Para o presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil é "inaceitável" classificar os pedidos de impedimento movidos contra a presidente Dilma Rousseff como golpe. "Não é argumento válido, até porque o STF regulamentou o processo de impeachment. Se o Supremo tem uma decisão que regulamenta, não podemos dizer que seja um golpe. Não imagino que o Supremo regulamentasse um golpe", disse em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo no domingo (27/3).
"Não significa que a presidente não poderá demonstrar algo contrário a partir de amplo direito de defesa", diz Lamachia.
O advogado especializado em Direito Empresarial ressalta que o impeachment está previsto na legislação e já foi usado em outros governos. "Quando a sociedade acompanhou o pedido de impeachment em relação aos ex-presidentes Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e ao próprio Lula, não ouvimos isso. Lá atrás não era e agora é? O que mudou?"
Lamachia argumenta que vivemos um momento diferente e que é impossível comparar o período de instabilidade política e acirramento social e institucional com 1964 (Ditadura Militar) ou a 1954 (suiciíio de Getúlio Vargas). "Quando se busca questionar a própria lisura de um processo de impeachment, está se desconhecendo a Constituição. [...] Não existe a mínima possibilidade de ter retrocesso, temos instituições consolidadas, nossa democracia é forte e saberá ultrapassar este momento."
Pedido da Ordem
Sobre o pedido de impeachment que será apresentado pela OAB, o advogado explica que a decisão foi técnica e que o posicionamento ressalta que a OAB não pertence ao governo ou à oposição. "É o entendimento que nós temos, mas isso não significa que a presidente não poderá demonstrar algo contrário a partir de amplo direito de defesa no âmbito do Congresso", pondera.
Também são considerados fatos como a publicação da posse do ex-presidente Lula como ministro-chefe da Casa Civil em edição extraordinária do Diário Oficial da União. O documento foi elaborado depois de um processo de consulta. Primeiro foram consultadas todas as seccionais, que apresentaram o tema para ser votados por seus respectivos conselhos. Das 27 seções, 26 foram favoráveis. Depois, o assunto foi votado pelo conselho federal da entidade, que aprovou a apresentação do pedido por 26 votos a 2.
Duas frentes
Além do pedido que será apresentado pela Ordem, há outra solicitação, feita pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Junior. Segundo o presidente do colegiado, além de ter seu próprio, a OAB apoiará o que já está tramitando. "Vamos fazer as duas coisas. Vamos protocolar o novo processo na segunda-feira e também entregar um ofício formal da OAB com cópia da denúncia para o presidente da comissão em andamento. Caberá a ele aditar, juntar ou até desconsiderar. Nossa peça entende que as “pedaladas” são crime de responsabilidade, significa dizer que o principal argumento do que está lá em andamento, nós apoiamos."
Lamachia também faz críticas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é acusado de desviar verbas e enviá-las ao exterior na operação "lava jato". "Também me traz desconforto ver que a denúncia por crime de responsabilidade feita pela OAB contra a presidente será despachada por um presidente da Câmara sobre quem já manifestamos a posição de que deveria ser afastado imediatamente."
Conversa grampeada
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