Uma semana de profundas reflexões
A Semana Santa, que se inicia com o Domingo de Ramos e se estende até a Páscoa, mais que simples representação histórica ou celebração religiosa, constitui-se num momento de profundas reflexões. Com efeito, os fatos que nela se revivem acabam por atualizar em cada um de nós, os sentidos de solidariedade, de fraternidade e principalmente, de justiça social.
É profundamente lamentável que, nesta época, muitos só pensem nos feriados prolongados, nas viagens planejadas, nos descansos brandos, na gastronomia variada e em tantas outras atividades estritamente prazerosas. Caracterizam-na como um período recreativo e, ainda, incentivados por um consumismo desenfreado, elegem uma nova data para o comércio faturar com ovos e coelhinhos de chocolate.
Essa indiferença demonstra que o egoísmo e o individualismo prevalecem na atualidade, provocando uma inversão de valores. Alguns passam a seguir uma trilha vulnerável às questões espirituais, mas fortemente afeita às coisas materiais, de tal sorte que somente são considerados aqueles que detêm grandes riquezas terrenas. Um quadro vergonhoso, deturpador dos verdadeiros princípios e manifestamente alienante em relação a terceiros, que diariamente sucumbem sem alcançarem as suas aspirações básicas para que possam viver dignamente.
No entanto, com sua ressurreição, Jesus inaugurou uma nova era para a humanidade, decretando a vitória da vida sobre a morte e apontando a libertação como o ideal maior de todo o indivíduo, o que nos impõe implicações éticas de nossa conduta, quer como cristãos, quer como cidadãos: a solicitude pelos pobres, migrantes e excluídos; a educação em favor da paz; a defesa dos direitos humanos; a promoção da saúde e da moradia; a luta ecológica e a formação político-cristã do povo.
Para que alcancemos tais propósitos, precisamos compreender o momento pascal como passagem do egoísmo que acumula para a partilha do amor que divide; da tristeza e do vazio existencial para a alegria de horizontes definidos; do desânimo diante das dificuldades para o estímulo de verdadeiras conquistas; da ganância que isola para o desapego e a fraternidade, e do pecado para a graça. Efetivamente, precisamos de muita coragem e determinação, pois num mundo onde o TER pode mais que o SER, as atitudes de desapego se tornam extremamente difíceis.
O Domingo de Ramos, que abre solenemente a Semana Santa, com lembrança das Palmas e da Paixão, da entrada de Jesus em Jerusalém, convida-nos a ingressarmos numa nova dimensão, mais espiritual e a qual nos fortalece para mudarmos o sórdido quadro atual. Não é mais possível convivermos com a desconsideração extrema a qual são submetidos milhões de seres humanos, atingidos por diversas formas de exclusão regional, étnica e cultural. A libertação integral do ser humano só se efetivará através de sua formação educacional, acesso à saúde, melhores condições de trabalho, salários compatíveis e respeito irrestrito à dignidade. Aproveitemos a ocasião para anunciar com ênfase o valor da vida e do amor como critério fundamental na construção de uma nova era.
João Carlos José MartinelliAdvogado, jornalista, escritor e professor universitário. É autor de vários livros individuais e participou de mais quarenta obras coletivas.
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