Aguardente de mandioca maranhense vira bebida de luxo no RJ
Exame – Você já ouvir falar em tiquira? A aguardente feita de mandioca é uma bebida famosa no Maranhão, mas pouco conhecida fora desse estado. A empreendedora carioca Margot Stinglwagner percebeu essa oportunidade e resolveu repaginar a bebida típica para um mercado premium.
Assim nasceu a Tiquira Guajaa (o segundo nome vem de uma tribo indígena homônima). Ela trocou Ipanema e seu trabalho no mercado financeiro pela região de Santo Amaro, nos lençóis maranhenses. “Queria fugir um pouco desse ambiente de instabilidade, tendo uma fonte de renda mais material. Eu também gosto de uma vida mais simples, em que você conhece todo mundo da cidade”, conta.
A primeira ideia de Margot era cofundar uma pousada em Santo Amaro (MA). Quando seus sócios desistiram da ideia, Margot resolveu aproveitar o fato de já ter alugado uma casa para conhecer a região. “Fui em uma festa típica de lá, a do Bumba-meu-boi, e percebi que o pessoal servia uma bebida para quem estava na roda, batucando no ritmo da música. Perguntei o nome e descobri que era tiquira. Até então, nunca tinha ouvido falar dessa bebida.”
Mesmo que trocar a pousada pela aguardente possa parecer estranho aos demais, na família de Margot já era sabido que havia a necessidade de alambiques mais profissionais. Isso porque os pais de Margot já conhecem o ramo de bebidas: seu avô tinha uma cervejaria na Alemanha e seu pai foi convidado pela Brahma a trabalhar no Brasil, como mestre cervejeiro. “Descobri que meu pai também tinha esse sonho. Ele achava que os alambiques atuais tinham muito que evoluir – a maioria, ainda hoje, são informais”, conta.
Produção
Para profissionalizar a produção de destilados, Margot estudou no Centro de Tecnologia da Cachaça, em Minas Gerais. Montou um alambique na cozinha de seu apartamento em Ipanema, onde fez diversos testes para a produção da tiquira. Após três anos de montagem, por meio de capital próprio, a fábrica em Santo Amaro ficou pronta. A empreendedora voltou ao Maranhão e, finalmente, fundou a Tiquira Guajaa.
Tudo começa com a limpeza da chamada mandioca brava, que contém componentes tóxicos. Para produzir o álcool na bebida, é preciso que haja açúcar. Em uma cachaça, o açúcar está presente logo que a cana-de-açúcar é espremida. Na mandioca, porém, o que existe é o amido.
“Temos que transformar o amido em açúcar, quebrar essas cadeias maiores de açúcar em cadeias menores, e só então fermentar a destilar. Também temos que filtrar a massa de mandioca que fica”, explica a empreendedora. “Criamos todo um processo industrial, com equipamentos específicos, e patenteamos”. Na produção local, a tiquira demora cerca de 21 dias para ser produzida. No negócio de Margot, leva 30 horas.
Assim, a bebida parece cachaça (veja a foto acima), mas não é. “Há uma música conhecida por aqui, que diz: ‘Você acha que tiquira é cachaça, mas tiquira não é cachaça não. Cachaça vem da cana, e tiquira vem do Maranhão'”, conta Margot.
Essa ideia de que a bebida não vem apenas da mandioca, e sim da região, foi fundamental na hora de criar a Tiquira Guajaa. “O governo do estado nos dá incentivo e reconhece nosso trabalho, já que divulgamos o nome do Maranhão de uma forma boa. A tiquira não é um produto qualquer, é algo que está na essência desse lugar.” O reconhecimento da aguardente como um bem cultural do estado já está em andamento no governo local, segundo a empreendedora.
Por isso, Margot explica que a ideia já era instalar a indústria no Maranhão, antes mesmo de ela conhecer o conceito de “fair trade” (comércio justo, em que há diálogo entre produtores locais e empresas). “Falamos com as pessoas da região para fornecerem nossa matéria-prima, incentivando o plantio da mandioca. Todo o resto da produção da Tiquira é reaproveitado lá mesmo, como ração para animais, por exemplo.”
Mercado
A Tiquira Guajaa chegou ao Rio de Janeiro em maio deste ano. Por três meses, foi comercializada com exclusividade no hotel Fasano, seja pura ou em drinks que levam a aguardente na composição. Hoje, a tiquira está presente também em locais como o Palace, Braseiro da Gávea e o hotel Caesar Park. No ano que vem, a ideia é que a bebida chegue também a São Paulo.
A garrafa de meio litro custa 60 reais. Hoje, 500 litros são produzidos por mês, mas há a previsão de alcançar mil litros quando a Tiquira Guajaa passar a exportar. Como isso depende de certificações internacionais e vistorias, ainda não há uma data específica para o começo dessa venda internacional, explica Margot. “Miramos países como Alemanha, Bélgica, Portugal e Estados Unidos. Já recebemos pedidos desses lugares.” Marrapá.
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