Uma grande colaboração que o grupo Sarney presta ao Maranhão é fazer oposição', diz Flávio Dino
Flávio Dino, em entrevista exclusiva para o Imparcial, comenta sobre como será sua gestão que começa a partir de 2015
O governador eleito Flávio Dino ainda não tomou posse, mas já iniciou uma frenética rotina de trabalho. Planeja o próximo governo orientando e escolhendo secretários, estudando informações repassadas pelo atual governo e tomando decisões. Em conversa com a reportagem de O Imparcial, falou de tudo um pouco. Criticou o atual governo, que, segundo ele, não colabora com a equipe de transição, elogiou os secretários que escolheu e mandou um recado para o grupo Sarney. “Acho que uma grande colaboração que o grupo Sarney presta ao Maranhão é fazer a oposição. Eles ficarão na oposição, acho que isso é bom pra eles e é bom para o estado”. A transparência, segundo ele, será a bandeira do governo e a mobilidade urbana será o ponto de maior atenção em São Luís.
O Imparcial - A sua vitória, após disputar e perder duas eleições, provou que o senhor é um homem determinado a perseguir seus sonhos e objetivos. Quando, ao longo de sua vida, decidiu que queria ser governador do Maranhão e por quê?
O Imparcial - A sua vitória, após disputar e perder duas eleições, provou que o senhor é um homem determinado a perseguir seus sonhos e objetivos. Quando, ao longo de sua vida, decidiu que queria ser governador do Maranhão e por quê?
Jamais a vaidade que afasta, a vaidade que faz com que a pessoa só ouça aquilo que quer ouvir. Eu tenho por uma série de razões, pela trajetória profissional, por revezes políticos, profissionais e pessoais, tenho comigo uma vacina que todo dia eu aplico contra a mosca azul do poder. Isso é uma garantia que eu dou a todos os maranhenses.
O senhor falou em revezes. Em algum momento esses revezes foram duros demais a ponto de pensar em desistir da carreira política?
Sim, claro. Sobretudo os revezes no campo pessoal. Perder um filho do modo como eu perdi faz com que você pense em desistir não só de uma carreira, você, durante semanas, meses, você desiste de tudo praticamente. Então eu enfrentei isso e enfrento. Continuo a enfrentar porque esse é um fato tão duro que ele não tem passado, ele só tem presente. Continuamos a celebrar a vida dele e a nossa vida, procuramos colocá-la em um plano mais elevado, de ser uma vida a serviço de outras vidas, então essa é uma das razões pelas quais eu posso dizer que eu sou vacinado contra a mosca azul do poder, porque esses enfeites e adereços que cercam o exercício de determinados cargos acabam sendo pequenos diante do que realmente importa.
Com a sua eleição, temos um fato inédito. Governo e Prefeitura de São Luís em lados iguais. Enfim, o eleitor da capital poderá ver os dois palácios trabalhando unidos em prol da cidade?
Primeiro, é importante sublinhar que eu vou manter uma boa relação de trabalho com todos os 217 prefeitos. Portanto, aqueles que me apoiaram e aqueles que não me apoiaram, todos serão democraticamente recebidos e, tendo bons projetos, bons propósitos, nós vamos apoiar. No caso particular de São Luís, evidentemente, há uma singularidade, que é a capital de todos os maranhenses. Por isso mesmo, nós vamos estreitar ainda mais os laços políticos que nós temos com o prefeito Edivaldo. Nós temos identidade política. Eu apoiei a eleição dele, ele apoiou a minha. Mas nós precisamos agora traduzir isso em ações administrativas. Eu assumi um compromisso e aqui reitero que o primeiro convênio que assinarei como governador do estado será com a Prefeitura de São Luís, exatamente para sinalizar esse compromisso com a Ilha, com a capital de todo o estado e confirmar que essa parceria política terá traduções bem concretas na vida dos cidadãos.
E qual a maior preocupação do seu governo em relação a São Luís?
Mobilidade urbana. Esse é o tema que vamos atuar muito fortemente. Anunciamos já a criação da Empresa Estadual de Transportes Urbanos, cujo foco prioritário de atuação vai ser a Grande Ilha, os quatro municípios da ilha, onde a concentração de 1,3 milhão de maranhenses faz com que essa questão seja cada vez mais aguda. Eu elegeria este terreno como aquele que nós vamos atuar com mais força, com mais intensidade e com mais velocidade
Durante a campanha, o senhor frisou que tomará as rédeas do estado, que exercerá um comando único e será dono de muitas decisões. O seu perfil será centralizador?
É um perfil muito presente. Jamais centralizador. Porque seria um equívoco. Mas nós precisamos ter uma diretriz política única, um comando único. Porque a sociedade espera um conjunto de ações diferenciadas que conduzam a um mesmo objetivo: governar bem o estado, com probidade, honestidade e com a capacidade de realizar coisas concretas em favor dessa população que tem tanta esperança.
Mais da metade da equipe de governo já foi escolhida. Já estão todos trabalhando?
Nós já preenchemos 90% dos cargos de primeiro escalão e a presidência dos órgãos. Faltam duas ou três secretarias apenas. Todos já estão trabalhando e eu tenho feito uma sequência de reuniões individualizadas, ouvindo as primeiras impressões deles sobre as secretarias e já modulando um pouco as prioridades. Porque um bom planejamento tem que começar bem e para começar bem tem que começar com um rumo. Eu estou fazendo essa conversa individualizada para apontar quais são as prioridades constantes no programa de governo que foi escolhido pela população, no dia 5 de outubro, e aquelas que eu ouvi e aprendi e apreendi ao longo da campanha. Eu acredito que eu devo sempre socializar, dividir, partilhar aquilo que eu vi.
Falando da transição. O atual governo tem colaborado de forma satisfatória com a equipe de transição?
Na verdade, a colaboração é muito escassa e muito assimétrica. Exatamente pela ausência de um comando único e claro, de uma regulação, inclusive legal, sobre essa questão da transição. Há secretários da equipe atual que estão colaborando muito, realmente prestam as informações, franqueiam acesso aos dados. E há o contrário. Há secretários que, infelizmente, imaginam que prestar informações à nova equipe seria uma espécie de favor. E não é. É claro que é uma cortesia que nós agradecemos. Mas não é um favor, porque é uma obrigação. Na medida que quem escolheu uma nova equipe não fui eu. Foi a população que escolheu.
A governadora disse que entregará o estado equilibrado e com muito dinheiro em caixa.
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Ela diz. Vamos esperar até o final do ano, ver as dívidas que eles vão deixar. Por exemplo, nós temos uma preocupação com os precatórios. Eles pagarão os precatórios? Nós temos até o dia 31 de dezembro pra pagar. Então, há determinadas situações fiscais que só estarão mais claras pra nós em janeiro, que exatamente a execução orçamentária vai até o dia 31 de dezembro. Então, há muitos pontos de interrogação. Convênios que eles fizeram, muitos convênios, para tentar, inclusive, vencer a eleição. Eles pagarão esses convênios? Você não sabe, eu não sei, ninguém sabe. Saberemos no dia 1º de janeiro. Então, tem situações fiscais que só vão se desenhar plenamente quando assumirmos. Agora, me comprometo com você e com todas as pessoas que acompanham essa entrevista que em janeiro em vou informar tudo: a situação real do estado, com muita
Quando o novo governo assumir, haverá auditoria profunda na máquina pública?
Nós já estamos fazendo esse levantamento com os métodos disponíveis, as informações que eventualmente nós recebemos dos secretários e algumas coisas que estavam no portal da transparência. Vamos ter a plenitude de informações em janeiro. E o que eu tenho dito é que nós não vamos fazer algo similar a uma inquisição, uma auditoria geral, porque implicaria numa paralisação de obras e serviços que são de interesse público. Aquilo que é correto vai seguir normalmente. Agora, das coisas erradas, e todos os secretários estão sendo informados, a diretriz é cumprir a lei.
O senhor tem feito um esforço grande para transmitir ao Brasil que o Maranhão terá um novo governo. E que o grupo Sarney foi derrotado. Mesmo após o pleito, a polarização e a postura antissarney continua?
A polarização política naturalmente continua, e é democrático que ela continue. Nós temos que entender a conflituosidade como inerente à vida da sociedade, e as eleições servem exatamente para o arbitramento, pelo povo, de quem tem razão naquele dado momento. Agora, o que não vai haver é perseguição, discriminação contra quem tem uma visão política diferente da gente. Nesse sentido, primeiro, acho que uma grande colaboração que o grupo Sarney presta ao Maranhão é fazer a oposição. Eles ficarão na oposição, acho que isso é bom pra eles e é bom para o estado, pois queremos ter uma oposição que nos cobre, fiscalize, isso eleva a cultura democrática do Maranhão. Vamos dialogar aquilo que for de interesse de todos. Agora, não vamos confundir identidades. Nós temos a nossa identidade histórica, que é diferente da deles. E o povo, no dia 5 de outubro, escolheu um projeto com uma dada identidade, e nós seremos coerentes com esse pacto que nós celebramos com a sociedade do nosso estado.
Com essa eleição, o senhor se sente o homem que conseguiu derrotar a oligarquia Sarney no Maranhão?
A eleição foi muito castigada por denúncias, críticas e agressões. É um sinal que a política do Maranhão precisa evoluir. Sente-se responsável por contribuir com isso?
Eu espero que isso seja alcançado com esse movimento coletivo que nós lideramos. Não é meu esforço individual. É o esforço do conjunto de lideranças. Para que a gente possa, na próxima eleição, viver um debate mais qualificado. Tenho apontado em várias entrevistas a necessidade de uma atitude diferenciada nos dois principais partidos nacionais. O PT e o PSDB lideraram as últimas seis eleições presidenciais e disputaram todas essas eleições após 1964. Portanto, são partidos que têm uma grande responsabilidade e devem, de algum modo, pactuar procedimentos sem renunciar identidades, mas garantir a funcionalidade do jogo político, sob pena da polícia substituir a política, que naturalmente não é o ideal. No caso do Maranhão, eu me surpreendi muito com a agressividade da campanha.
Governador, falando agora da governabilidade. Está confiante que terá uma Assembleia que atenda às necessidades do seu governo?
A governabilidade é dividida em dois planos: um da governabilidade social, nós mantermos a alta aderência do povo, da sociedade em relação ao nosso governo. Essa é uma dimensão do movimento social, movimento sindical, popular direto com essas atividades empresariais, sociedade civil, com a imprensa. Essa governabilidade, no sentido amplo, nós vamos cuidar com muito zelo, com muita atenção, porque é um fator de permanente legitimação para o governo. A legitimação não pode emergir apenas das urnas, tem que ser algo que se renova cotidianamente pelo exercício democrático do poder. Agora, nós temos a governabilidade institucional, no âmbito parlamentar. Não apenas no âmbito parlamentar, mas sobretudo nele. Nós temos uma ótima bancada na Assembleia que já demonstrou as suas virtudes, inclusive na oposição, porque é, de grande medida, responsável pela nossa vitória eleitoral. Nós ampliamos a nossa bancada eleitoral e nós temos um quadro de fragmentação partidária na Assembleia, que coloca esse desafio de nós fazermos um diálogo, praticamente, individualmente com os deputados. E assim temos feito, para nós construirmos essa maioria parlamentar e, com isso, termos a tranquilidade necessária da continuidade dos projetos de governo, Mas, repito, sem negar legitimidade da oposição. Assim como os deputados do governo serão recebidos pelos secretários, os deputados da oposição também serão, porque é um dever de nós todos.
O senhor tem falado muito em transparência. Essa é uma das grandes bandeiras do seu governo?
A transparência funda uma nova cultura política. É o que garante que esse ciclo político coronelista no Maranhão ficou para trás. O nosso estado praticamente, desde sempre, apenas trocou de coronel, trocou de oligarquia, trocou o personagem que ainda hegemoniza a cena política, mas não mudou os métodos. Para mudar os métodos, precisamos transferir poder para a sociedade. Transferir poder para que o mercado exista. Por isso que eu tenho falado tanto em relação aos empreendedores, empresários. Porque nós precisamos transferir negócios que hoje são pertencentes a um grupo de privilegiados para um mercado democrático, amplo, universal, em que as empresas possam competir livremente, independente das suas preferências políticas e ideológicas. Temos que transferir poder para os cidadãos, poder que hoje o governante exerce de modo monocrático, solitário, num quadro às vezes até de mistério. Isso não contribui para elevar a consciência social dos cidadãos. Então, nós precisamos empoderar a sociedade e, para isso, precisa ter conselho de alto a baixo, conselho de direitos, precisa usar a internet, precisa ter transparência para que isso seja duradouro, independentemente do resultado da próxima eleição.
Para finalizar, qual o seu sonho para o Maranhão?
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