terça-feira, 7 de abril de 2015

Abdon Marinho - A liberdade é azul a igualdade é branca e a fraternidade é vermelha



A IGUALDADE É VERMELHA?


 Abdon Marinho
Advogado
Adolescente travei contato com a obra do polonês Krzysztof Kieślowski (Não se preocupem, também nunca aprendi a pronunciar. Rsrs.)(Varsóvia, 27 de junho de 1941 — Varsóvia, 13 de março de 1996). Dentre tantas detive-me na Trilogia das Cores (A liberdade é azul, A Igualdade é Branca e A Fraternidade é Vermelha). Não sei a razão que fez lembrar essa trilogia, apenas um palpite.
As últimas notícias da polícia/política dão conta da seguinte situação: uma gangue apoderou-se do poder estatal para repassar dinheiro a partidos políticos e aos seus líderes. O partido do governo, principal envolvido no esquema, segundo depoimentos usou o poder para subverter toda sua história. Um dos empresários, em curso de delação premiada, entregou à justiça recibos que comprovam a doação de propinas como se fossem verbas legítimas. Esse fato nos remete a outra situação: o partido alega reiteradamente que as doações recebidas ocorreram dentro da lei e que suas contas foram aprovadas pela justiça eleitoral.
Temos empresários afirmando-se vítimas de achaques e confessando que a doação é fruto de propina, dinheiro sujo que subtraído de obras públicas acabaram por alimentar contas de corruptos e do partido através de doações fajutas. Noutra ponta temos o partido afirmando que suas contas foram aprovadas pela justiça.
A conclusão desta equação me parece óbvia: o partido usou a instância judiciária, no caso o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), para “lavar” o dinheiro sujo. Será que alguém tem notícia de maior ousadia?
Entre os argumentos usado pelo Partido dos Trabalhadores – PT, diante da avalanche de denúncias, um me chamou mais a atenção: aquele que diz que apenas agem agora como todos os demais agiram no passado. Não deixa de ser curiosa essa busca pela igualdade extemporânea.
Desde a sua origem o partido dizia ser diferente de tudo que estava ai, não se misturaria, nem abdicaria da ética, da honestidade, do zelo com dinheiro público. Criariam um jeito próprio de governar.
Se seus militantes e lideranças participaram ativamente da campanha pelas diretas em 1984, não tendo a emenda passado (faltaram 22 votos), colocaram-se frontalmente contrários à participar da eleição de Tancredo Neves que disputava contra Paulo Maluf no Colégio Eleitoral, pondo fim ao círculo militar.
O argumento: não iriam legitimar um instrumento da ditadura.
Eleito Tancredo Neves, com sua morte antes da posse, assumiu a presidência o vice, José Sarney, a quem o partido fez oposição desde o começo. Tinham que manter a pureza do discurso. Em tempos de democracia em consolidação, organizavam manifestações contra o governo. O líder máximo do partido, Sr. Lula, referia-se ao presidente Sarney como o maior ladrão do Brasil, inclusive, em comícios.
O mesmo Sr. Lula, eleito em 1986, para o Congresso Nacional Constituinte, cunhou a frase de que lá havia ao menos uns 300 picaretas. Não duvido que estivesse com razão, nem nisso nem criticas ao governo Sarney. Estranho foi ver Sarney e Lula fazendo juras de amor eterno vinte anos depois; ver o Sr. Sarney se tornar irmão de alma do líder petista, conselheiro dos seus governo e de sua sucessora a ponto de, não sendo detentor de cargo algum na República, ocupar posição de honra em poses e solenidades. Logo ele para qual, tantas vezes, foram feitas manifestações de “Fora Sarney”.
O Congresso Nacional Constituinte empossado em 1987, em outubro de 1988, apresentou seu resultado: a Constituição, apelidada por Ulysses de Guimarães, Constituição Cidadã. Em que pese os deputados filiados ao Partido dos Trabalhadores – PT, terem dado contribuições significativa ao novel estatuto do Brasil, embora criando inúmeras picuinhas durante todo processo, decidiram não assinar a Constituição. Entenderam que não representava o seu pensamento para o país, “muito atrasada”, “direitista”, síntese do pensamento burguês. Em resumo: eram diferentes, queriam algo “melhor”.
O ano de 1989 foi especial, pela primeira vez iríamos eleger um presidente da República diretamente. Dentre os candidatos, pessoas com a história de Ulysses Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola. O povo brasileiro escolheu para disputar o segundo turno os candidatos Sr. Lula, líder do Partido dos Trabalhadores e o obscuro ex-governador de Alagoas Fernando Collor de Mello. Vencendo o segundo, como é do conhecimento de todos.
Rememoro esse fato para registrar que o Partido dos Trabalhadores – PT, que pretendia dirigir o país, recusou o apoio de pessoas como Ulysses Guimarães, dizia que não queria se misturar.
O governo Collor começou a cair no dia da posse, em março de 1990. Basta dizer que a primeira medida do novo governo foi o confisco da poupança dos brasileiros. Mas não caiu por isso e sim pelos negócios escusos, corrupção. Claro que se olharmos com a perspectiva dos atos de corrupção praticados na atualidade, Collor não passou de um inocente trombadinha com o seu tesoureiro de campanha PC Farias no papel de ladrão de galinhas. Além da mobilização da sociedade pelo impeachment de Collor, dos movimentos sociais, estudantes, destacou-se na campanha o Partido dos Trabalhadores, um dos primeiros a participar do movimento “Fora Collor”.
Vendo os fatos daqueles anos (1991/1992), com os olhos de hoje, imagino o quanto foi traumático para a nossa democracia: o primeiro presidente eleito pelo povo foi o primeiro a sofrer processo de impeachment.
O governo Itamar Franco tinha a enorme responsabilidade de não transigir e de buscar forças políticas que garantissem a normalidade democrática. Buscou a todos. O PT não quis participar, pelo contrário, como no governo anterior, fez-lhe cerrada oposição, denunciou ministros (que diferente de agora, foram afastados até que provassem suas inocência), colocou-se contra o Plano Real, dizia que era mais um plano condenado ao fracasso. Estavam errados, e, principalmente, graças ao Plano Real, FHC elegeu-se duas vezes presidente da República contra o Sr. Lula, candidato do Partido dos Trabalhadores – PT.
Como não poderia ser diferente, o PT fez oposição sem trégua aos governos FHC, acusando-os de tudo, corrupto, neoliberal, entreguista, etc. Acho que os adesivos “Fora FHC”, surgiram ainda no primeiro governo.
Após uma existência inteira apontando os pecados dos outros, o Partido dos Trabalhadores – PT, através do Sr. Lula conquista o poder nas eleições de 2002, começando a governar em 2003. Não é segredo que para conquistar a vitória, compromete-se a manter as mesmas políticas do governo anterior. A mesma tantas vezes satanizadas, para eles uma leve concessão.
Apesar de mantida as linhas mestras da política econômica o partido tratou de implantar seu projeto político e de poder para o país. Assim, temos, já a partir de 2003/04, segundo o Sr. Pedro Barusco, que amealhou pelo menos US$ 97 milhões de dólares em propina e que era o sub do sub do Sr. Duque, homem do partido dentro da Petrobras, dizendo com todas as letras que neste período, entre 2003 e 2004, que a corrupção foi institucionalizada dentro da empresa.
Em outras palavras, tudo que qualquer empreiteira, fizesse tinha que contribuir com o partido do presidente e mais alguns partidos da base aliada. A mesma prática – isso já foi confessado por quem participou do esquema – se estendeu por todos os demais órgãos, ministérios. Isso sem contarmos os empréstimos generosos do BNDES que ninguém quer mexer ou os fundos de pensão dos trabalhadores das estatais, cujo o patrimônio foi dilapidado e querem que a sociedade brasileira pague por isso.
Lembro que em 2005, logo que ficou patente o envolvimento do partido no esquema apelidado de Mensalão, muitos parlamentares e filiados do partido deixaram a legenda. Outros, mais cínicos – e digo isso por que ouvi da boca de alguns –, entenderam que para fazer sua “revolução” teriam que fazer uso das armas dos adversários. É isso que muitos dizem cinicamente ainda hoje, que todos que chegam ao poder têm que fazer isso, tem que roubar o dinheiro público, têm que enricar suas lideranças e seus apaniguados, pois estes darão sustentação ao projeto revolucionário. Por isso que o Sr, Dirceu, o maior consultou da história da humanidade, capaz de faturar com suas consultorias, até atrás das grades, é o herói do povo brasileiro, para eles; o Sr. Lulinha, que era empregado de um zoológico, se torna um empresário de sucesso e a versão dada pelo Sr. Lula, seu pai, para tanto talento, surgido da noite para dia, mais precisamente, depois da noite que o pai virara presidente, de que o rapaz é um “Ronaldinho” dos negócios é aceita como um dogma de fé. E por aí vai. Estão quase todos ricos, milionários. A cada operação da Polícia Federal se descobre o envolvimento direto ou indireto dos que juraram governar o Brasil de maneira diferente, ética, com zelo.
Os campeões da ética e da pureza usaram o poder para enriquecer.
Apesar disso, com doze anos de mandato o Partido dos Trabalhadores – PT, seus dirigentes de fora e dentro do governo reclamam da oposição. Logo eles que não deram um dia de trégua a qualquer governo os precederam. Não deixa de ser irónico.
Outro dia ouvi um debate onde se questionava o “absurdo” que seria o impedimento da presidente Dilma Rousseff pois quem assumiria seria o vice, Michel Temer, do PMDB, e ainda, estenderam a linha sucessória para o Cunha, presidente da Câmara dos Deputados e para o Renan, presidente do Senado Federal.
Quer dizer que a Dilma não pode sair por que corremos o risco de sermos governados por eles? Mas não foi PT que os fortaleceu nos seus anos de governo? Não são de sua inteira confiança? Não foi o partido que os convidou para serem seus aliados de primeira hora? Para serem sócios no poder?
Não é demais lembrar que o PMDB, que acham um risco para o país, como o Sarney (ex-maior ladrão do Brasil, alçado à condição de irmão de alma do Sr. Lula), como Maluf, como Collor (ex-filhote da ditadura, aliado de primeira hora), como Renan, como Jucá, como Barbalho, como a turma do PP, como tantos outros, são os parceiros e sócios de poder do Partido dos Trabalhadores, são os diletos auxiliares do partido no condomínio.
Antes que venham dizer tiveram que fazer isso para poderem governar, para trazerem os grandes benefícios ao povo brasileiro, afirmo que isso não é verdade. Quando chegaram ao poder em 2003, poderiam ter criado outra correlação de forças, com os tucanos, com os avulsos, com os seguimentos mais respeitáveis da sociedade. Poderiam fazer um governo verdadeiramente de união nacional, com as melhores cabeças do país. A sociedade dava condições para isso. A opção pela banda podre da política; a escolha de buscar a compra de parlamentares; de aliar-se aos mais atrasados foi uma escolha consciente de quem queria se igualar ao pior.
O grande mantra do Partido dos Trabalhadores, hoje, é querer ser igual aos demais partidos. Repetem aos quatro cantos: só fizemos os que os outros fazem, somos iguais aos outros. O problema é que os outros dizem que jamais ousariam tanto, que são inocentes diante de tudo que já fizeram.
O partido que passou a vida dizendo ser diferente dos demais, apela para ser igual aos demais, só que todos acham que é, de fato, diferente. Diferente para pior. Definitivamente, a igualdade não é vermelha.
Abdon Marinho é advogado.
P.S. Os fatos estão com lembro. Uma impropriedade ou outra não tira seu mérito. Embora acredite que não haja nenhuma.

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