ANTÔNIO GALLAS PIMENTEL
Natural de Tutóia (MA), professor universitário, escritor, poeta e jornalista. Membro do Instituto Histórico e Geográfico e Genealógico de Parnaíba e da Academia de Ciências Artes e Letras de Tutóia. Autor dos livros “Fragmentos”, “Meu Sobrinho Prodamor e outros casos”, “Um opúsculo com Eulália” e “La Belle d´jour”. Natural de Tutóia – MA. Veio muito cedo residir em Parnaíba. Exerceu funções públicas. Escritor, radialista, jornalista, colunista. Colabora com vários jornais da cidade e do estado do Piauí, com seus artigos informativos. Livros publicados: “Lição de Vida – Pedro Alelaf”, “Parnaíba tem memória”, “Alta sociedade”, entre outros.
TÚNEL DO TEMPO: A coluna Gente, Fatos e História no Jornal Folha do Delta de Tutóia, trouxe para evidenciar pessoas, fatos e acontecimentos do nosso município que ainda não foram citados nos livros anteriormente escritos, ou, se os foram, de forma muito sucinta. Assim, como não poderia deixar de ser, um dos capítulos verso sobre um barra-cordense, tutoiense de coração e também por força de lei do legislativo municipal, que muito amou e trabalhou por este município, talvez muito mais do que alguns que aqui nasceram. Estou me referindo ao Monsenhor Hélio Maranhão já falecido deixando um legado extraordinário na história sacerdotal, na política, nas ações controvérsias, nas suas lutas, no seu trabalho e na intelectualidade maranhense.
Diz o jornalista que costuma dizer aos seus alunos que para se saber bem a história de Tutóia é preciso conhecer também a história das pessoas que pelos seus feitos, pela sua obra em favor da cidade e da sua população tornaram-se patrimônio histórico cultural e representam valores morais de nossa terra, que tenham aqui nascidos ou que sejam oriundos de outras plagas.
Dentre essas pessoas está Hélio Maranhão, o vigário, o pastor, o poeta, o intelectual, o grande orador sacro, o militar, o destemido, o lutador, e ouso até em dizer, o santo benfeitor da educação em Tutóia.
O HOMEM ALÉM DO SEU TEMPO
Hélio Maranhão chegou a Tutóia no dia 13 de Maio de 1964, logo no início da revolução militar, o chamado golpe de 1964, a famosa ditadura que governou o país por três décadas. Sacerdote jovem tinha apenas 34 anos. Inteligente, brilhante com ideias novas na cabeça, teólogo, o primeiro padre maranhense formado e ordenado em Roma. Por causa de suas ideias de renovação foi considerado comunista. Em abril de 1964 foi denunciado como subversivo. E para evitar um processo de subversão contra ele Dom Delgado, Arcebispo do Maranhão e Dom Fragoso, Bispo de Crateús - CE o mandaram para Tutóia, considerada na época a Sibéria do Maranhão. Foi então que Tutóia recebeu este presente de Deus. Estava nascendo a Teologia da Libertação, as Comunidades Eclesiais de Base no Maranhão, A Organização Social João Tavares, o Ginásio e mais tarde Escola Normal Ginasial Almeida Galhardo, o Hospital Zuza Neves e muitos outros benefícios para o município.
Nascido em 27 de maio de 1930 cursou Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma onde foi ordenado padre em dezembro de 1956 em solenidade ocorrida na Basílica de São João de Latrão, pelo Cardeal Tràglia – o Cardeal Vigário de S. Santidade, o Papa Pio XII. Por ter sido o primeiro padre maranhense formado e ordenado em Roma chegou a Tutóia com novas ideias na cabeça. Ideias de modernização. Por isso, queria em Tutóia uma igreja evangelizadora, acolhedora do povo de Deus, indiferente de status social, raça ou cor. Foi então que criou as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs e junto com os pregadores populares levou a palavra de Deus por todo o município. Fez uma igreja mais alegre colocando uma banda de música para tocar e cantar os hinos durante a missa.
O padre Hélio Maranhão criou um impacto na sociedade local e dividiu opiniões quando convidou para ter acesso livre na casa de Deus as prostitutas que ele as denominou de “madalenas”. Para uma sociedade até então preconceituosa e conservadora, assistir a missa ao lado de uma “rapariga” ou “quenga de cabaré” como elas eram chamadas naquela época, seria uma humilhação muito grande. Para muitos era uma falta de respeito.
Antes do Padre Hélio Chegar a Tutóia
Em Tutóia não existiam escolas com curso ginasial. As escolas existentes eram o Grupo Escolar Casimiro de Abreu e a Escola Marcílio Dias que pertencia ao Sindicato dos Estivadores e Arrumadores. O Instituto Paulino Neves, da professora Zelinda Neves Miranda, já havia encerrado suas atividades, fechado suas portas, logo depois do falecimento de sua diretora, a professora Ana Maria Neves, filha de dona Zelinda e neta do coronel Paulino Neves, fundador da cidade. . Eu estudava no Grupo Escolar Casimiro de Abreu. Naquela época, só podíamos cursar até o quinto ano do primário. E ali muitos encerraram seus estudos porque não se tinha um ginásio ou outro curso equivalente para que se pudesse prosseguir nos estudos. Quantas pessoas inteligentes, colegas nossos, pararam de estudar ali mesmo. Os mais abastados colocavam seus filhos para estudar na capital, em Parnaíba, Teresina no Piauí ou em outras cidades. Não havia estradas. A comunicação com outras cidades, Parnaíba no Piauí, por exemplo, era feito via marítimo-fluvial através de lanchas, rebocadores, barcas, barcos e canoas. Para a capital, São Luís, por via aérea, pelos aviões mono e bimotores das empresas Certa Táxi Aéreo, Cobra Táxi Aéreo, Aliança Táxi Aéreo, e outras empresas que não me vêm à memória no momento. E ainda tinha o missionário Robert Marvin (um americano da igreja Evangélica Presbiteriana) que de quando em vez auxiliava aqui em Tutóia. O bom era que tínhamos avião todos os dias. Mais de um por dia. Às vezes pela manhã e a tarde. E o campo de pouso de Tutóia era movimentado. Hoje, nem campo de pouso temos mais...
A CRIAÇÃO DO GINÁSIO ALMEIDA GALHARDO
Monsenhor Hélio Maranhão sempre foi um lutador, um futurista. Além de evangelizador tinha também uma grande preocupação com a juventude de Tutóia, ociosa e carente do saber, da educação. E foi aí quando aconteceu um milagre: um milagre da multiplicação dos pães. Não o da multiplicação dos pães retratado no evangelho de São Marcos no Capítulo 6 versículos 34 a 44. Mas o da multiplicação dos pães do saber, dos pães da educação, que não alimentam o corpo, mas alimenta a alma, o intelecto e torna o cidadão mais digno, mais respeitado...
A criação do Ginásio e Escola Normal Almeida Galhardo foi esse milagre. A partir daí muitas pessoas, muitos jovens que não tiveram a oportunidade de estudar fora de Tutóia, terminaram aqui mesmo o seu curso ginasial ou curso normal e continuam até hoje como professores alimentando nossos filhos, nossos netos com os pães do saber, com os pães da educação. São muitos os professores e professoras que se formaram no Almeida Galhardo, escola que homenageia um poeta tutoiense até então desconhecido por muitos. Fruto da dedicação, do amor e do trabalho de Hélio Maranhão por Tutóia.
Não é possível se enumerar em uma pequena coluna de jornal todos os feitos do monsenhor Hélio Maranhão durante o período em que foi responsável pela paróquia de Tutóia, pois o mesmo continuou trabalhando por nosso município mesmo depois de ter deixado o cargo, tanto é que em 25 de novembro de 2012 fundou a ACALT – a academia de Ciências Artes e Letras de Tutóia com o objetivo de cultivar e promover as ciências, as artes e as letras e resgatar a história, a cultura e as tradições de Tutóia. Fundou também uma escola de datilografia e a Salina Povo de Deus em Porto de Areia.
Como responsável pela paróquia de Tutóia permaneceu até setembro de 1989, mesmo assim nunca se afastou do nosso município. Por tudo que monsenhor Hélio fez por Tutóia só nos resta dizer Deo Gratias e pelo seu falecimento Requiescat in Pace.
NOTA DO AUTOR: este texto foi publicado no jornal impresso "Folha do Delta" na edição de nº 01 referente a Outubro/Novembro de 2015. Se ainda estivesse vivo, o Monsenhor Hélio estaria completando hoje 93 anos de existência. Todavia, por tudo que ele fez pela educação, pela cultura e pelo engrandecimento da nossa terra, ele continua vivo em nossas lembranças, em nossos corações. Faleceu em São Luis em 09 de novembro de 2015 e foi alvo de muitas homenagens post-mortem . Religiosos, militares, intelectuais, amigos, muitos foram os que deixaram escritos nos blogs nos jornais falando a respeito de Hélio Maranhão. Era membro da Academia Maranhense de Letras.
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