Maranhão da Gente
O modelo de desenvolvimento baseado em grandes projetos não funcionou no Maranhão, vide o Programa Grande Carajás. Nascido no seio da ditadura resultou em êxodo rural, periferização, cadeia produtiva restrita, baixo valor agregado, nada de impostos, nos deixando a ver navios. A ideia de uma Refinaria no Maranhão aportou a mesma fantasia quando da instalação da Alumar nos idos de 1980. A Refinaria é o segundo golpe do antigo regime nessa seara, verifique-se quem se beneficiou dos recursos aplicados e aguarde-se a conclusão da Operação Lava Jato da Polícia Federal.
A elite política tem enorme dificuldade em aprender com o passado. Exigir que o Governo do Estado se mobilize em prol da Refinaria, a meu ver, significa equívoco e desperdício de esforços, mentalidade retrógrada. Até os maiores produtores de petróleo sabem que isso acabará, tanto que possuem grandes fundos de investimento dedicados a serviços e tecnologia. A dúvida, hoje tênue, é saber se o petróleo acabará conosco primeiro por meio das guerras, poluição e sectarismo. Toda uma cultura material e alimentar é sustentada nos derivados do petróleo (carros, asfalto, plásticos e embalagens para alimentos), desafiando a ciência na busca de alternativas viáveis, sustentáveis e substitutivas.
O caminho para a construção de um novo modelo de desenvolvimento do Maranhão se assenta nas energias renováveis (eólica, solar, de ondas e biomassa), na economia do conhecimento e na agricultura de orgânicos. O Estado do Maranhão pode se tornar referência nessas áreas. Aqui sim concordo em mobilizar o Governo, empresariado, políticos e sociedade em frentes cívicas para a elaboração e implementação de projetos, captação de recursos e atração de investimentos, fomento a pesquisa e inovação.
Ciência, tecnologia e inovação devem ser os eixos direcionadores desse novo modelo, o que exige, por um lado, investimento vultoso e obsessivo, por outro, soluções inteligentes e sem custos. Esses eixos articulariam programas estaduais para apoio e fomento ao novo modelo, combinando o fortalecimento do mercado interno e uma inserção altiva no mercado nacional e internacional. Para tanto, redes locais, nacionais e internacionais de cooperação acadêmica são indispensáveis, bem como, a formação de pesquisadores com inserção em arranjos público-privados de produção do conhecimento e inovação no mundo produtivo.
O investimento vultoso e obsessivo em um Estado endividado e oprimido pelas disputas em volta do fundo público implicará em mudanças legais para a criação de fundo específico com esse objetivo, bem como, o estímulo à criação de fundos patrimoniais (endowment) no âmbito das instituições de ensino e pesquisa locais, todos protegidos do contingenciamento orçamentário. Estamos atrasados, mas creio que o Maranhão dará passos largos em pouco tempo, especialmente com as perspectivas abertas pela política estadual de ciência, tecnologia e inovação do novo governo.
As experiências mais exitosas de fundos patrimoniais ou endowment funds estão nos Estados Unidos. Os ativos dos fundos da Harvard University, Yale University, Princeton University, dentre outras, somam dezenas de bilhões de dólares cada um. Formados por doações de empresários, ex-alunos, heranças e aplicações no mercado, esses fundos garantem estabilidade e continuidade aos investimentos em pesquisa e infraestrutura dessas instituições.
A economia do conhecimento demarcada pelas startups, parques tecnológicos e indústria aeroespacial são a nova fronteira da economia, elevando o mundo produtivo a outro patamar, modificando inclusive as relações de trabalho. A experiência de Startup do Chile é um dos programas internacionais mais exitosos, garantindo apoio financeiro, técnico e relacional para empreendedores locais e estrangeiros que desejam desenvolver ideias, produtos, processos e negócios inovadores, mobiliza mais de 1 bilhão de dólares no país.
O potencial da agricultura de orgânicos no Maranhão, de base familiar ou a partir de cooperativas agrícolas é muito grande. O campesino maranhense com financiamento, assistência técnica permanente e acesso aos mercados para comercialização, certamente, alcançará no médio prazo, prosperidade econômica e maior qualidade de vida. Esse mercado movimenta milhões de reais no Brasil e bilhões de dólares no mundo, os prejuízos e as doenças disseminadas pela produção de alimentos com uso extensivo de fertilizantes e agrotóxicos também é um caminho que acabará.Talvez conosco primeiro, caso não consigamos empreender esse novo modelo de desenvolvimento.
O novo modelo de desenvolvimento em construção deve incorporar e potencializar esses elementos, mais ainda, somar inteligências e forças para que as oportunidades gestadas possam efetivamente ser de todos e cada um.
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