Na carta enviada à presidente, o vice-presidente diz que o governo tem desconfiança a ele e ao PMDB e enumera vários episódios para provar.
G1 notícias
O vice-presidente Michel Temer enviou carta em duros termos à presidente Dilma Rousseff, dizendo que ela não confia nele, que sempre tentou dividir o partido que ele preside, o PMDB, e que ele, Temer, não tem dúvidas de que essa relação de desconfiança não vai mudar.
O tom da carta é bem contundente e Temer cita dez episódios para justificar o que ele chama de "desconfiança".
A carta é um petardo político. Não está dito textualmente na carta que se trata de um rompimento, mas, na política, a gente precisa ficar atento aos detalhes. A relação entre Dilma e Temer nunca esteve no nível atual, confirmam pessoas próximas aos dois. Não fosse a dependência que o governo tem do PMDB, as coisas poderiam já estar mais complicadas neste casamento político.
A carta em questão tem caráter pessoal, só que o vice foi surpreendido pelo vazamento do conteúdo, atribuído à gente do governo. O vice-presidente diz que o governo tem desconfiança em relação a ele e ao PMDB e enumera episódios para provar. Foram elencados fatos dos últimos cinco anos, todos delicados demais.
A repórter Andréia Sadi, da Globo News, teve acesso à íntegra da carta em que Temer diz: "Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A senhora sabe disso. Perdi todo o protagonismo político".
Ele reclama também que jamais foi chamado com o PMDB para discutir formulações econômicas ou políticas do país e que eram meros acessórios secundários, subsidiários. Mesmo não propondo rompimento, ele insiste na necessidade de reunificação do país.
Na noite de segunda-feira (7), Temer se reuniu no Palácio do Jaburu, que é a residência da vice-presidência com aliados políticos. Ao mesmo tempo, Dilma se reunia com ministros no Alvorada, o palácio presidencial. Não restam dúvidas de que esses fatos vão pesar e muito nas votações da Câmara sobre o processo de impeachment na terça (8).
LEIA UM TRECHO DA CARTA
"Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo. Sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao pmdb. desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido. isso tudo não gerou confiança em mim, gera desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. exemplifico alguns deles: passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo; jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir; formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários; PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso.
A senhora sabe que, como presidente do PMDB, devo manter cauteloso silêncio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária. Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o país terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.
Finalmente sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção".
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