quinta-feira, 19 de março de 2015

Renúncia do Ministro da Educação Cid Gomes(Ceará)




57 milhões de estudantes em busca de um ministro



por Andrea Ramal do G1


Cid Gomes ficou menos de três meses no comando do Ministério da Educação, mas o fato é que a educação no país já está sem rumo há algum tempo. O próximo ministro será o quinto, em cinco anos, num cargo que vem cumprindo um papel mais político do que estratégico. Isso é muito grave, dada a importância dessa área para o desenvolvimento do país.
O novo ministro encontrará enormes desafios. O primeiro deles é reduzir as desigualdades educacionais, melhorando a qualidade das escolas públicas. Hoje, enquanto alguns poucos alunos se destacam, a nota média não chega a 4,0.
É um desafio de gestão. Requer estabelecer um currículo mínimo comum, definir metas de desempenho com as instituições, alinhar práticas de estados e municípios, fazer diagnósticos para detectar deficiências e implementar planos de ação específicos, alocando os recursos da maneira mais eficaz.
O segundo grande desafio está no sistema educacional. Começa na educação infantil, onde faltam vagas e educadores bem preparados, justamente numa fase em que se desenvolvem aspectos cognitivos e sócio-emocionais decisivos para a vida escolar.
A questão se agrava no ensino fundamental. Nessa etapa, uma parte significativa dos alunos não está desenvolvendo hábitos de leitura e estudo, nem competências básicas ligadas a português, matemática e ciências. A indisciplina vem aumentando e não há como ignorar problemas relacionados a drogas e violência, inclusive contra professores.
A corda arrebenta no ensino médio, com jovens em idade acima da série, que acumulam histórico de reprovações. Muitos chegam a este segmento quase analfabetos funcionais – não é à toa que o último Enem registrou meio milhão de notas zero e apenas 256 notas máximas na redação.
Nossa escola é do século passado. Há que valorizar e capacitar os docentes, garantir infraestrutura e recursos compatíveis com o aluno do século XXI, da geração Z, da interatividade. Renovar as formas de ensinar e aprender. Escola em tempo integral, do jeito que está, é absurdo: seria fazer mais do mesmo. Há que reforçar também a importância da contribuição das famílias. Sem que a família faça a sua parte em casa, as melhores políticas públicas fracassam.
O terceiro desafio é ligado ao ensino superior. Primeiro, no estímulo à pesquisa e inovação, que vêm sendo tratados de forma secundária. Além disso, o governo abriu as portas das faculdades para muitos estudantes sem base acadêmica, e não é toda instituição que faz trabalhos de suplência para ajudar o aluno a avançar.
Nesse ponto, a visão de Cid Gomes era temerária, pois fazer Enem on-line “qualquer dia, qualquer hora” não resolve: ao contrário, só agrava os riscos de deixar passar alunos despreparados. Essa bomba-relógio pode estourar no mercado de trabalho, com profissionais pouco qualificados, colocando em risco a capacidade produtiva e o crescimento do país.
Por tudo isso, a educação se tornou o ministério mais decisivo do momento. Tratá-lo de forma responsável é condição essencial para garantir o avanço do país nas próximas décadas.

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