Genebra, Suíça. O zika vírus chegou a 52 países e, apenas no atual surto, pelo menos 41 países já foram afetados. Novos dados apresentados nesta sexta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que países como Laos entraram na lista de locais com transmissão local. A entidade também alerta: novas regiões e novos países serão afetados nos próximos meses.
“A distribuição geográfica do vírus tem se ampliado desde que foi detectado, pela primeira vez (no atual surto), nas Américas em 2015”, indicou a OMS em seu mais novo boletim sobre a doença. Desde 2007, a entidade conta com mais de 52 países com registros do zika. Só nas Américas, são 31 países com o vírus apenas contando desde o ano passado.
Para a OMS, a proliferação do vírus vai continuar. “O zika vai provavelmente ser transmitido e detectado em outros países dentro da área geográfica de mosquitos, especialmente o Aedes aegypti”, indicou.
Malformação. Dos 41 países com casos desde 2015, cinco deles já teriam registrado o fim do surto de zika. Sobre a microcefalia, a OMS indica que 5.900 casos suspeitos foram registrados no Brasil, entre 22 de outubro de 2015 e 27 de fevereiro de 2016, com 139 mortes. Isso se contrasta com a média de 163 casos por ano no país entre 2001 e 2014.
Desse total, a OMS estima que pesquisas sobre 1.600 casos já tenham sido concluídas. Desses, 1.046 foram rejeitados, 641 foram confirmados e 4.200 ainda continuam sob investigação.
Das 139 mortes, 31 tiveram uma relação com a malformação potencialmente causada pelo vírus, 96 casos estão sob investigação e 12 foram descartados. Para a OMS, a “prova” da relação entre o vírus e a microcefalia “ainda não existe”. Mas a entidade já declara que existe a “forte possibilidade” de uma associação.
O relatório acrescentou que foi observada uma possível relação entre a síndrome de Guillain-Barré e o zika em oito países ou territórios entre 2015 e 2016: Brasil, Suriname, Venezuela, El Salvador, Colômbia, Martinica, Porto Rico e Panamá.
Emergência. A OMS afirmou ainda que o Brasil vive a “estação alta” de proliferação do zika. A entidade convocou uma nova reunião de emergência dos especialistas internacionais para o dia 8 de março, com a possibilidade de que o alerta mundial seja incrementado.
Três pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco viajarão para Genebra para participar de uma longa reunião da OMS. O objetivo do encontro é estabelecer estratégias internacionais de ação contra as arboviroses e discutir o tratamento das complicações da microcefalia associada ao zika.
A vice-presidente do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz), Constância Ayres, e a pesquisadora visitante Celina Turchi Martelli embarcam hoje para a cidade suíça, onde ficarão uma semana. Ambas coordenam pesquisas pioneiras sobre o tema no estado.
Os pernambucanos foram convidados pela diretora-geral da OMS, Margareth Chan, que esteve no Brasil na semana passada. O evento servirá como troca de experiências entre pesquisadores de várias partes no mundo na tentativa de uniformizar o combate aos vetores da dengue, do zika e da chikungunya.
Presença
Estados. Até o momento, 22 Estados estão com circulação autóctone do zika, incluindo Goiás, Minas Gerais, Distrito Federal, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.
Parceria entre Brasil e França
Com mais de 9.000 casos de infecção por zika registrados em três territórios (Martinica, Guiana Francesa e Guadalupe) nas Américas desde dezembro de 2015, a França foi um dos primeiros países a lidar com a grande propagação do vírus, quando ele começou a circular em 2014 na Polinésia Francesa, território francês na Oceania.
Segundo o embaixador da França no Brasil, Laurent Bili, na época, um terço da população local, cerca de 270 mil habitantes, foi infectada.
Nesta semana, os governos brasileiro e francês começaram um diálogo sobre parcerias em pesquisas sobre o zika.
“Temos coisas para compartilhar porque somos um país que conhece a experiência de uma epidemia e que tem recursos de pesquisadores especializados em doenças tropicais”, disse.
Malformações congênitas são identificadas na Colômbia
Londres, Reino Unido. Uma equipe de pesquisadores encontrou na Colômbia os primeiros casos que vinculam malformações congênitas em recém-nascidos com o zika na mãe.
Segundo a revista “Nature”, investigadores da Rede Colombiana de Colaboração contra a zika (Recolzika) “diagnosticou um recém-nascido com microcefalia e a outros dois com anomalias cerebrais congênitas”. “Os três deram positivo para a presença do vírus do zika”, acrescentou o artigo, especificando que os especialistas enviaram seu estudo para uma revista britânica.
Com dezenas de milhares de infectados, a Colômbia é o segundo país com mais casos de zika depois do Brasil (1,5 milhão previstos pela OMS), mas até agora não havia registrado casos de microcefalia.
Estudo demonstra vínculo entre vírus e danos cerebrais
Paris, França. O zika vírus ataca e destrói as células cerebrais humanas em desenvolvimento no feto, revelou um estudo publicado nesta sexta. O estudo do Instituto de Engenharia Celular da Universidade Johns Hopkins é uma prova experimental de um vínculo biológico entre o vírus transmitido por um mosquito e o drástico incremento de casos de microcefalia, uma severa malformação do cérebro e do crânio em recém-nascidos. Uma pesquisa semelhante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divulgada nesta quinta, fez constatações semelhantes.
Até agora, o vínculo comprovado era apenas circunstancial, explica Guo-li Ming, professor de neurologia, que codirigiu a investigação. “Estudos em fetos e bebês com cérebro reduzido e microcefalias em zonas afetadas pelo vírus encontraram anomalias no córtex e vírus nos tecidos fetais”.
Nas experiências em laboratório, os cientistas expuseram três tipos de células humanas ao zika. O primeiro, conhecido como células progenitoras neuronais humanas (hNPCs) é crucial para o desenvolvimento do córtex, ou camada superficial do cérebro, no feto.
O dano nessas células, que se desenvolveram como neurônios maduros, parece coerente com os transtornos causados pela microcefalia. Os outros dois tipos de células eram células-mãe e neurônios. Como se previa, o vírus atacou as hNPCs. Após três dias de exposição, 90% foram infectadas e um terço delas morreu. E as células infectadas começaram a replicar cópias do vírus.
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