A sensibilidade humana
Por Carlos Lula
Preconceito é daquelas palavras que foram perdendo sentido ao longo do tempo. Se classicamente a expressão era entendida como praejudicium, um julgamento baseado em decisões ou experiências passadas que validam decisões presentes e futuras, atualmente por preconceito deve-se encarar um juízo pré-concebido, pré-constituído, em geral a se manifestar em uma atitude discriminatória a pessoas, crenças e comportamentos.
Como pessoa civilizada que sou, tenho, obviamente, os meus preconceitos. O exibicionismo de bens materiais, por exemplo, me causa verdadeiro enjoo. Procuro manter uma sadia distância dos que assim lidam com a vida. Também não sou muito tolerante com os que falam alto ou triscando nas pessoas. A velhice talvez me cure de meus prejulgamentos, mas, por ora, eles são mais fortes que eu.
E é sobre preconceito que gostaria de falar hoje, mais propriamente aos homens, em relação a algo que precisa ser duramente combatido. Afinal de contas, por que tanta resistência em cuidar da saúde? Infelizmente, os homens não possuem o hábito da prevenção e poucos procuram a avaliação médica anual. Eis uma desconfiança que devemos extirpar.
Assim, o mês de novembro é internacionalmente dedicado às ações relacionadas ao combate ao câncer de próstata e à saúde do homem de uma forma global. A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino, localizada abaixo da bexiga. Esse tipo de câncer é o segundo mais prevalente no homem, perdendo apenas para o melanoma. Na grande maioria das vezes a doença é silenciosa, fazendo com que alguns pacientes não tenham sintomas. Quando diagnosticado e tratado no início, tem o risco de mortalidade reduzido, tornando possível a cura! Isso mesmo a CURA! Em 95% dos casos, os sintomas aparecem somente em estágio avançado, o que comprova que a frequência dos exames preventivos é fundamental para que a doença não seja descoberta tarde demais.
O recomendado é que todo homem realize exames preventivos com o seu urologista anualmente, a partir dos 50 anos. Quando a doença está no histórico familiar, a prevenção deve começar com antecedência, aos 45 anos.
No calendário da saúde, este mês é chamado de Novembro Azul e carrega consigo uma cartela enorme de rejeição. No topo dela, destaco o exame de toque retal, fundamental para o diagnóstico precoce da doença. Afinal, especialistas alertam que em 10% dos casos os exames de sangue e ultrassonografia se apresentam normais, mas o toque retal identifica a alteração. Enquanto isso, a corrente compartilhada nas redes sociais com um dedo gigante reforça a desconfiança ao exame. Sou totalmente contra campanhas que em vez de incentivar os homens só fazem perpetuar a corrente de preconceito.
É preciso desmistificar este preconceito, construído nos princípios da desinformação. Uma hostilidade tão forte que provoca a fuga dos consultórios e transforma a doença em uma das mais incidentes entre os homens em todas as regiões do Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
O Hospital de Câncer do Maranhão, referência no tratamento de pacientes oncológicos na nossa rede estadual de saúde, registrou 125 casos com diagnóstico positivo para câncer de próstata, no ano passado. Em 2017, a unidade notificou 68 novos pacientes acometidos pela doença, até o momento.
Além do câncer de próstata, o de pênis é outra doença que apresenta índices preocupantes. De acordo com a Coordenação Estadual de Saúde do Homem, vinculada à Secretaria Adjunta de Política de Atenção Primária e Vigilância em Saúde, entre 2010 e 2015 foram registrados 341 casos no Maranhão. Dados alarmantes. Uma das principais causas do câncer de pênis é a falta de higiene. Um hábito simples que é inerente à rotina de vida de todo ser humano. É fundamental ensinar às crianças desde cedo os hábitos de higiene íntima, que devem ser praticados todos os dias. Um gesto tão simples quanto lavar o pênis com água e sabão não pode ser objeto de tabu.
Na contramão do preconceito, a Secretaria de Estado da Saúde desenvolve atividades permanentes de Educação em Saúde, por meio de palestras em escolas, instituições e unidades de saúde pelo Maranhão, além de orientar profissionais para desmistificar a desconfiança acerca dos cuidados com o órgão sexual masculino. Além disso, a inauguração dos Macrorregionais de Imperatriz, Caxias e Santa Inês garantiram a expansão de serviços especializados – consultas, exames e cirurgias urológicas – e facilitaram o acesso dos pacientes no interior do estado. Todas estas ações permitiram avanços na implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), criada para reduzir as causas de mortalidade da população masculina.
Por fim, deixo meu recado a todos os homens: se cuidar é preciso! Informe-se, procure um especialista, pratique atividade física e realize os exames necessários para uma vida saudável. Esqueça a vergonha de ir ao médico. O Novembro Azul serve exatamente para nos alertar: menos preconceito equivale a mais saúde.
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