terça-feira, 20 de outubro de 2015

Ecológico ou ideológico a preservação ambiental




Uma tragédia mais que anunciada



Talvez por ouvirmos falar tanto em maus-tratos a natureza não nos damos conta da tragédia que se avizinha. Atualmente estamos diante de uma imensa crise hídrica. Apesar de nós, nordestinos, estarmos acostumados com a seca e escassez de água a tendência é que este flagelo só aumente. Ainda criança cansei de ouvir que chegaria o dia em um copo de água custaria mais que poderíamos pagar. Meu pai, talvez meu avô tenham ouvido algo semelhante. Ainda cientes disso, nada fizemos para poupar água, preservar nossas nascentes, rios e lagos.



Inúmeras vezes escrevi, aqui mesmo, sobre a destruição destes recursos. A falta de conscientização da sociedade e a omissão das autoridades no que se refere à política de preservação dos nossos rios. Hoje, a Ilha de São Luís, outrora rica em nascentes, rios e Igarapés, não possui um rio com água limpa ou sequer aproveitável para tarefas do dia a dia. Não sobrou um. E a agressão parece não ter fim: construção sobre antigas nascentes, confinamento de margens, esgotos sendo despejados sem qualquer tratamento.
Não pensem que a situação é diferente no interior do estado. Não é. A situação dos rios maranhenses é desesperadora e o pior é que ninguém parece se preocupar  ou ligar para a situação. A mesma destruição que já cansamos de testemunhar na região metropolitana da capital se repete pelo interior, com a agravante das queimadas criminosas que se encarregam de destruir a vegetação ciliar.
Quem viaja pelo interior do estado verifica o cenário de caatinga. Por onde passa avista queimadas. Os rios, outrora perenes e caudalosos, não passam de meros cursos de água, “dando pé” em muitas partes. A cada ano que passa, aumenta o assoreamento e diminui o volume de água. Rios como o Munin, o Corda, o Peritoró, o Pindaré, e até o Itapicuru (que abastece a capital) estão deixando de ser perenes. Outro dia, fiquei desolado ao passar sobre dois rios maranhenses (Munin e Peritoró) e perceber que daria para atravessa-los a pé sem maiores dificuldades. Se a situação dos rios é essa, nem devemos falar dos Igarapés. Estes, simplesmente, desapareceram.
A incompetência, ignorância, descompromisso das autoridades com a preservação do meio ambiente tem feito o Maranhão perder uma de suas maiores riquezas: seus recursos hídricos. No mesmo embalo, suas florestas. Localizado entre o Norte e o Nordeste o Maranhão possui as melhores condições das duas regiões dentre elas recursos hídricos em abundância e solo fértil que não encharca. Estas condições atraíram milhares brasileiros de todos os cantos do país.
O descuido deste imenso patrimônio está se perdendo as vistas de todos. A consequência é o que estamos assistindo. O estado inteiro se tornando árido com sua paisagem desértica, não tardando para as comunidades serem abastecidas com carro-pipas, como noutras partes do Nordeste.
Os cínicos ou desinformados buscarão explicações que lhes atendam os interesses mais mesquinhos. Dirão que é o aquecimento global de que tanto se fala; dirão que o culpado é o “El nino”; dirão que é assim mesmo, que todo ano acontece. Os ingênuos se contentarão com estas explicações e deixarão as coisas continuarem como estão.
Infelizmente – para a desgraça de todos –, os problemas não são e não comportam soluções tão simples. A questão ambiental no nosso estado é tão urgente quanto à educação, a saúde ou a segurança pública. Urge que os poderes públicos tracem um plano conjunto de ação envolvendo os municípios e a sociedade civil, fazendo valer tanto a conscientização quanto à repressão no que se refere aos crimes ambientais.
Uma das causas do meio ambiente está tão maltratado (e piorando), é que sempre relegaram o assunto a uma posição secundária, sendo “tocado” de qualquer maneira, com verbas minguadas. Isso quando não serviram para o enriquecimento de alguns picaretas encarregados pelos governantes da política ambiental do estado. O Maranhão, na verdade, repete o que foi feito país que não apenas descuidou da questão ambiental quando não fez pior ao dar-lhe tratamento ideologizado como se fosse incompatível preservar o meio ambiente e desenvolver o país. Mas esse é um assunto para outro texto.
O Estado do Maranhão precisa se investir da responsabilidade de não permitir mais o descaso com o meio ambiente. Não se trata de uma questão de cunho meramente ecológico ou ideológico. A preservação ambiental deve se dar por razões também econômicas. Trata-se uma riqueza que a sociedade está perdendo e que as futuras gerações não alcançarão. Neste momento o estado inteiro arde por conta dos incêndios criminosos, por outros provocados pelo manejo inadequado. Ao mesmo tempo a seca começa a vitimar a agropecuária e as comunidades.
A atenção a estas questões não podem esperar pelo amanhã. Antes, deveríamos tratar delas desde ontem, desde sempre. Estamos diante de uma tragédia anunciada é nosso dever tentar impedir que ocorra.
Abdon Marinho Advogado

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