Na expectativa da decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sobre o acolhimento ou não do pedido de abertura de processo contra a presidente Dilma Rousseff, os ministros da articulação política do Palácio do Planalto estão em "reunião permanente" para definir estratégias de reação com o objetivo de sensibilizar a base aliada e tentar barrar o impeachment.
Ao mesmo tempo, os ministros políticos estão reunindo a bancada governista em cada estado para ouvir as demandas por nomeações – as quais o governo pretende efetivar ainda nesta semana.
"Não precisa ser gênio para ver que, a esta altura, só há um caminho, o padrão de sempre, efetivar nomeações que ficaram represadas ao longo do ano", disse um governista envolvido na arregimentação da base.
O governo se prepara para reagir a três cenários: Cunha, de pronto, acolher o pedido de abertura do processo de impeachment, o que restaria muito pouco para o governo fazer, uma vez que o noticiário seria "Câmara abre processo contra a presidente", observou um auxiliar.
A segunda possibilidade seria a de Cunha rejeitar o pedido – o que levaria o governo a tentar construir base para barrar a abertura de processo.
E no terceiro cenário Cunha adiaria a decisão sobre o pedido de abertura de processo apresentado à Câmara pelo jurista Hélio Bicudo, o que daria mais tempo ao governo.
"Estamos nos preparando para qualquer cenário, inclusive o mais difícil, que é o acolhimento do pedido de abertura de processo contra a presidente" disse um auxiliar da presidente.
Dilma comandou uma reunião com ministros na manhã desta segunda-feira, na qual participaram os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Jacques Wagner (Casa Civil), além do assessor especial Giles Azevedo.
Segundo um ministro que participou do encontro, Dilma está "firme, mas consciente do risco iminente que corre". A presidente, de acordo com os relatos, não faz lamentações, mas sempre observa que o governo ficou nas mãos de Eduardo Cunha.
Nesses encontros da articulação política sempre é lembrado que a oposição se vale da irritação de Eduardo Cunha com o governo para atingir seu objetivo de abrir o processo de impeachment da presidente.
Em uma ou outra conversa, Dilma reconhece que o risco é muito grande, porém, diz, como que se confortando, que, "se voltar para casa, seu nome está preservado", porque não há acusação de corrupção contra ela. A acusação é a de que o governo praticou erro na prestação de contas e não desvio por corrupção.
Fora o grupo da articulação política, outros ministros estão ao telefone conversando com aliados para ouvir sugestões e avaliações sobre o cenário.
Os integrantes do primeiro escalão destacam que a situação política de Cunha é mais difícil do que a da presidente, pois há acusações comprovadas contra ele, mas, ainda assim, está com ele o poder de decisão sobre abertura de processo contra Dilma.
"É difícil saber o que ele vai fazer, ele está acuado e pode tomar qualquer decisão", disse um aliado do governo.
O governo reconhece que a situação fica muito mais difícil porque, além de estar dependendo de Cunha, é difícil explicar à sociedade que ele não teria condições de tomar tal decisão porque está sendo acusado de corrupção. Contudo, a baixa popularidade do governo e a difícil situação econômica deixam o governo sem chances de agir.
Cristiana Lôbo
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