Mesmo sem ocupar o gabinete de ministro-chefe da Casa Civil, no quarto andar do Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está trabalhando intensamente como articulador político do governo e conversando com um a um dos deputados de partidos aliados para pedir apoio contra o processo de impeachment da presidente Dilma. O argumento que ele tem dado é o de que, rejeitado o pedido de afastamento, o governo será o dele.
"Depois desse processo todo, será o meu governo", teria dito o ex-presidente Lula, segundo um interlocutor. O argumento "o meu governo" é no sentido de abrir mais espaço aos políticos, coisa que Dilma não fez nestes cinco anos de seus dois mandatos, razão da principal queixa dos partidos aliados. Ele também quis dizer que tem capacidade de reagir e recuperar confiança para melhorar a economia do país.
A articulação política do governo é formar um bloco com PP, PR e PSD. Os três partidos decidiram andar juntos nas conversas sobre o processo de impeachment. Juntos, somam 129 votos e poderiam assegurar entre 80 e 90 para rejeitar o pedido de impeachment. Estes, somados aos votos de PT (59); mais 10 do PC do B; e outros tantos do PDT, PSOL; ainda alguns entre 15 a 20 votos do PMDB; e também votos dos conservadores PTB, PRB e também do PSB (pelo menos dois) e partidos nanicos, seriam suficientes para o governo sair vitorioso, segundo cálculos de deputados destes partidos. Este tem sido também o discurso de Lula para animar os deputados.
"Na segunda-feira, um partido dizia ter apenas dois votos a favor do governo. Na terça, já eram 12 e agora já tem mais", disse um deputado, para mostrar que está surtindo efeito a ofensiva de Lula aos deputados.
"Todos sabem que um parlamentar se anima com a oferta de cargos e com um convite para ir ao Palácio, mas depois terá de enfrentar a pressão das ruas", disse um deputado, lembrando que a tática dos dois lados é demonstrar otimismo com a perspectiva de vitória.
Para dar uma compensação a esses partidos, a presidente Dilma deve reorganizar o governo, abrindo mais espaço para essas legendas - mais ministérios e também substituindo muitos dos cerca de 700 cargos que hoje são ocupados pelo PMDB.
Além de mirar em Michel Temer, o discurso do governo, agora, será o de que é o primeiro governo em 30 anos a ter colocado o PMDB "para fora do poder".
Cristina Lôbo
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