segunda-feira, 7 de abril de 2014

INVESTIGAÇÃO: Empresário de futebol liderava tráfico no Porto de Santos

POLÍCIA FEDERAL




Globo.com





Investigações da Polícia Federal apontam que o empresário de futebol Ângelo Marcos Canuto da Silva é suspeito de comandar uma quadrilha que exportava cocaína pelo Porto de Santos, em São Paulo. No último sábado, o site de VEJA detalhou a megaoperação da PF que prendeu Canuto e seus comparsas – ele teve a prisão provisória decretada pela Justiça.
Sócio da Plus Sports & Marketing, ele se apresenta como gestor de carreiras esportivas e diz ser credenciado como agente da Fifa. Canuto aparece nas redes sociais em fotos ao lado de jogadores de clubes da elite brasileira, como Corinthians, Flamengo e Palmeiras. Dois sócios de Canuto também são apontados pela PF como integrantes de uma quadrilha que vendia cocaína para a Espanha. Em telefonemas e trocas de mensagens interceptadas pela polícia, o bando usava nomes de mulheres para tentar despistar os investigadores – Canuto, por exemplo, se passava por "Juliana".
Ex-presidiário e ex-policial militar da Tropa de Choque, Canuto é sócio de mais duas empresas, de acordo com dados da Junta Comercial de São Paulo: a Quality Peças, fornecedora de acessórios para carros, motos, ônibus e caminhões, e a Stillos Express, locadora de automóveis e transportadora de cargas de risco. A PF suspeita que ele usasse as empresas para lavagem de dinheiro.
Relatórios do setor de inteligência da PF em Santos apontam que Canuto tinha "grande controle" da segurança na zona portuária. Ele era o elo entre os traficantes exportadores do interior paulista e os "embarcadores de pó". Fazia contatos com trabalhadores do porto para encontrar os navios e as rotas que transportariam a cocaína, de acordo com a demanda dos traficantes do interior do Estado. Também ajudava a escolher armazéns usados para colocar a droga dentro dos contêineres – os recintos especiais de exportação (redex). 
Os seis agentes do Grupo de Análise da PF descobriram a função exata desempenhada por Canuto e seus comparsas ao apreenderem 109,6 quilos de cocaína embarcados num navio, em 30 outubro do ano passado. A embarcação saiu de Santos e deveria aportar com a droga em Valência, na Espanha, mas foi interceptada no Porto do Rio de Janeiro.
 
Nos diálogos gravados pela polícia, o navio era apelidado de "táxi"; a cocaína, de "passageiro"; e o contêiner, de "lata". Depois que a data de saída foi acertada e a droga embarcada, Canuto ficou de enviar aos comparsas um arquivo com fotos da droga escondida e do contêiner onde as malas estavam.
 
Um dos comparsas, apelidado de "Timão", ficou encarregado de levar o pen drive e a guia de saída do navio – com nome do exportador, destino, data e hora. Porém, a Polícia Rodoviária abordou e revistou o traficante na estrada. Com os dados do contêiner e fotos da droga, a PF interceptou o navio no porto do Rio e apreendeu as malas.
 
Os "donos" da cocaína perderam 1,5 milhão de reais, de acordo com as investigações. Mas Canuto cobrou o pagamento do seu "time", que receberia 40.000 dólares e 30.000 reais: "Você sabe como é, saiu pagou", disse Canuto a Antonio Carlos Rodrigues, traficante exportador de cocaína apelidado de "Valeska". Ao cobrar novamente o pagamento, Canuto deu detalhes de como o esquema funcionava: "O pátio, o segurança, o raio X é (sic) tudo pago".
 
Os investigadores da PF descobriram que, em média, as quadrilhas exportadoras pagavam aos traficantes do porto, que embarcavam a droga, de 1.500 a 2.000 dólares por quilo de cocaína despachada – sem ter a garantia que a droga chegaria às mãos do traficante europeu. Em um ano, os criminosos perderam 3,7 toneladas apreendidas pela PF e a Receita Federal.
 
O esquema da quadrilha de Canuto contava com o auxílio de Adelson Silva dos Santos, que trabalhava no departamento comercial de uma empresa que realiza cruzeiros marítimos. Ele foi preso também foi preso pela PF. Segundo policiais, Santos trabalhava há cerca de doze anos no porto e orientava traficantes a encontrar os navios e os armazéns de contêineres em que a droga poderia ser ocultada – a cocaína era procedente da Colômbia e da Bolívia e entrava no Brasil pelo Paraguai. A PF não encontrou indícios de que as empresas e os donos dos navios, pátios ou redex participassem do esquema de tráfico.

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