Cerveró e Delcídio discutiam plano para evitar delação premiada. Bernardo Cerveró fez a gravação da conversa usando um celular.
O líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, do PT de Mato Grosso do Sul, passou a noite numa sala da Polícia Federal, em Brasília. O senador vai ficar na Superintendência da Polícia Federal. Ele só pode ser transferido por uma decisão do Supremo Tribunal Federal.
Nesta quinta-feira (26), um assessor levou café da manhã para o senador. Depois, o advogado chegou e disse que iria se reunir com Delcídio para discutir a defesa. O depoimento do senador está marcado para hoje. O assessor, Diogo Ferreira, e o banqueiro André Esteves já foram ouvidos pela Polícia Federal.
Já o advogado Edson Ribeiro flagrado nas conversas foi localizado nos Estados Unidos. Investigadores dizem que ele ainda não foi preso por questões burocráticas. Ainda falta uma autorização nos Estados Unidos. O visto de Ribeiro foi cancelado. Ele deve voltar ao Brasil assim que for preso.
As prisões de quarta-feira (25) foram resultado de uma gravação feita numa reunião do senador Delcídio do Amaral com o chefe de gabinete, Diogo Ferreira, o advogado Edson e Bernardo Cerveró. A conversa foi gravada por Bernardo, com um celular no bolso. Nela, eles discutiram um plano para evitar que o ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró, pai de Bernardo, assinasse um acordo de delação premiada:
Edson: tá acertado isso. Então não vai ter.
Não tendo delação, ficaria acertado isso. Não tendo delação. Tá? E se houvesse delação, ele também excluiria. Não é isto?
Delcídio: é isso.
Segundo a Procuradoria-geral da República, o senador também ofereceu uma mesada de R$ 50 mil à família de Nestor Cerveró e um plano de fuga do ex-diretor da Petrobras para a Espanha, passando pelo Paraguai.
Delcídio: mas ele tando com tornozeleira como é que ele deslocaria?
Bernardo: não, aí tem que tirar a tornozeleira, vai apitar e já tira na hora que tiver, ou a gente conseguir alguém que...
Edson: isto a gente vai ter que examinar.
Bernardo: é...
Delcídio comentou que Nestor Cerveró teria citado a presidente Dilma na negociação da delação premiada. “Aí, por exemplo, no caso da Dilma, ele disse: 'a Dilma sabia de tudo de Pasadena. Ela me cobrava diretamente. "Pá pá pá"”...
Na conversa, o senador Delcídio do Amaral dá a entender que poderia influenciar ministros doSupremo Tribunal Federal.
Delcídio: agora, Edson e Bernardo, é eu acho que nós temos que centrar fogo no STF agora, eu conversei com o Teori, conversei com o Toffoli, pedi proToffoli conversar com o Gilmar, o Michel conversou com o Gilmar também, porque o Michel está muito preocupado com o Zelada, e eu vou conversar com o Gilmar também.
Edson: tá.
Os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli negaram ter sido procurados pelo senador ou qualquer outra pessoa.
“Não recebi nem por parte do presidente do Congresso muito menos por parte do vice-presidente Michel Temer qualquer referência ou apelo em relação a este ou a outro caso em tramitação nesta corte”, fala o ministro do STF, Gilmar Mendes.
“Jamais tive qualquer tratativa com esse senador a respeito do tema específico em que ele se gabava de ter tipo algum tipo de conversa. Deixo já de pronto isso espancado”, fala o ministro do STF, Dias Toffoli.
O ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada, citado nas gravações, está preso no Paraná. Segundo os investigadores, ele recebeu propina para favorecer uma empresa na contratação de navios-sonda e teria repassado parte do dinheiro ao PMDB.
O PMDB negou todas as acusações. A assessoria da vice-presidência da República informou que Michel Temer nunca tratou com Delcídio sobre o assunto citado na gravação. O Palácio do Planalto não quis comentar a suposta citação do nome da presidente Dilma Rousseff por Nestor Cerveró.
A defesa do senador Delcídio do Amaral afirmou que está inconformada com a decisão do STF e que a constituição não autoriza a prisão de um parlamentar com mandato.
O Partido dos Trabalhadores (PT) divulgou nota dizendo que as acusações contra o senador Delcídio do Amaral não têm relação com a atividade partidária e, que por isso, o PT não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade.
O advogado do banqueiro André Esteves negou o envolvimento do cliente e disse que o nome de André foi usado indevidamente. Os advogados de Diogo Ferreira devem pedir a revogação da prisão dele ainda nesta quinta-feira (26). O Jornal Hoje não conseguiu contato com a defesa de Edson Ribeiro.
Por questões de segurança, o juiz Sérgio Moro transferiu nesta quarta-feira (25) o ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró, de um presídio comum para a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.
Gravação da conversa
A iniciativa de revelar as tentativas de Delcídio do Amaral de barrar as investigações da Lava Jato partiu do filho de Cerveró, Bernardo.
No dia 4 de novembro Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, reservou um quarto em um hotel em Brasília para a reunião. Ele chegou à tarde e decidiu gravar a conversa porque estava desconfiado que o então advogado do pai estivesse fazendo jogo duplo, e tentando ajudar o senador Delcídio do Amaral.
Enquanto esperava, Bernardo dormiu e não teve tempo de ligar todos os aparelhos que tinha levado para fazer a gravação.
O senador Delcídio do Amaral, do PT de Mato Grosso do Sul, o chefe de gabinete dele Diogo Ferreira e o advogado Edson Ribeiro. Bernardo Cerveró, tentou usar quatro equipamentos para gravar a conversa, entre eles um chaveiro escondido em uma mochila, mas só conseguiu acionar um gravador de voz e um celular que estava dentro do bolso.
Bernardo contou aos investigadores que no meio da conversa o chefe de gabinete de Delcídio do Amaral, Diogo Ferreira, desconfiou que havia um aparelho de gravação na mochila de Bernado. Diogo chegou aumentar o volume da TV, para tentar dificultar a captação do áudio, e pediu para que a mochila fosse colocada em um armário, onde já estavam os telefones celulares de todos os que participavam da reunião.
Segundo os procuradores, esse cuidado em guardar os celulares era uma praxe nas reuniões do grupo. Com o celular escondido no bolso, Bernardo Cerveró conseguiu gravar 1h35 de negociação.
Toda a conversa gravada chegou às mãos dos investigadores no último dia 19, exatos 15 dias depois do encontro. Foi entregue ao Ministério Público pela advogada de Bernardo Cerveró.
Para a Procuradoria-geral da República, que foi quem pediu as prisões, a gravação é uma prova legal porque foi feita por uma das pessoas que fazia parte da conversa. Decisões já tomadas em outros casos pelo Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal já garantiram a legalidade deste tipo de prova. Bernardo não é investigado na Lava Jato e, segundo os procuradores, não cometeu nenhum crime ao fazer a gravação.
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