Crise?! Que crise?
Não precisa ser doutor. Qualquer pessoa, até a mais simplória, sabe que o primeiro passo para se tratar uma enfermidade é diagnosticá-la, a partir daí ministrar os remédios corretos.
Não se pode, por exemplo, ministrar a quem está resfriado o mesmo medicamento daquele que está com dor de barriga. Antes, porém, de ministrar o remédio é preciso que se saiba que a pessoa está resfriada e não com dor de barriga.
Em que pese a gravidade das crises que passa o país (são várias), o governo, seus aliados e asseclas, insistem na cantilena que só existe uma crise: a política.
Esta crise política é provocada pela oposição que não se conforma com a derrota e que se aliou aos setores mais atrasados do país, da mídia conservadora, dos entreguistas, etc.
Vão além, insistem na tolice que, superada a crise política, os demais problemas brasileiros deixarão de existir. Simples assim, num passe de mágica.
Ora, o país não sairá deste atoleiro se o governo, tal qual D. Quixote, enxergar como inimigos os moinhos de ventos; se atribuir aos adversários políticos a responsabilidade pelos problemas da nação estando no poder há treze anos; se continuarem a se eximirem das suas responsabilidades; e, continuarem a identificar câncer como sendo uma gripe.
Como o governo pode insistir em ignorar a crise econômica que assola o país se a mesma é testemunhada e sentida por todos? Se as famílias a cada dia vêm o salário minguar e as contas aumentarem? Sobrar mês e faltar salário? Se o desemprego se faz presente em quase todos os lares? Se os pais estão tendo de escolher entre a educação e o plano de saúde dos filhos?
Façamos um breve experimento. Puxe pela memória o que ouviu do noticiário econômico nos últimos dias. Você deve ter se recordado de algo assim: taxa de juros a mais elevada dos últimos doze anos; dólar, desde 2002 que não alcançava a atual cotação; desemprego a maior taxa dos últimos tempos; inflação, a maior desde a criação do Plano Real; crescimento do país, o governo reduziu a previsão de crescimento mais uma vez, agora cresceremos para – 3% (menos três por cento). Certamente, se você não se recordou de algo assim, recordou-se de algo bem parecido.
Então, não há crise econômica?
Pior que isso, é que, ainda quando reconhecem a existência da crise, veem com a ladainha que a mesma é mundial, que todas as nações estão em crise e que no Brasil a crise é até bem menor que noutros países; que é a famosa crise do sistema capitalista.
São afirmações mentirosas. Faltam com a verdade quando afirmam isso. A média de crescimento mundial é bem maior que a nossa; a média do crescimento da América Latina e da América do Sul é melhor que a nossa; os demais blocos econômicos apresentam melhores resultados que os nossos.
Acredito que só estejamos melhores que as nações conflagradas pelas guerras e pelas nações que nos espelhamos como modelo, como a Venezuela e a Bolívia.
Vejam que o governo que nega a crise econômica já informou que fechará as contas deste ano com um deficit de 117 bilhões de reais. Conhecendo-o como o conhecemos, certamente esse número será superior. Os economistas do governo continuam viciados na tal da contabilidade criativa, na tal das pedaladas.
O país está em crise e este governo e o que o antecedeu são os culpados.
A Era petista passou a incentivar o consumo ao invés da produção. O parque industrial brasileiro está sucateado. Noutra quadra temos shopping center em abundância, vendendo produtos, na maioria das vezes, a produção das nações que incentivaram o fortalecimento de suas industrias, que destravaram seu crescimento.
O resultado é que nossas fábricas estão ultrapassadas, estão falindo, estão produzindo muito pouco. O pouco que produzem não tem capacidade de competir com outras industrias ao redor do mundo.
A consequência do modelo equivocado é a demissão de milhares de trabalhadores, só este ano já foram fechados quase um milhão de postos de trabalhos. O agravamento da crise – não é possível prever quando a mesma irá arrefecer – causará muito mais desemprego.
Crises políticas por si não afetam a economia como estamos vendo acontecer no Brasil. Crises políticas se resolvem com a substituição dos governantes, com eleições. E isso não deveria ser estranho a ninguém.
Assim, não é compreensível se falar em crise eminentemente política diante de tal realidade, como os país de família vivendo na incerteza sem saberem se estarão empregados amanhã, se terão como garantir o sustento de suas famílias; com os jovens olhando para os lados sem quaisquer perspectivas – pesquisa recente apontaram que o Brasil é um dos países onde os jovens menos acreditam num futuro melhor.
Não é demais lembrar que junto com o desemprego vêm o aumento da violência, da depressão, da prostituição, do uso de drogas, de suicídios e tantos outros males.
Todos os países que experimentaram a crise econômica severa vivenciaram – em maior ou menor graus –, as situações narradas acima, basta ver o que aconteceu na Argentina, na Espanha, na Venezuela, apenas para ficar nestes poucos exemplos.
O governo brasileiro, infelizmente, continua escravo de uma cegueira seletiva – que o aprisiona e faz continuar com a velha lengalenga de sempre –, que não nos leva a lugar algum e não resolve o problema de ninguém, sobretudo, dos que mais precisam.
Abdon Marinho é advogado.
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