domingo, 5 de abril de 2015

Celebração da Páscoa sofreu alterações ao logo dos anos



O que poderia ser seguido à risca atualmente é considerado superstição e já não mexe com a cabeça, nem a fé de muitos

Sandra Viana/IMPARCIAL
A celebração da Páscoa não é mais a mesma, diriam os mais velhos. De um tempo em que comer carne nestes dias tidos como santos era impensável, aos dias atuais, quando a abstinência se dá por força na Sexta-Feira Santa, muita coisa mudou. O que poderia ser seguido à risca hoje é considerado superstição e já não mexe com a cabeça, nem a fé de alguns. Tradições que vêm se transformando em histórias e crendices populares. Vaidade, namoro, canto, dança até tomar banho era proibido na Semana Santa. Atitudes que, segundo os defensores à época, poderiam macular o momento de reflexão e levar ao pecado. Os tempos mudaram e com ele, a forma de olhar para este momento cristão. “Temos que distinguir o que era religiosidade popular das liturgias oficiais da Igreja. Comer carne, por exemplo, é uma questão secundária. O que mancha a pessoa não é o que ela come, mas o que sai de dentro, do seu íntimo”, ressalta o arcebispo de São Luís, Dom José Belisário.

Na Semana Santa, a igreja orienta que os fiéis não comam carne, principalmente na Quinta e Sexta-feira Santa ou Sexta-feira da Paixão, que antecede o Domingo de Páscoa. Antes, este costume perdurava por toda a semana. Hoje, o rito ainda é mantido na Sexta-Feira Santa. A mudança de costumes e hábitos levou a igreja a rever as prescrições. A abstinência de carne não abrange os menores de 14 anos, mas aos maiores, pode ser substituída por outra prática como deixar a bebida alcoólica, refrigerantes, ver televisão etc. O consumo de peixe não é imposto pela Igreja e pode ser trocado por outros frutos do mar. “Fazer abstinência de algumas coisas ou hábitos é uma questão de respeito ao sofrimento de Cristo, diz a farmacêutica Mirela Andrade Santos, 46 anos. Ela é católica praticante e vê na Páscoa a oportunidade de comunhão com a igreja e Cristo. “São poucos dias e não custa a ninguém se dedicar para purificar o espírito e lembrar o que Cristo sofreu por nós”.

O que se celebra, de fato, no tríduo pascal é a morte, paixão e ressurreição de Jesus, explica o arcebispo Dom Belisário. Ele aponta as mudanças no mundo trazidas pela urbanização como o modo de vida e de hábitos alimentares. “Mudou para melhor, pois, na religiosidade popular havia muitas supertições”, diz, citando o medo da ‘mula sem cabeça’ na Sexta-Feira Santa. O hábito de comer carne nestes dias, que para muitos é o cerne da abstinência cristã na data, também pode ser repensado, segundo o arcebispo. Ele atribui às mudanças nos costumes alimentares e ao surgimento de eletrodomésticos como a geladeira, que possibilitou a conservação de produtos e, dessa forma, o armazenamento adequado. “Hoje nos alimentamos de maneira muito mais equilibrada e, apesar da fome no mundo, temos muito mais segurança alimentar”, avalia. Dom Belisário alerta para o comércio em que vem se transformando a celebração. “Mostra o mundo em que vivemos, dominado pelo mercado e pelo consumo. Nesse sentido, devemos ter certo cuidado e nos atermos à celebração cristã”, conclui.

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