Guerra no PTB tem acusação de que pupila de Jefferson tentou ‘vender’ partido por R$ 30 milhões para Valdemar
Da Revista Crusoé – Está em curso no PTB uma crise de alta tensão que transcende a briga interna que ganhou o noticiário nos últimos dias. Por trás da confusão que fez Roberto Jefferson pedir de volta o comando da legenda a Graciela Nienov, uma antiga pupila que ele próprio havia alçado à presidência do diretório nacional depois de ter sido preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, há acusações pesadas. A mais grave delas é a de que teria havido uma negociação, com a participação de Graciela, para “vender” o PTB a Valdemar Costa Neto, todo-poderoso do PL, por 30 milhões de reais.
A briga entre Roberto Jefferson e Nienov foi deflagrada no último fim de semana, depois que o “dono” do PTB descobriu que sua pupila estava operando fortemente nos bastidores para isolá-lo dentro do partido. A descoberta se deu a partir do vazamento de trocas de mensagens em que ela aparece tramando estratégias para tirar o poder de Jefferson e de seus aliados, aos quais o grupo se refere como “seita robertista”. Até então, o ex-deputado que ganhou fama como denunciante do escândalo do mensalão petista acreditava que Graciela estava conduzindo a sigla estritamente de acordo com as suas orientações.
A trama é revestida de vários elementos importantes. Primeiro, porque o PTB é um dos principais partidos da base do governo e peça-chave do projeto reeleitoral de Jair Bolsonaro. Depois, porque ao mesmo tempo em que operava pelas costas de Roberto Jefferson – inclusive nas tratativas com Valdemar, inimigo figadal do ex-deputado desde o mensalão –, Graciela estava bem próxima do clã Bolsonaro. No período, ela conversou pelo menos duas vezes com o senador Flávio Bolsonaro e, com a ajuda do filho 01 do presidente, chegou a ser recebida em audiência pelo próprio Jair Bolsonaro.
A coincidência fez com que aliados de Roberto Jefferson chegassem a compartilhar com ele a leitura de que a traição de Graciela teria ocorrido com a anuência do presidente da República e de seu filho senador, ambos recém-filiados ao PL de Valdemar Costa Neto. Seria, a julgar por essa avaliação, um plano arquitetado com as bênçãos do Palácio do Planalto para que Valdemar pudesse se apossar do partido e de seu caixa milionário. A intenção seria, depois das eleições, fundir o PTB ao PL e, assim, formar uma espécie de superpartido. Jefferson, segundo interlocutores, optou por dar um voto de confiança a Bolsonaro e Flávio. Ele diz não acreditar que o presidente e seu filho tivessem conhecimento do estratagema de Graciela Nienov e Valdemar, o que, ao menos por ora, tranquiliza o núcleo político do governo – o próprio Bolsonaro sabe do estrago que um magoado Roberto Jefferson poderia causar.
Nos últimos dias, Crusoé falou com vários personagens da trama e esquadrinhou as acusações que, até agora, não tinham vindo a público. No centro da crise está uma dirigente do partido que, até recentemente, era da estrita confiança de Graciela Nienov. Nayara Soares, dona de um salão de beleza em Brasília e levada para o partido anos atrás pelas mãos de um dos melhores amigos de Roberto Jefferson, era presidente do PTB Mulher até 13 de janeiro.
Ainda no final do ano passado, ao perceber os movimentos para isolar Jefferson, Nayara se afastou de Graciela e virou o pivô do rompimento do ex-deputado com sua antiga pupila. Foi Nayara, que até então participava dos grupos restritos de discussão formados por Graciela, quem fez circular as trocas de mensagens nas quais a presidente do PTB e seus aliados mais próximos aparecem tramando medidas para afastar Roberto Jefferson e a chamada “seita robertista” das decisões partidárias.
Até ter acesso às mensagens de um grupo de WhatsApp mantido por Graciela sob o título “Secreto trabalho”, Jefferson hesitava em acreditar nos relatos que lhe chegavam sobre os movimentos de sua pupila. Foi só no último fim de semana, já em casa depois de Alexandre de Moraes ter autorizado sua transferência para o regime de prisão domiciliar, que ele finalmente se deu conta da traição. Além de enviar a gravação das telas em que apareciam as mensagens, com diversos áudios, Nayara também fez chegar a Jefferson um dossiê relatando outras suspeitas sobre Graciela – incluindo as tratativas com Valdemar Costa Neto.
O material continha provas cabais, algumas em áudio, das articulações para isolar Roberto Jefferson. Mas dois pontos, em especial, atiçaram a ira do ex-deputado. Um deles foi a própria aproximação de Graciela Nienov com Valdemar, tido como o maior inimigo de Jefferson na política. Outro foi uma gravação em que Graciela afirma que teria um “almoço” com Alexandre de Moraes, o algoz do ex-deputado. A intenção de se reunir com o ministro, também interpretada como traição, foi vista ainda como uma tentativa da presidente do PTB de garantir que Jefferson permanecesse preso.
“Em janeiro eu vou ter que ir lá almoçar com o Alexandre. Fiz esse compromisso. Paciência. Bora lá”, diz Graciela no áudio. “Bora lá, bora lá porque, guria, a única coisa que eu quero é o STF de costas pra nós, fingindo que a gente não existe, e nós tudo solto, lépido e faceiro. Porque não tem condições, não dá para brincar quando o cara tem a caneta para te botar dentro de uma cela. Nem pensar”, responde logo depois uma aliada. Em nota, Alexandre Moraes negou que tenha se reunido com Graciela Nienov.
Em um bilhete enviado a integrantes do partido ainda no fim de semana, Roberto Jefferson, até hoje presidente de honra do PTB, anunciou que Graciela deixaria o comando da legenda. “A Graciela me pediu demissão, eu aceitei, pois após os áudios do grupo dela perdeu qualquer condição moral ou política para continuar à frente da presidência. A Graciela me desqualificou e me traiu. Quis apagar minhas lutas e o meu legado”, escreveu. A disputa está em aberto, e nesta semana virou até caso de polícia. Graciela Nienov resiste a deixar a presidência do PTB. Na segunda-feira, aliados de Roberto Jefferson foram à sede do partido para formalizar a destituição, mas a iniciativa acabou na delegacia: em uma queixa prestada na Polícia Civil de Brasília, ela sustenta que está sendo “intimidada” a renunciar.
Sobre a parte ainda inédita da crise, a acusação de que Graciela Nienov estaria oferecendo o PTB para Valdemar Costa Neto, Nayara Soares falou com Crusoé nesta terça-feira, 1º. Ela diz que, dentro do partido, várias pessoas tiveram conhecimento das tratativas com o PL. Indagada sobre a origem da informação de que a negociação envolvia o pagamento de 30 milhões de reais, ela respondeu: “São conversas internas. Não sou só eu que sei as coisas. Existem outras pessoas que também sabem”.
De fato, a presidente da legenda trabalhista e Valdemar se reuniram a portas fechadas no dia 12 de janeiro. O encontro ocorreu um dia depois da audiência de Bolsonaro com a presidente do PTB no Palácio do Planalto. “A minha pergunta é: até que ponto Bolsonaro sabe disso? Até que ponto Bolsonaro sabe que Graciela fez acordo com Valdemar para a fazer fusão do PTB com o PL?”, indaga Winter, que após a eclosão da briga se alinhou ao grupo de Roberto Jefferson. O marqueteiro, que tem acesso direto a Flávio Bolsonaro e já recebeu afagos públicos do presidente da República, foi também o responsável por levar o notório Fabrício Queiroz para uma reunião com Graciela Nienov, em 9 de dezembro do ano passado. Àquela altura, Queiroz queria tratar da filiação ao PTB, partido pelo qual pretendia se lançar candidato a deputado federal.
Para além da acusação de que estaria em curso uma negociata com Valdemar, o pacote de denúncias levado a Roberto Jefferson que detonou a crise interna no partido continha ainda suspeitas de malversação de recursos do caixa do PTB. Nayara Soares afirma que, durante a presidência de Graciela Nienov, houve uma série de irregularidades com dinheiro do partido. Ela fala, por exemplo, em saques frequentes de altos valores da conta de uma empresa contratada para prestar serviços ao PTB. Também diz que Graciela tinha despesas pagas irregularmente pela sigla, como o aluguel de um imóvel em Brasília.
Procurada, Graciela Nienov rechaçou a acusação de que estaria negociando uma suposta fusão com o PL com Valdemar Costa Neto. Ela admite que conversou com Valdemar, mas apenas para tratar da organização da base governista para as eleições deste ano. “Estamos à frente de partidos da base de apoio a Jair Bolsonaro. É natural que conversemos. Falei não só com Valdemar, mas também com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, do PP”, disse ela. A presidente do PTB afirmou que irá processar quem a acusa de irregularidades. “Sobre essa acusação de que teria dinheiro envolvido, vou processar todos que fizerem essa afirmação absurda”, declarou. Valdemar Costa Neto, por sua vez, negou por meio de sua assessoria ter negociado com Graciela Nienov uma possível fusão do PTB com o PL. Indagado sobre o teor das reuniões que te
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