O que o histórico de abstenções indica para o duelo Lula-Bolsonaro
Levantamos os números desde a primeira eleição em que houve segundo turno no país. Tendência é o número de faltantes aumentar
Mas os resultados do primeiro turno da corrida presidencial, com uma diferença de pouco mais de 6 milhões de votos entre Lula e Jair Bolsonaro e uma abstenção recorde de 33 milhões de eleitores, trouxe uma questão: quais são as chances de os ausentes do último domingo aparecem para votar no próximo dia 30, quando os brasileiros decidirão quem governará o país a partir de janeiro do ano que vem.
A coluna foi olhar os números de todas as eleições das últimas duas décadas e eles mostram que as abstenções tendem a ser maiores no segundo turno do que no primeiro.
Desde 2002, sempre que houve segundo turno a quantidade de eleitores que voltaram às urnas para escolher o presidente da República foi menor do que a soma dos votantes na primeira rodada de votação.
Não significa, evidentemente, que os faltantes não possam comparecer no próximo dia 30. Mas é um dado a ser considerado, já que as duas campanhas miram os votos desses brasileiros, que seguirão aptos a votar e, teoricamente, podem definir o resultado final em favor de um candidato ou do outro.
No domingo passado, a taxa de abstenção chegou a 20,95%. Foi a maior desde 1998, quando o percentual de ausentes foi de 21,49%. De 1998 a 2006, o número de ausentes no primeiro turno foi diminuindo ao longo do tempo. Mas voltou a crescer em 2010, quando Dilma Rousseff, do PT, disputou a cadeira de presidente com José Serra, do PSDB.
Cientista político e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Geraldo Tadeu explica que as abstenções em segundo são tradicionalmente maiores em todos os países que têm segundo turno. “Quando se tem o número de opções reduzido, os eleitores dos eliminados não se sentem compelidos a votar”, diz.
Para o professor de Ciência Política Lúcio Rennó, da Universidade de Brasília, as abstenções no próximo dia 30 devem preocupar principalmente a campanha de Lula. Rennó analisou as eleições presidenciais de 1994 a 2014 e diz que a abstenção alta tende a ser mais prejudicial ao PT.
“Quem tende a comparecer menos é um eleitorado de baixa renda e de estados mais pobres, onde o PT vai melhor. Por isso, existe essa percepção de que o Lula seria o mais prejudicado com um aumento da abstenção no segundo turno”, explica.
A polarização da disputa presidencial deste ano, porém, pode trazer uma novidade em relação à linha histórica, apostam os dois analistas. Isso porque quanto mais inflamada é a disputa, maior é a chance de os eleitores se mobilizarem e fazerem um esforço extra para comparecer às seções eleitorais.
Será, certamente, mais um elemento a marcar a corrida presidencial deste ano como uma das mais emocionantes desde a redemocratização.
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