Renan Calheiros diz que se governo não se preparar para impacto da medida nas contas públicas do país até esta data, votação ocorrerá mesmo assim
Calheiros: Congresso não abre mão da votação da matéria pelo risco de deixar estados e municípios “com o pires na mão”
Brasília – Apesar da surpresa que foi para o Executivo e a base aliada a votação do projeto que trata da alteração do indexador das dívidas dos estados e municípios na Câmara dos Deputados, na última semana, e da comemoração, por parte da oposição e de parlamentares do PMDB, pela aprovação da matéria, o texto ainda precisa ser apreciado pelo Senado Federal. A votação está prevista para terça-feira (31), mas temendo adiamentos, os senadores aprovaram um requerimento de urgência para o projeto de lei.
O Palácio do Planalto tinha interesse em protelar a tramitação da matéria ao máximo, por conta do impacto que terá na economia, num período de medidas de ajuste fiscal. O intuito era ganhar tempo para negociar um novo formato ao teor dessa regulamentação. Mas o Executivo terminou tendo que amargar a derrota por conta de uma manobra de última hora do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que a incluiu na pauta do plenário.
O Projeto de Lei Complementar (PLC 15/2015), que tem como autor o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), estabelece que a renegociação das dívidas com a União independe de regulamentação. O texto dá à União um prazo de 30 dias para assinar com os estados e municípios os aditivos contratuais – a partir da data da manifestação do devedor, protocolada no Ministério da Fazenda.
O argumento para a aprovação do PLC foi a elaboração de uma pauta expressa entre Cunha e o presidente do Senado, senador Renan Caheiros (PMDB-AL) com o objetivo de acelerar a votação das matérias.
Reivindicação antiga
A mudança no indexador das dívidas era uma reivindicação antiga de governadores e prefeitos, que apontavam uma elevação de mais de 20% dos valores ao ano. A lei sancionada no ano passado troca o indexador dessas dívidas, o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI), pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Além disso, reduz os juros, dos atuais 6% a 9% ao ano para 4% ao ano.
O projeto ainda estabelece um limitador dos encargos, a taxa básica de juros (Selic). Isso significa que, quando a fórmula IPCA mais 4% ao ano for maior que a variação acumulada da taxa Selic, a própria taxa básica de juros será o indexador. O objetivo é evitar, justamente, o que já aconteceu: que a soma dos encargos fique muito acima da taxa de juros e que os entes acabem pagando à União juros mais altos do que os vigentes no mercado.
De acordo com o senador Renan Calheiros, a votação ficou para terça-feira para dar um pouco de tempo ao governo para “construir uma solução”, de forma a resolver o impacto da nova lei dentro das medidas de ajuste fiscal. Mas Calheiros deixou claro que o Congresso não abre mão da votação da matéria, sob o risco de deixar estados e municípios “com o pires na mão”.
Prejuízos e desgaste
“Se até lá o governo construir uma solução dentro do que deseja com o ajuste, melhor. Se o governo não construir, nós vamos votar e aprovar no Senado a matéria na terça-feira", enfatizou Calheiros. Um dos motivos da derrota do Executivo em relação ao PLC foi o fato de que vários parlamentares da base aliada também apoiam a aprovação da matéria. Eles temem prejuízos e desgaste eleitoral junto a prefeitos e governadores de suas bases.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), contudo, minimizou a questão. Costa (PE) afirmou que o governo federal não enfrentará problemas de caixa ao aplicar novos indexadores às dívidas, como pensam o PMDB e a oposição. E destacou que estes indexadores acarretarão em um volume de recursos possível de ser absorvido pela União, "sem prejuízo do ajuste fiscal".
De acordo com o líder do PT, não haverá aumento de endividamento em decorrência da mudança do indexador mais favorável. “No máximo, o que podemos dizer é que a União arrecadará menos. Mas isso não significa contração de nova dívida”, diz.
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