livros inacabados, que penso temos a responsabilidade de continuar seus escritos e publicá-los, é parte da história de Tutóia.
Kenard Kruel nasceu em São Luís (MA), mas fez história no Piauí. Era membro da Academia Parnaibana de Letras -APAL e de outras academias, Bacharel em Direito, Licenciado em Letras Português e Inglês, além de escritor e jornalista. Foi ainda presidente do sindicato dos jornalistas do Piauí e ocupou outros cargos de destaque no estado.
Do jornal Piauí hoje: Kenard tem um grande trabalho na imprensa e na cultura piauiense. Ele é coautor dos livros “Genu Moraes, a Mulher e o Tempo” e “Eurípedes de Aguiar, Escritos Insurgentes”, entre outros. Também é autor dos livros Torquato Neto ou a Carne seca é Servida (2001), Gonçalo Cavalcanti - o intelectual e sua época (2005), Djalma Veloso - o político e sua época (2006) e O. G. Rêgo de Carvalho - Fortuna Crítica (2007).
Em Tutóia ele mantinha também um sítio na comunidade quilombola de Itaperinha, que passou a pesquisar e escrever sobre esta.
Guardo na memória as conversas que tivemos e no computador algumas fotos e textos que mutuamente nos ajudamos a pesquisar e a escrever. Um dia publicarei algo.
Que Deus o receba bem em sua morada meu amigo.
Seguem algumas fotos na sua simplicidade que fiz dele e com ele nos nossos encontros.
Bem, o meu dileto amigo Alex Ludwig, bisneto do coronel Paulino Gomes Neves, há anos tem me passado muito material sobre Tutoia e personagens da história da cidade. Esta semana, por exemplo, me passou umas anotações do padre Jocy Neves, neto do coronel Paulino Gomes Neves, que ele fez quando dos 90 anos da avó Maria José Gallas Almeida Neves e, no meio das informações, algo sobre o Tamancão, que passo, agora, aos senhores e senhoras, no aguardo de novas informações sobre tão lindo, aconchegante lugar:
“Tamancão foi o sítio de minha bisavó Maria Eugênia.
É um recanto pitoresco entre dois riachos que o banham. Um clima delicioso. Uma terra fértil.
Dela passou para a minha avó Maria Vitória. Esta o deixou para as filhas Carolina e Rosa, que o dividiram em duas partes. Rosa era mãe de Paulino. Com a morte desta, Paulino comprou a parte dos outros herdeiros.
Quantas delícias se fruíram no Tamancão. Que mangas deliciosas. Que banhos esplêndidos nos riachos.
Fazia parte das diversões dos festejos da Conceição e do Divino Espírito Santo, uma ida diária do Tamancão para o banho e para chupar as mangas que o riacho vinha trazendo.
Uma nova casa foi construída no Tamancão.
Como lembrança da fazenda de d. Zélia Magalhães o nome Tamancão foi mudado para Santa Fé.
Há de ficar como uma sombra feliz na memória dos filhos e netos a lembrança das temporadas na Santa Fé.
As noitadas alegres ao luar. As cantigas de outrora. Os quitutes da Quindá. Manga Rosa. Manga Durinha. Geribita.
A chegada das moças que vêm na segunda turma. Casa enfeitada com folhas de coqueiro e buriti. Bandeiras de papel de seda. Versos musicados. Os cavalos. As visitas. Tonico. Titio. Mundico. Inácio. Os agrados da Inocência. As histórias da Severa. Horácia.
Tudo passou”.
Complementando o padre Joyce Neves. Maria Eugênia de Almeida e o esposo chegaram a Tutóia vindos de Portugal e se fixaram na foz do rio Novo, onde montaram um engenho de açúcar e começaram a fabricar rapadura e mel, produtos que seriam exportados para São Luís e Belém do Pará. Um ano depois, o chefe da família faleceu, assumindo a condução os lugares São João, Santo Antônio, Tamancão, Fredos trabalhos a viúva Maria Eugênia de Almeida, que, graças ao temperamento decidido, soube prosperar com o trabalho. Segundo uma tradição oral que corre na família, Maria Eugênia de Almeida, quando um filho seu (dez homens e dez mulheres) completava 21 anos, ela lhe dava 20 escravos e o mandava tratar da vida em outro lugar - e assim foram fundados os lugares São João, Santo Antônio, Tamancão, Frecheiras e Frecheiras da Lama, este último já no Estado do Piauí.
Os riachos Tamancão, Banguê, Dendê e Passagem dos Bois ficam em Tutóia Velha, e são de extrema importância para a população local. Além de fornecerem água, é comum em suas margens o plantio de verduras, legumes, hortaliças.
Foi numa das administrações do prefeito Zilmar Melo Araújo (31.1.1983 a 31.1.1989) a construção de uma ponte no Riacho Tamancão.
Recentemente comprei um sítio no Quilombo Itaperinha, com riacho no fundo, a 15 km da sede Tutóia. Quase todos os dias vou para lá. No meio da viagem fica Tamancão. Agora, além da desculpa de visitar o capitão Orlando Santana, terei a desculpa, também, de rememorar todas estas lembranças banhando no riacho e, quem sabe, chupando manga a vir pela correnteza. Falar nisto, está na época das mangas. Quem topa um dia, comigo, no Tamancão, vivendo estes prazeres? É só marcar. Estarei de tocaia. Com fé, esperança e amor.
AUTOR: KENARD KRUEL, 31.10.2021, publicado no grupo de whatsapp denominado de IHGT
Ao amigo Kenard
Autora: Rita Merequeta
25.01.2022.
A esse amigo que a vida me deu
Entre escritos pesquisas e questionamentos
Hoje luta com força esperança e amor
Mesmo que tudo lhe cause dor
Ele luta
Entre máquinas e máscaras
Entre guerra de convênio
As vezes fica bravo
Pelos direitos iguais
Para não tê-los mais que os outros
Mas enfrenta e aceita
Na luta não se pode fraquejar
É a marca dele
Lutar
Combater
Nem sempre ganhar
Mas lutar.
Se não tinha paciência
Aprendeu tê-la
Para o seu bem
Para sair da luta curado
Por isso vai vencer
Aceita bem o tratamento
Confia em Deus
Nas orações feitas
Nós amigos
Confia e agradece
O criador está à frente
Da criatura
Que tem esperança
Amor
Vontade de viver
E vai
Porque Deus é vida
É esperança
É amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário