Artigo: Alteridade e vida
Por Carlos Lula
Alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal, considerando as diferenças entre os indivíduos e suas particularidades enquanto seres humanos. Exemplos práticos de alteridade são cada vez mais raros na sociedade do individualismo e da falta de coletividade. Essa falta de preocupação com o bem-estar do outro tem provocado consequências negativas por todo o mundo, e é essa alteridade que nos faz, especialmente no mês de setembro, ampliar as discussões com foco na prevenção ao suicídio.
Sabemos que muitas vezes os obstáculos parecem intransponíveis, mas o mundo nem sempre é justo e a perfeição que a sociedade nos impõe nos pressiona de modo que chega a ser angustiante. A depressão é uma doença muitas vezes silenciosa que atinge nossos amigos, familiares, vizinhos e conhecidos e é a principal causa do suicídio. O que se passa por dentro de nós e as lutas diárias particulares podem nos oprimir e resultar em consequências graves. Uma alternativa parece ser lutar contra as imposições do mundo e buscar motivações e sentido na vida, igualmente particulares.
O tema é ainda mais complexo por se tratar da consequência de uma motivação pessoal, o que não exclui a nossa responsabilidade enquanto gestores públicos e sociedade civil pelos dados alarmantes. O mais recente relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), realizado em 2016, indica que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio, o que resulta em uma média de 800 mil suicídios por ano no mundo. No Brasil, são 32 suicídios por dia e, no Maranhão, 269 casos foram registrados em 2016.
Ainda segundo a OMS, 9 em cada 10 casos podem ser evitados através da compreensão, da conscientização, de informações sobre o assunto e da oferta de um tratamento adequado. Transtornos mentais, decorrentes do abuso de substâncias psicoativas ou depressão, esquizofrenia, transtorno de ansiedade e personalidade; questões sociodemográficas, com indivíduos de estratos econômicos extremos, residentes em áreas urbanas, desempregados, aposentados, em isolamento social, solteiros ou separados; problemas psicológicos; e condições clínicas incapacitantes são alguns fatores de risco para o suicídio.
É considerando esse contexto, que o poder público estadual tem investido em serviços e ações de prevenção ao suicídio. Especialmente durante a campanha do Setembro Amarelo, o Governo do Estado intensificou as palestras sobre o assunto, com o intuito de esclarecer a sociedade e divulgar os serviços oferecidos. Além das ações de prevenção nas escolas e comunidades, com palestras e oficinas, o governo oferece atendimento individual e grupos terapêuticos especializados na prevenção do suicídio, e ainda grupo de apoio às pessoas que apresentem alguma vulnerabilidade ligada ao suicídio.
Somados a essas atividades, estão os serviços dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Equipes dos CAPS são responsáveis pelo cuidado de pessoas que sofrem de algum transtorno psíquico. Esses profissionais lidam constantemente com indivíduos em situação de crise, quando é considerado alto o risco de suicídio. No Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPS AD), as atenções são voltadas para o combate ao uso de substâncias psicoativas, que também podem levar ao suicídio.
É fundamental conversar sobre suicídio e expandir as discussões para que as pessoas possam se sentir livres para falar, sem serem julgadas e silenciadas pela sociedade. Por isso, é importante praticar a alteridade. Muitas pessoas, por medo ou desconhecimento, não falam sobre o assunto. Nesse contexto, compreender o outro é fundamental para identificar sinais de um comportamento suicida. Para isso, a sociedade precisa estar aberta ao diálogo e motivada a cuidar do próximo.
As estatísticas nesse caso (ainda preocupantes) não são apenas números, são pessoas que perdemos a cada dia que passa. Nosso trabalho diário na saúde é pela vida dos maranhenses, de cada um. E nada mais é tão precioso quanto a vida, por esse motivo somos todos convocados para essa luta! A quem precisa, estendemos as nossas mãos. Desejamos contar com vocês e espero que contem conosco.
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