Um deserto com 5.000 oásis no litoral do Maranhão
El País
Barreirinhas (Maranhão)
Você está no meio de um deserto. O sol é forte e o vento constante joga a areia branca contra o seu corpo cansado e suado, mas calma: atrás de cada uma das dunas à sua frente há um oásis. Aliás, nesse amontoado de dunas brasileiro conhecido como Lençóis Maranhenses existem cerca de 5.000 oásis, ou lagoas formadas graças ao acúmulo da água das chuvas que caem na região de janeiro a junho e fazem o período de maio a agosto a melhor época para visitá-la.
Descoberta apenas na década de 1970 durante uma expedição da Petrobras, a região das lagoas cercadas por areia compõe desde 1981 uma área de proteção ambiental de 155.000 quilômetros quadrados. A visitação organizada ao local, contudo, só se estabeleceu de fato no ano 2000, e o pouco tempo de atividade turística garante ao Parque Nacional Lençóis Maranhenses um aspecto de região quase intocada pelo homem.
A depender do passeio escolhido, o viajante pode inclusive manter contato com povoados e famílias que habitam a região há séculos, vivendo praticamente do mesmo jeito que seus ancestrais. Durante essas viagens, que podem durar até cinco dias em caminhadas por dentro do parque nacional, os turistas comem com os locais e dormem em suas casas, a maioria delas feita ainda hoje de palha, e tudo a preços muito baixos.
O pouco tempo de turismo na região tem seus contratempos, contudo. O principal ponto de acesso ao parque atualmente é a cidade de Barreirinhas, que fica a quatro horas de carro da capital do Maranhão, São Luis, e cujo trajeto pode ser feito por vans e ônibus de empresas locais. A estrada para a localidade não está em condições perfeitas e a cidade, assim como grande parte da população do Maranhão, um dos estados com o povo mais pobre da região Nordeste, é muito humilde — os grandes destaques arquitetônicos da localidade são mesmo as dunas, que mudam de forma e posição constantemente, devido à ação do vento. Mesmo assim, a cidade oferece várias pousadas e até resorts, para quem estiver disposto a gastar mais com a hospedagem.
A julgar pela promessa do governador Flávio Dino (PCdoB), o acesso aos Lençóis Maranhenses deve ser facilitado nos próximos anos, com infraestrutura que permita chegar ao parque por outras cidades — as obras viárias realizadas ao longo da estrada que leva ao parque nacional são prova disso. Até lá, a referência é Barreirinhas, de onde se pode optar por passeios longos, de alguns dias, ou curtos, de quatro horas, durante as quais os turistas percorrem seis quilômetros do parque a pé, com pausas para banhos nas lagoas — os mais corajosos podem desafiar dunas de até 40 metros de altura, que exigem o auxílio de cordas para serem vencidas.
Mais água
Apesar de ser famoso por suas dunas e lagoas, o Parque Nacional Lençóis Maranhenses tem mais para oferecer do que a fotogênica combinação de areia branca e água límpida. Depois de conhecer a parte mais renomada da região, o turista pode passear de barco pelo rio Preguiças, que recebeu esse nome por correr muito devagar, por conta do trajeto sinuoso que percorre — outra explicação (e os maranhenses têm várias explicações e lendas sobre a fauna e a flora do lugar para contar) atribui o nome aos bichos-preguiça que costumavam povoar o redor do rio. O percurso feito pelas lanchas costuma durar seis horas, durante as quais o turista tem contato com o artesanato locale pode aproveitar passeios de quadricículo pelas dunas e pratos regionais, feitos à base de peixes e camarão, preparados por moradores das comunidades que habitam o entorno do rio.
Para os desportistas, também há espaço para a prática de kitesurf, windsurf, stand up paddle e boia-cross, em que os mais corajosos descem o rio Formiga em boias. Boa parte dessas atividades, inclusive o passeio pelas dunas, pode ser feita por conta própria, já que as entradas do parque não são bloqueadas, nem se cobra ingresso. Os guias locais alertam, entretanto, para o risco de se aventurar sozinho em meio à vegetação. Os maranhenses são muito solícitos e provavelmente vão ajudar o turista perdido, mas boa parte do parque nacional é inóspita e, principalmente depois que o sol se pôs, exige muito conhecimento da região para a locomoção. As histórias sobre os destemidos forasteiros que se perderam em voo solo acabam incorporadas ao repertório dos sempre simpáticos guias. Porque, no Nordeste, o viajante pode até se perder, mas a piada, nunca.
John Cutrim
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