quinta-feira, 14 de abril de 2016

A favor do "Impeachment" Padre é criticado no Rio de Janeiro




Padre defende o impeachment e é criticado por Arquidiocese do Rio


O padre Claro Antonio Jácomo, que falou a favor do impeachment em sermão em igreja no Rio
O padre Claro Antonio Jácomo, que falou a favor do impeachment em sermão em igreja no Rio
SERGIO RANGEL
DO RIO
No altar de uma das mais tradicionais igrejas do Rio, o padre Claro Antonio Jacomo, 72, aproveitou o sermão da missa da tarde de terça (12) para fazer um discurso pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Diante dos fiéis, ele comemorou a aprovação do relatório da Câmara favorável ao impedimento da presidente e ainda arriscou um palpite para a votação no plenário no próximo domingo.
O sacerdote conduzia a missa normalmente na igreja São Francisco de Paula, no centro do Rio, até que, ao comentar os debates sobre a interpretação da Bíblia, deixou a religião de lado e entrou na política.
“É um debate que parece muito com esse chamado impeachment. Um deputado mostra um lado, o outro mostra outro. Um berra de um lado, o outro berra de outro. Ainda não saíram no tapa, por enquanto. Mas já foi preciso o presidente da mesa sair para ir conter o alvoroço que um deles estava fazendo para atrapalhar a reunião”, disse o padre aos fiéis.
“Vamos dar graças a Deus que o depoimento pró-impeachment foi simplesmente 38 votos contra 27 [pela aprovação do relatório]. E espero que, também na votação final, seja 370 contra 27, e está ótimo também”, disse.
A declaração arrancou a aprovação de um fiel, o contador Mauro de Lima, 39, que levantou os braços para o alto logo após o padre fazer uma pausa. “É justo ele se manifestar também. Ninguém mais aguenta essa situação”, disse Lima àFolha.
Em nota, a Arquidiocese do Rio afirmou que “o padre Claro não deveria ter manifestado a sua opinião durante a missa”. Segundo a assessoria, a Arquidiocese não dá qualquer orientação sobre o assunto “pois cada um é livre no exercício do seu voto consciente”.
Depois da celebração, o padre defendeu seu pronunciamento e disse que não temia ser punido pela Arquidiocese do Rio.
“Não acredito que possam me punir por isso. Estou falando como cidadão, mas também falo como Igreja. Faço parte dessa igreja, e esse membro é a favor do impeachment. Se os outros não são, esse é a favor”, disse Jacomo, que é padre há 28 anos.
A igreja São Francisco de Paula é a segunda maior do Rio. O templo reúne trabalhos de importantes nomes da pintura, escultura e arquitetura, como Mestre Valentim. A igreja foi inaugurada oficialmente em 1865 pelo imperador D. Pedro 2º.
Nesta sexta (15), Jacomo celebrará uma missa na igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, outra tradicional do centro do Rio –foi palco de alguns momentos marcantes da história do Brasil, como a coroação de d. Pedro 1º e d. Pedro 2°, além de cenário dos casamentos reais.
Ao justificar seu discurso, o padre disse que não gosta de ficar “em cima do muro”.
“Veja a desvalorização do salário mínimo, a desvalorização da pensão dos idosos. Os nossos hospitais públicos não têm vagas para atender nosso doente. O que está acontecendo com o nosso país? Não tem dinheiro para nada. Onde o dinheiro deste país foi parar?”, questionou.
“Se isso está acontecendo, acho que o impeachment é a coisa melhor que pode existir para entrar uma nova cabeça. Uma pessoa que sirva o país. O maior é aquele que serve. Não o que se beneficia”, afirmou o padre, que diz ter João Paulo 2º como sua referência.
Nesta quarta (13), o bispo de Campos dos Goytacazes (RJ), Roberto Ferrería Paz, afirmou que a atual crise política do país tem origem “na corrupção eleitoral”.
“Onde está a causa é origem da crise? Nós vemos que a crise está, lamentavelmente, na corrupção eleitoral, que leva a comprometimentos escusos com o poder econômico”, disse à Folha.

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