O TSUNAMI SE APROXIMA
Por Fernando Reinach
“Tudo indica que um tsunami vai atingir o Brasil”, diz Fernando Reinach, biólogo molecular, em artigo publicado no sábado no Estadão. Na semana passada, o pesquisador já alertava para a vulnerabilidade das vacinas diante das novas cepas mutantes do Covid-19. Desta vez, Fernando Reinach volta a avisar que as vacinas não conseguem eficácia contra as cepas inglesas e sul-africanas, sendo que a de Manaus, mais virulenta, é uma grave e perigosa incógnita, pois as vacinas existentes nem foram testadas contra as mutações.
No artigo publicado hoje no Estadão, Reinach informa:
“A Europa e Manaus já estão sofrendo com novas cepas do Sars-CoV-2, que se espalham rapidamente. Elas são difíceis de controlar, aumentam o número de mortes por 100 mil habitantes, e conseguem ludibriar parcialmente o sistema imune dos já infectados e vacinados.
Para tentar deter a disseminação da cepa mutante que surgiu na Inglaterra, a Europa emprega a solução de trancar a população em casa e vacinar em questão de semanas todo o grupo de risco com as vacinas da Pfizer e Moderna. E na falta destas, com a vacina da AstraZeneca. Mas são alternativas inócuas diantes das novs mutações.
A cepa inglesa, a B.1.1.7, é três vezes mais resistente aos anticorpos presentes nas pessoas que tiveram covid-19 causada pelo SARS-CoV-2 original, e duas vezes mais resistente aos anticorpos presentes nas pessoas vacinadas.
Ou seja, não somente ela se espalha rapidamente, mas parece possuir características que a ajudam a despistar a resposta do sistema imune.
Já a cepa da África do Sul, a B.1.351, é muito mais preocupante. Ela não é bloqueada pelos anticorpos monoclonais, é de 11 a 33 vezes mais resistente aos anticorpos presentes no soro de pessoas previamente infectadas, e de 6,5 a 8,6 vezes mais resistente que o vírus original aos anticorpos gerados pelas vacinas da Pfizer e Moderna.
A conclusão é de que essas duas cepas, que estão se espalhando pelo mundo, podem tornar inúteis os anticorpos monoclonais que estão sendo desenvolvidos como tratamento e devem ameaçar de forma significativa a eficácia das vacinas. É por esse motivo que a Pfizer e a Moderna já anunciaram que estão desenvolvendo novas versões de suas vacinas.
Esse estudo não analisou a nova cepa de Manaus (semelhante à cepa sul-africana), e não analisou a capacidade das três cepas (Inglaterra, África do Sul e Manaus) de burlar as defesas criadas pelas vacinas Cononavac e AstraZeneca. Ou seja, não sabemos ainda as propriedades da cepa de Manaus, e também não sabemos nem como as vacinas que dispomos vão se comportar diante dessas novas cepas.
É uma questão de tempo a disseminação dessas cepas pelo Brasil, mas muito provavelmente elas vão chegar antes de vacinarmos uma fração significativa da população. Nos EUA se acredita que elas serão dominantes nas próximas semanas.
Desculpem o pessimismo, mas é melhor apertar os cintos e nos prepararmos para o pior. E lembrem: no início de 2020, quando o coronavírus demorou um pouco mais para chegar ao Brasil, muitos acreditavam que ele não chegaria por aqui. (Fernando Reinach, *É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL)
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