Mandantes de assassinatos de jornalistas entre 2012 e 2014 não foram a julgamento, diz ONG
Morte de 12 comunicadores neste período tiveram relação com exercício da profissão. Brasil está entre os 10 países mais perigosos para a prática do jornalismo.
Por G1
Nenhum dos mandantes dos 12 casos de assassinatos de jornalistas ocorridos no Brasil entre 2012 e 2014 foi a julgamento até este mês de novembro, segundo um levantamento da ONG Artigo 19, que atua na defesa da liberdade de expressão em todo o mundo.
Em seis dos 12 casos, que tiveram relação com o exercício da profissão, não têm nem mesmo um suspeito indiciado, o que acontece ainda na fase do inquérito policial. Em três casos, apenas os executores foram condenados. Três mandantes já são réus, mas ainda não foram a julgamento, de acordo com a Globonews.
De 2012 até 2017, a ONG já registrou quase 30 casos de mortes de jornalistas, radialistas e blogueiros assassinados, o que faz do Brasil um dos 10 países mais perigosos para o exercício da profissão.
“É um número que impressiona muito, um número que se iguala ao de países que estão em guerra civil, como a Síria. O Brasil é considerado hoje um dos países mais perigosos para o exercício da comunicação”, afirmou Thiago Firbida, pesquisador da ONG Artigo 19.
“O Brasil é o sétimo país com maior índice de impunidade”, completou, citando um estudo do Comitê para a Proteção dos Jornalistas.
Os crimes são executados por pistoleiros. “As pessoas são contratadas para executar esses crimes, que são sempre planejados. A suspeita é de que os mandantes, em geral, sejam pessoas com acesso ao poder político, econômico, militar”, observou.
A suspeita é de que 75% dos mandantes sejam agentes do estado, políticos ou policiais, segundo o levantamento. “Portanto, essas pessoas têm influência no processo de investigação e de abertura de um processo na justiça”, ressaltou Firbida.
No caso especificamente de comunicadores, o fato de os mandantes serem ligados ao poder torna um elemento central na reprodução da impunidade, na avaliação do pesquisador. “Os casos que avançaram um pouco mais são casos que tiveram muita repercussão na mídia e muita pressão da sociedade. Mas na maior parte dos casos é possível que os mandantes tenham dificultado a investigação”, afirmou.
Os casos foram registrados em todas as regiões, mas o Nordeste tem se destacado por conta do aumento muito intenso no número de crimes. “Cada região tem sua especificidade. Em geral, a motivação é o fato de [as vítimas] fazerem denúncias ou críticas contra pessoas poderosas”.
O dia 2 de novembro foi a data escolhida pela ONU para ser o Dia pelo Fim da Impunidade em Crimes contra Jornalistas após a morte dos jornalistas franceses Claude Verlon e Ghislaine Dupont. Eles foram mortos em 2013 no Mali, na África.
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